Negócios do Esporte

A saída do BB pode ser a melhor solução para o vôlei

Erich Beting

A crise estourou. O relatório da Controladoria Geral da União apontando falhas na gestão da Confederação Brasileira de Vôlei causou de vez um problema para a entidade. Agora, o Banco do Brasil alega que é preciso ''limpar'' o que seria o modus operandi da CBV para que volte a pagar os milhões que deposita mensalmente na entidade.

Talvez a saída do BB seja o momento de ruptura que o vôlei precisava para depender menos da estatal e, mais do que isso, deixar de viver o sufoco que passa por conta da mão de ferro que o banco tem sobre os demais contratos de patrocínio do vôlei.

Como, a cada ano, o BB se tornou mais atuante dentro do vôlei, a CBV praticamente não tem direito a fazer quase nada sem pedir o aval do banco. Até mesmo o uniforme do time brasileiro quem decide e aprova é o patrocinador.

No passado, quando a verba era escassa no esporte e só havia chance de conseguir dinheiro das estatais, era possível aceitar uma ingerência tão grande de quem pagava boa parte da conta. Hoje, num mercado em que o vôlei é o objeto de desejo das empresas, já que é quase certeza de que terá quatro pódios nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o BB mais atrapalha do que ajuda.

Na Superliga, a força do banco em determinar placas de publicidade e até mesmo em usar a imagem dos jogadores na seleção foram elementos importantes para que algumas marcas decidissem frear investimentos e deixar a modalidade.

Na CBV, os contratos com Nivea, GOL e Olympikus só não são mais vantajosos pelos limites que o próprio BB impõe para continuar pagando o que paga pelo patrocínio.

O vôlei, ao lado do futebol e do judô, talvez seja uma das poucas modalidades no país que consiga atrair o interesse do capital privado para investimentos independentemente do cenário pré-Olimpíadas.

O momento é grave para a CBV. Mas é possível fazer, do limão, uma boa limonada. O BB não precisa, hoje, ter a mesma força e peso de 23 anos atrás, quando colocou a modalidade no colo e ajudou-a a começar a andar. É possível encontrar mais parceiros que invistam até mais dinheiro e tornem mais duradouro ainda o sucesso do vôlei no cenário mundial.

Para o banco, a crise pode ser um bom caminho para encerrar a parceria. Com tanto tempo de patrocínio, não é preciso mais investir um centavo para ter a marca lembrada e associada ao sucesso da modalidade. Pelo contrário. É até melhor buscar outros públicos e outros atributos com quem se associar. Se não quiser perder o bonde das Olimpíadas, que o BB faça uma reavaliação dos investimentos, reduza o quanto paga ao vôlei e abra espaço para o esporte poder oferecer mais a outros parceiros.

A crise no vôlei pode ser um bom divisor de águas para o esporte. Ela pode representar o início de uma era profissional de fato na gestão do marketing da confederação. Resta saber se há vontade para se promover um choque tão grande assim.