Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2016

Ponto final
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Erich Beting

Era janeiro de 2009 quando o telefone tocou e o Murilo Garavello, editor de esporte do UOL, me fez uma proposta indecorosa. Estrear um blog sobre negócios do esporte. O portal que já havia abraçado, quatro anos antes, o projeto de ter o primeiro site de conteúdo livre sobre negócios do esporte no Brasil agora me oferecia uma vitrine ainda maior para aquele desafio assumido em abril de 2005, quando criamos o projeto da Máquina do Esporte.

A ideia era transformar o que antes era demonizado pelo jornalismo esportivo em notícia. Falar de quem colocava dinheiro no esporte e transformava cada vez mais a cara do que sempre foi nossa paixão de infância.

Em 2005, quando fui conversar com o então editor do UOL Esporte Alexandre Gimenez sobre o projeto de o site estar ancorado no UOL, a única pergunta foi: “não vai parecer release, né?”. Naquela época, ainda não se falava sobre os negócios do esporte. Ainda era blasfêmia dizer o nome do patrocinador de um time, de um estádio, de falar sobre o que a marca queria fazer a partir de um investimento milionário na camisa de um time, num clube de vôlei, num evento…

Era, no jargão jornalístico, produzir um “release”, ou fazer o trabalho da assessoria de imprensa.

O voto de confiança e a ousadia do UOL em abraçar o projeto ajudaram, e muito, a alimentar a indústria do esporte no Brasil. Foi a visibilidade que o UOL deu para a Máquina que fez chegar aos torcedores comuns temas que antes eram restritos a um embrião do que pode se chamar de indústria esportiva no Brasil.

Foram quase quatro anos de Máquina do Esporte como parceiro do UOL para o portal reforçar o pioneirismo na internet brasileira e dar espaço não apenas para o noticiário de negócios do esporte, mas ampliar isso tendo um colunista sobre o tema.

Em janeiro de 2009, estávamos já em outro patamar. A Copa de 2014 seria no Brasil, havia alguma chance de o Rio ser eleito sede das Olimpíadas de 2016, a economia do país caminhava bem, as empresas investiam o que devia – e muito do que não devia – no esporte.

O blog foi um empurrão gigantesco. Para a minha carreira, para o meu negócio (naquele mesmo começo de 2009 também me tornei o único sócio da Máquina) e, numa escala maior, para a indústria do esporte no Brasil.

O começo do blog foi de ajuste. Entender o que o pessoal precisava ler, saber de que forma abordar temas espinhosos, lidar com a pressão de escrever sobre um negócio onde o torcedor só vê paixão. Depois que a coisa engrenou, todos ganhamos, blogueiro, UOL e indústria.

No meio disso também teve espaço para ser pioneiro em outras áreas dentro do UOL. Entrei de cabeça na ideia de ser o primeiro comentarista do Placar UOL, durante as Olimpíadas de 2012, já numa visão clara do portal de que a primeira tela passaria a ser o celular. Depois, vieram os programas em vídeo, os amendoins estrelados, os comentários de rodada de Brasileirão, Champions, Copa do Mundo…

No blog, foram milhares de textos (quem me conhece sabe que não sou metódico para contar com quantos caracteres enchi vossas paciências), incontáveis dores de cabeça por peitar verdades absolutas de um mercado ainda incipiente, várias DRs com patrocinadores e dirigentes que se sentiam ofendidos por colocar o dedo na ferida de uma ação mal planejada ou mal executada. Sem contar as zilhões de mensagens ofensivas de torcedores indignados por eu criticar suas paixões. Li todas, respondi a pouquíssimas, porque consigo entender a revolta do torcedor, afinal ainda hoje sou um.

Agora, porém, é chegada a hora de colocar um ponto final no blog por aqui. Quase sete anos depois de ter começado. Os 11 anos que se passaram desde a criação da Máquina do Esporte me transformaram muito mais num executivo do que num jornalista. Vou usar as Paralimpíadas do Rio para encerrar meu ciclo de jornalista de rua, que vai fuçar história e reportar. Para isso já tenho minha dedicada e competentíssima equipe da Máquina do Esporte.

É hora de ficar na função de executivo e analista de mercado. O blog, por aqui, para. Mas quem quiser é só me achar no LinkedIn, para onde direcionarei meus textos. Ou, duas vezes por semana, na Máquina do Esporte. Afinal, os negócios do esporte não param.


Ajuda estatal à Paralimpíada evidencia falha na gestão brasileira
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Erich Beting

Um socorro de última hora do governo vai garantir que os Jogos Paralímpicos comecem, como programado, em 7 de setembro. Enquanto corriam as Olimpíadas, havia uma grande possibilidade de que as Paralimpíadas fossem adiadas para outubro. O problema era dinheiro. Faltava verba para que o comitê organizador entregasse o evento.

Nesta semana, porém, verbas da prefeitura do Rio e de apoio de estatais foram injetadas por meio de convênios e patrocínios. Ao mesmo tempo, os ingressos começaram a ser realmente vendidos, e o cenário ficou menos turbulento.

Os Jogos Paralímpicos sairão na data prevista. Mas o que significa esse vigoroso aporte estatal de emergência?

A Paralimpíada sofreu, no fim das contas, da falha na gestão do evento por parte da organização. Preocupado com a entrega das Olimpíadas, o Rio 2016 negligenciou o evento seguinte. Menor, usando quase toda a estrutura olímpica e mais curta, a Paralimpíada é teoricamente mais fácil de ser gerenciada. Mas nem por isso pode ser colocada tão em segundo plano como aconteceu agora.

A preocupação é tão grande com o evento maior que o menor ficou “esquecido”, como se fosse algo distante. Quando a chama olímpica se apagou, o desespero passou a tomar conta da organização, que então partiu em busca de soluções para conseguir fechar a conta e entregar o evento. E, aí, quem se comprometeu a pagar a conta, não importasse o que acontecesse, foi o governo brasileiro. Daí a enxurrada de dinheiro público nas Paralimpíadas.

Se o discurso olímpico era o de que o evento aconteceria sem injeção de dinheiro público no que se referia às questões esportivas, o mesmo não pode ser aplicado à Paralimpíadas.

A lição que fica dessa história é a de que os comitês internacionais, Olímpico e Paralímpico, precisam urgentemente sentar para um bate-papo. As Paralimpíadas começam a ser cada vez maior e mais complexa. Se continuar a viver à sombra do evento principal, será sempre uma emoção conseguir entregá-la. Ainda mais quando os dois eventos acontecem num país que ainda não tem uma indústria esportiva vigorosa como é o Brasil.


Inovação é cada vez mais rara no patrocínio
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Erich Beting

Passada a ressaca pós-Jogos Olímpicos, é hora de fazer a revisão do que foi o evento sob o ponto de vista dos patrocinadores. E a conclusão mais sintética que se pode tirar é a de que a inovação é cada vez mais rara quando se fala numa ação de patrocínio.

Espera-se muito, a cada ciclo de megaevento (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos), que haja alguma atividade de marca que crie um novo parâmetro para o mercado. O que vimos, seja em 2014 ou agora, porém, foram ações muito bem executadas por algumas empresas, mas que não fogem do que é o padrão.

Por que isso acontece?

Um dos problemas é a pulverização da atenção do consumidor. A revolução trazida pelos smartphones cobra seu preço. É cada vez mais difícil conseguir prender a atenção das pessoas. Essa dispersão de consumo leva à dispersão do dinheiro. Para conseguir chamar a atenção, é necessário usar mais dinheiro em mais lugares. Falta, assim, uma verba canalizada num único meio, que possa gerar algo diferente do que já foi feito.

Outro ponto que restringe cada vez mais as ações diferentes das marcas é o próprio organizador do evento. Com as regras restritivas, fica ainda mais difícil dar asas à criatividade. Ser careta é a regra imposta pela Fifa, pelo COI ou por qualquer outro promotor de evento. Assim, as marcas não conseguem criar algo disruptivo.

Esperava-se que a revolução tecnológica promovesse uma transformação na forma como as marcas se relacionam com o patrocínio. Ainda não chegamos, porém, a um nível de conhecimento que permitisse isso. Mas o caminho indica que a solução para as marcas é saber ser tech.

Nos Jogos do Rio, o que deu para ver com clareza é que as pessoas estão muito mais propensas a aceitar o que a tecnologia tem a oferecer a elas. Tanto que os óculos de realidade virtual da Samsung eram quase que onipresentes nas ações para o público em todos os estandes de marcas, sejam elas patrocinadoras ou não dos Jogos.

No final das contas, a grande novidade em patrocínio foi a Globo, que não inovou nas ações, mas soube fazer com que a marca ficasse bem gravada na cabeça das pessoas. Pela primeira vez uma empresa de mídia patrocinou uma Olimpíada. E, com o estúdio no coração do Parque Olímpico, a emissora marcou território. Soma-se a isso uma transmissão pela TV paga nunca antes feita, com 16 canais simultâneos, e quem se tornou o maior diferencial dos Jogos acabou sendo uma empresa de mídia.

Ao se unir as situações de Samsung e Globo, percebe-se que o caminho para a inovação passa, necessariamente, pela produção de conteúdo para o consumidor.


A fabulosa história da briga do Guarani com a Schin
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Erich Beting

O Guarani é hoje líder de seu grupo na Série C do Campeonato Brasileiro. Após anos de glória, o time de Campinas tenta resgatar um pouco de sua dignidade depauperada por anos e anos de gestões pavorosas que levaram o clube de primeiro campeão nacional do interior a um time praticamente desconhecido para além da região do interior paulista em que está inserido.

Na segunda-feira, o clube divulgou uma nota de repúdio contra o Instituto Própesquisas e a Brasil Kirim, fabricante de bebidas que tem, entre outras marcas, os refrigerantes Schin, patrocinador da Ponte Preta, rival histórico dos bugrinos em Campinas e que hoje disputa a Série A nacional.

O motivo da nota é uma pesquisa, encomendada pela Brasil Kirim e divulgada sem anuência da empresa, sobre o tamanho das torcidas dos clubes de futebol em Campinas. Terceira maior população no estado de São Paulo, Campinas é uma cidade que desperta o interesse das marcas. Com 1,1 milhão de habitantes, é daquelas cidades do interior paulista que concentra riqueza e ainda possui uma população jovem graças à presença de universidades.

Por isso mesmo, para um patrocinador de um time de futebol local, saber tamanho e concentração de torcedores por times é importante. Nesse mapeamento de mercado, a Brasil Kirim viu que o Corinthians é a maior torcida local, seguido de Ponte Preta, São Paulo, Palmeiras e Santos. O Guarani aparece em sexto lugar, dentro da margem de erro, empatado com os santistas.

Segundo o levantamento, 3% da população de Campinas é torcedora do Guarani, enquanto 20% se diz torcedora da Ponte Preta. O resultado causou indignação no Guarani, que propôs então um boicote de seus torcedores à Schin.

A atitude é patética. E ajuda a explicar um pouco o porquê de o Bugre hoje ser um time de terceira divisão nacional.

Mais uma vez, o clube mostra total desconhecimento sobre o que é e para o que serve uma pesquisa de opinião. Quando o Guarani tenta desmerecer a pesquisa por questionar 800 pessoas num universo de 1,1 milhão, afirmando que isso “não retrata um panorama absoluto de uma cidade”, está simplesmente ignorando a base em que é feita uma pesquisa e a função de se dizer que há uma “margem de erro” em todo levantamento, já que ele nunca é capaz de abranger toda a população.

Outro tosco argumento usado pelo clube é o de que é impossível o Guarani ter apenas 3% do universo de torcedores de Campinas se, no domingo, contra a Portuguesa, 7 mil pessoas foram ao estádio. Sem considerar a margem de erro do levantamento, 3% de torcedores num universo de 1,1 milhão de pessoas representa 33 mil pessoas. Ou seja, com 7 mil pessoas no estádio, cerca de 21% do total da torcida do Bugre estaria presente. O argumento é totalmente inútil.

Se quiser fazer uma comparação mais tosca e menos estatística ainda, o perfil do Guarani no Facebook conta com 21 mil pessoas. O da Ponte Preta, com 235 mil. Será que também haveria uma nota de repúdio ao Facebook por isso?

Ao se direcionar dessa forma, colocando a torcida contra a Brasil Kirim, o Guarani afasta um potencial patrocinador do clube. Ao pedir explicitamente o boicote a produtos da marca, o clube pensa com a cabeça do torcedor fanático. Não seria mais fácil propor à Schin um trabalho específico com os torcedores do clube? Ajudar a resgatar o amor pelo Guarani, a comparecer ao estádio, a impulsionar as vendas? A marca poderia ganhar novos consumidores e o clube, certamente, teria algo a mais a ser oferecido para se aproximar da torcida.

Mas a pergunta que fica nessa fabulosa história é até mais simples. Será que o Guarani já fez alguma pesquisa recente para saber qual o tamanho de sua torcida? O clube sabe por que não se vê mais tanta camisa alviverde nas ruas de Campinas? Aliás, será que o Guarani tem ideia de quem é o torcedor do clube, o que ele consome, como ele se relaciona com o time, quando foi a última vez que ele foi ao Brinco de Ouro da Princesa?

A considerar como anda o desempenho dentro de campo do Guarani, o torcedor já deveria ter soltado sua nota de repúdio faz tempo…

 


Por que a Arena da Baixada é de fato um estádio multiuso
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Erich Beting

A Arena da Baixada receberá, no próximo final de semana, uma partida de vôlei da seleção brasileira masculina. Duelo marcado antes mesmo de o Brasil ganhar o terceiro ouro olímpico na modalidade, o confronto consolida também o estádio do Atlético Paranaense como uma arena que é, de fato, multiuso dentre todos os estádios que foram erguidos e/ou remodelados para a Copa do Mundo de 2014.

Depois de abrigar um evento do UFC, agora é a vez de o estádio do Furacão ter um jogo de vôlei. Por que esses eventos têm acontecido na Arena da Baixada e não em outros lugares?

Quando comemorou a instalação de uma grama sintética no estádio, no final do ano, o Atlético celebrava não apenas a implementação de uma novidade no mercado brasileiro, algo que sempre foi a marca do clube desde o fim dos anos 90.

O que o Atlético sabia que ganhava ao trocar o tipo de gramado de seu estádio era uma tremenda vantagem competitiva em relação à concorrência. Esqueça o aspecto técnico, a bola, o campo de jogo. O negócio que mais ajuda o Furacão ao ter a grama sintética é poder realizar, num final de semana, um jogo de vôlei, com um piso colocado sobre o gramado e, no dia seguinte, se quiser, fazer uma partida de futebol profissional em perfeitas condições.

Numa cidade que sofre com o frio como Curitiba, ter a grama sintética já é uma economia na manutenção do gramado. Tecnicamente, o time de futebol também se beneficia, por não precisar jogar num gramado danificado pela natureza e/ou por outros eventos (é só ver como estava o gramado do Mané Garrincha no domingo, ou como costuma ser o Allianz Parque após evento).

Nesse momento, mais do que fazer dinheiro com outros usos do estádio, o Atlético Paranaense precisa mostrar que a Arena da Baixada é uma excelente alternativa ao eixo Rio-SP. A grama sintética permite ao Atlético não colocar muitas restrições para que seu estádio seja usado para outros fins durante a temporada do futebol.

No final das contas, dos 12 estádios da Copa do Mundo, o único que pode hoje dizer que é multiuso é a Arena da Baixada. E a chave para isso foi, entre outras coisas, mudar a grama do estádio no fim do ano passado, começo deste.

Nos próximos anos a tendência é que aumente a concorrência entre os estádios para ter outros eventos. Com uma grama diferente das outras, a Arena da Baixada já está na frente nesse quesito.


NBA mostrou como o esporte precisa fazer no Rio
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Erich Beting

Após 20 dias no Rio de Janeiro para a cobertura das Olimpíadas, a volta à rotina do cotidiano esportivo brasileiro desinflado dos megaeventos é um tanto quanto dura. A retomada do futebol insosso de meio de semana (São Paulo e Flamengo que o digam), as ações de marca praticamente inexistentes nos estádios, a falta de engajamento da mídia na cobertura de esportes em geral, tudo vai aos poucos nos recolocando de volta às dificuldades do dia-a-dia.

Mas, na batalha de tentar tirar algo de bom do que foram os Jogos Olímpicos, muito provavelmente a NBA terá alguns pontos de vantagem em relação aos demais esportes e ligas. A liga americana de basquete apostou no conceito da NBA House no Rio. Montou um espaço no Boulevard Olímpico, atraiu parceiros comerciais e, acima de tudo, criou um “parque de diversões” do basquete para o torcedor que não estava dentro dos Jogos.

A casa recebeu 80 mil pessoas, ante uma expectativa de 50 mil (leia os detalhes aqui). Mas, mais do que receber gente e vender produto, a NBA usou o relacionamento com o torcedor para conhecer um pouco mais sobre ele.

O maior legado que existe na casa montada pela liga foi pegar dados de contato desses torcedores. Saber como e quando eles assistem ao basquete, de que forma tem interesse em ver os jogos da NBA, se curte também o basquete local, etc.

Ter acesso a informação de qualidade é vital para que as marcas possam entender melhor como explorar o esporte. A NBA soube criar um espaço de relacionamento não apenas para o torcedor se divertir no Rio, mas para gerar vendas e, mais além, conhecer melhor seus hábitos de consumo.

O maior problema que existe hoje quando uma entidade esportiva tenta vender algum projeto no Brasil é que quase nunca ela sabe apresentar uma solução de negócios para o patrocinador. Sem conhecer o seu cliente, a modalidade aponta a exposição de marca que gera e o histórico de conquistas, sem perceber que o real valor não é o que ela foi, mas o que ela pode gerar para o parceiro comercial.

A NBA, com sua casa, deu uma aula ao esporte brasileiro de como é possível divertir o público. E usar isso como ferramenta para conhecê-lo melhor.


Brasil pode viver para além do futebol
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Erich Beting

Quando poderíamos imaginar que o futebol no Brasil perderia público para outros esportes? Pois bem. O levantamento feito na Máquina do Esporte com o comportamento do público no último final de semana mostra exatamente isso.

No fervor do fim de semana derradeiro dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o torcedor optou por não sair de casa para poder acompanhar mais o que acontecia no vôlei, no basquete, no atletismo do que o time de coração no estádio.

Leia aqui: Jogos Olímpicos tiram público do estádio no Brasileirão

O futebol continua a ser o esporte número 1 do Brasil e nunca deverá perder esse status. Mas uma coisa é importante frisar. Há caminho para outras modalidades existirem – e ganharem dinheiro – por aqui.

O esforço, agora, é usar os Jogos para que outros esportes sejam impulsionados no país. Do Rio, ginástica, vôlei, atletismo e basquete saem fortalecidos. Foram modalidades que trouxeram o público para perto.

A ginástica, se não lotou todos os eventos, conseguiu espetaculares índices de audiência na TV aberta e na fechada (entenda aqui). O vôlei, com o ouro masculino na praia e na quadra, teve um resultado alentador para uma modalidade que sofre ao passar por uma dura reformulação gerencial. O basquete, por meio da NBA, mostrou que é um esporte popular e com potencial de crescimento. O atletismo, com Bolt, achou um motivo para ser consumido.

Para os gestores, a lição é batalhar para trazer novos – e grandes – eventos para o país.

Para a mídia, ficou claro que, ajudando a promover o esporte, é possível ter ganho de audiência e receita.

Para o patrocinador, o recado que fica é que existem outras formas de se justificar um investimento ao esporte que vão além da exposição de marca e do índice alto de audiência.

Para o torcedor, a experiência com novos esportes é um indício de que há muita coisa legal além do futebol.

Se há um recado, mais do que legado, que o Rio deixa, é de que temos como viver além de esporte. Mesmo que aqui seja o país do futebol.


Dinheiro não falta ao Brasil para ser top 10
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Erich Beting

A busca alucinada por medalhas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos últimos quatro anos resultou naquilo que era esperado. Na hora de explicar o motivo de a meta de estar entre os dez maiores do mundo nos Jogos do Rio de Janeiro, o comitê saiu pela tangente: minimizou a posição final e exaltou o “melhor desempenho da história”, com aumento de presença em finais, maior número de medalhas da história de uma edição olímpica e pulverização de conquistas por diferentes modalidades.

Sim, tudo isso é verdade. Mas a realidade não dá tantos motivos para celebrar. O Brasil foi uma das nações que mais dinheiro despejou para a preparação de atletas no mundo. A falta de dinheiro e de empenho em investir não podem, hoje, serem usadas como muleta para justificar um desempenho abaixo do esperado no país.

O fato é que dinheiro não falta para o Brasil ser um país entre os dez mais potentes do esporte no mundo. Onde, então, estamos errando?

A conta é simples. O investimento que as confederações fizeram, no último ciclo olímpico, tinha como objetivo o alto rendimento de alguns atletas. Foram pagas viagens para melhorar desempenho, salários mais altos para se ter maior dedicação aos treinos, treinadores internacionais para trazerem maior conhecimento, etc. Pouco, para não dizer praticamente nada, foi feito para ampliar a base de praticantes daquela modalidade.

O que esse pensamento focado em medalha causa é uma distorção do processo de criação de uma nação que de fato seja uma potência esportiva.

Ao despejarmos muito dinheiro em poucos potenciais campeões, desestimulamos toda a cadeia. Não há condições para a formação de novos atletas e, pior, por estar com mais dinheiro, o atleta de alto rendimento que é beneficiado com Bolsa-Pódio, Bolsa-Medalha, Bolsa-Atleta, carreira militar, etc. não quer parar de competir, porque sabe que isso significará para ele a perda de receita. E, assim, criamos um modelo engessado, em que quem tem dinheiro continua a ter mais dinheiro, impedindo que novos talentos apareçam.

Um dos esportes que mais investe na base, no Brasil, é o futebol. E isso explica, em parte, o segredo do sucesso brasileiro em formar jogadores de futebol. Como é um grande negócio vender jogador, os clubes colocam um dinheiro a fundo perdido na formação de talentos. CTs modernos, equipes técnicas qualificadas, estrutura para o atleta se desenvolver pessoal e profissionalmente.

Assim como o COB, o clube de futebol foca seu investimento no alto rendimento. A preocupação é com o atleta vencedor. Mas o clube sabe que, para gerar mais dinheiro e manter um time competitivo, de nada adianta contratar o Messi e ter outros 10 coadjuvantes em campo.

Essa, porém, é a realidade de muitos esportes no Brasil. Investimos tudo em um único atleta, o que coloca sobre ele a pressão para obter resultado. A melhoria do país no quadro de medalhas e até mesmo em participação em finais não revela muita coisa sobre o rumo que temos tomado para crescermos como nação esportiva.

Muito mais importante do que colecionar medalhas é empregar os esforços para a disseminação da prática de atividade física no país. Isso só acontece se houver dinheiro, claro. Mas não um dinheiro para ser empregado em 50 potenciais atletas, excluindo-se dessa lista praticamente cem vezes mais de pessoas, por todo o país, que podem vir a ser um representante do país numa edição de Jogos Olímpicos.

A função das entidades esportivas como o COB – e do próprio governo – é ajudar na formação de atletas no país, e não investir a maior parte dos recursos em quem tem melhor desempenho. Essa mentalidade é para ser usada pelas empresas privadas que usam o esporte para ganho de imagem e/ou vendas. Para elas, só o craque daquela modalidade interessa.

Pelo dinheiro que o COB e as confederações tiveram à disposição de 2012 para cá, o Brasil não estar entre as dez nações mais vitoriosas do Rio 2016 é um motivo a mais para nos preocuparmos. Enquanto os recursos não forem enviados para a disseminação da prática esportiva, seguiremos adotando um critério que foi inventado pelos americanos e seu conceito de que “sem ouro, sem medalha”. Basta comparar as realidades de um país e de outro para termos a certeza de que estamos no caminho errado.

Não falta dinheiro ao esporte no Brasil. O que falta, mais uma vez, é empregar de forma correta a verba.


Que roteiro do ouro olímpico é esse?
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Erich Beting

O roteiro da conquista do primeiro ouro olímpico do futebol no Brasil foi espetacular. Nem que o mais Zagallo dos Zagallos quisesse, conseguiríamos ter pensado em escrever dessa forma a história do fim do mais incômodo jejum do time brasileiro.

Mas hoje, muito provavalemente, o Brasil colocou abaixo Maracanazzo e Mineirazzo na mesma cobrança de pênalti de Neymar. Neymar que lembrou Zagallo ao dizer que “vão ter de engolir”. E que engoliu as críticas – justas e injustas – para se transformar no protagonista que sempre se espera dele.

A forma como atuou nos três jogos de mata-mata dessa Olimpíada mostrou que ele pode ser capitão do time e, também, protagonista na seleção principal. Como foi Ronaldo, Romário, Pelé. Sim, Neymar se coloca agora no mesmo patamar desses grandes nomes. Não pelo que ainda não fez dentro de campo, mas pelo que conseguiu liderar o time brasileiro para uma conquista inédita, dentro de casa, num país que não sabe lidar com o fator casa.

Qualquer Brasil x Alemanha, depois dos 7 a 1, será cercado de toda essa história de revanche, apagar o passado, fim da humilhação, etc. Não será possível. Assim como o roteiro da primeira medalha de ouro do futebol brasileiro não tem como ter sido mais bonito.

Foram três quedas em finais para conseguir a tão sonhada medalha dourada. Em casa, com um time desacreditado e com um craque contestado. Nos pênaltis, contra o maior algoz da nossa história, depois da maior humilhação de nossa história numa Copa do Mundo, também em casa.

Neymar tem tanta estrela que os dois gols decisivos dele hoje aconteceram na bola parada. Para que todos pudessem parar para ver. Aplaudir. E mostrar que o Brasil tem um líder dentro de campo, apesar de tudo o que está errado fora dele.

A conquista do Brasil não apaga os erros da CBF. Mas é uma mostra de que o futebol do Brasil não pode nunca ser subestimado. A renovação de atletas sobrevive aos desmandos dos dirigentes. Até nisso o roteiro do ouro não teria como ser escrito de outra forma…

Tags : futebol


A invasão ao Rio é um alento à Paralimpíada
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Erich Beting

A invasão ao Rio de Janeiro neste final de semana, seja de turistas ou até mesmo da população local, pode ser um alento para os Jogos Paralímpicos, que daqui 15 dias começa na Cidade Maravilhosa.

O comentário geral de quem está por aqui, perguntando por ingressos ou por “qual é a casa mais legal para ir”, é de que demorou-se muito para entender que a oportunidade era única. Conhecer o Parque Olímpico, vivenciar o clima de uma Olimpíada, ir ver a pira no Boulevard Olímpico, ir conhecer toda a região do Porto Maravilha, etc.

Ao mesmo tempo, na sexta-feira o Comitê Paralímpico Internacional confirmou que precisou reduzir o orçamento das Paralimpíadas, que começa dia 7 de setembro e tem apenas 12% dos ingressos vendidos até agora.

Quem tentou e não conseguiu chegar a tempo dos Jogos Olímpicos terá, em breve, a chance de ir ao mesmo Parque Olímpico. A vivenciar uma experiência inédita, que é conhecer a Paralimpíada, as histórias fantásticas dos atletas e, também, ver o Brasil faturar bastante medalha, que é também um dos esportes preferidos do país.

Nas próximas duas semanas, a obrigação do Comitê Rio 2016 é vender o conceito de que ainda há uma chance de ver o Rio das Olimpíadas. Só um bom trabalho de divulgação agora poderá ser capaz de fazer, pela última vez, o Rio bombar para os Jogos. Em menor proporção, mas num tamanho nunca antes visto pelo esporte paralímpico no país.