Negócios do Esporte

Futebol mostra que paixão é que direciona patrocínio
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Erich Beting

Aos poucos, a ''seca'' do patrocínio máster no futebol brasileiro vai chegando ao fim. Na Série A do Brasileirão, por exemplo, agora apenas Goiás, Santos e São Paulo não possuem um patrocinador principal na camisa. Mas, a julgar pelo que acontece no movimento desses patrocínios, a decisão das empresas é muito mais emocional do que racional (detalhes aqui).

Metade dos patrocínios da Série A são de empresas públicas: Caixa (Chapecoense, Figueirense, Atlético-PR, Coritiba, Corinthians, Flamengo, Vasco e Sport) e Banrisul (Grêmio e Inter). Dos outros sete clubes com patrocínio no espaço mais nobre do uniforme, a decisão de patrocinar o clube foi absolutamente passional. Em todos os casos, as empresas são de capital privado, sem ações em Bolsa, e ainda os donos geralmente têm o poder de decisão absoluto sobre o investimento.

O novo integrante desse grupo é o Cruzeiro, que ''estreou'' o Supermercado BH no último domingo (leia aqui). Mas o caso mais enfático é o do Palmeiras, que teve na família Lamacchia um mecenas que contribui com R$ 45 milhões no ano (entre os aportes da Crefisa e da FAM).

Em comum, todos os negócios são milionários e, não por acaso, os clubes, além de serem de grande torcida, estavam sem um patrocinador máster após a saída de um antigo parceiro. Essa situação só reforça o amadorismo da decisão. Em vez de estudarem o que buscam com o patrocínio, essas empresas alimentam uma situação ilusória no futebol.

Os clubes precisam se enxergar como uma plataforma de geração de negócios para seu patrocinador. Até hoje, as propostas comerciais de patrocínio procuram muito mais exaltar o clube e sua história do que mostrar quais soluções podem ser dadas para uma empresa que se associa a ele.

Quando começarem a fazer isso, os clubes voltarão a abrir suas portas para as empresas de capital aberto, que geralmente têm muito mais dinheiro para investir e entende a necessidade de longevidade de um patrocínio. Não por acaso, no fim do ano, de todos os clubes da Série A, apenas três têm contrato de patrocínio máster assegurado: a dupla Grenal e o Palmeiras, que passará de novo pelo mesmo perrengue em dezembro do ano que vem…

Enquanto os clubes seguirem com propostas amadoras para os eventuais parceiros comerciais, jogarão para a torcida com o argumento da crise para não conseguirem negócios. Ou precisarão fatiar o uniforme para diversas marcas, sem enxergar que o negócio dele não é a vitrine da exposição na mídia, mas o produto do relacionamento com uma base de consumidores absolutamente fiéis à marca.


Concorrência motiva investimento no esporte
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Erich Beting

Os clubes de futebol no Brasil assistiram, nos últimos meses, à entrada de dois novos patrocinadores no mercado. Primeiro foi a 99 Taxis, que começou a aparecer em vários uniformes de clubes. Agora, é a vez da Voxx, marca de suplementos, que começou a fechar uma pequena exposição nas camisas dos times.

No caso das duas marcas, o movimento foi reativo. Os clubes não procuraram estudar o mercado de aplicativos de táxi e, também, nem se preocuparam em entender que a suplementação alimentar tem, hoje, o desafio de deixar de ser uma marca para os ''marombados das academias'' para se tornar um elemento de nutrição e sinônimo de vida saudável.

A entrada da 99 Taxis foi motivada logo após o aplicativo de chamada de táxi Easy Taxi anunciar acordo com o ''Movimento por um Futebol Melhor'', iniciativa que reúne os programas de sócio-torcedor dos clubes. Após a Easy Taxi começar a investir no esporte, a 99 Taxis veio atrás.

A Voxx foi pioneira no futebol. Entrou de sola em acordos com alguns clubes mais ''baratos'' que os do topo da lista. Aí, a Krom, sua concorrente, fez um movimento de reação e fechou com a Copa do Brasil.

Os dois casos, latentes neste começo de ano, mostram bem uma oportunidade que o esporte tem e que raramente pratica aqui no Brasil. Geralmente – e esse é um fenômeno mundial -, os patrocínios são regidos pela movimentação dos concorrentes. Uma marca decide entrar no esporte após seu concorrente fazer o primeiro movimento.

Se tivessem departamentos comerciais estruturados, as entidades esportivas estariam antecipando esses movimentos. Elas precisariam analisar, praticamente em tempo real, o que as marcas têm feito e o que querem fazer. Assim, conseguiriam ser muito mais eficientes em apresentar soluções para elas.

Patrocínio, hoje em dia, não é mais caridade. Muitas vezes, quando aborda alguma empresa, o esporte apresenta para as marcas os motivos pelos quais aquela propriedade é valiosa. Nunca param para pensar que eles precisam, na verdade, apresentar soluções de negócios para essas empresas.

O movimento de marcas concorrentes no patrocínio esportivo é apenas uma mostra disso. Elas que vão atrás do esporte por saber o que ele pode entregar. O maior problema é que, como o esporte raramente sabe no que ele pode ajudar seu novo cliente, a relação não dura mais do que um ou dois anos.

O grande salto que falta ser dado pelo esporte é aprender a vender. Só assim ele vai começar a perceber que, na hora da crise, a empresa não diminui investimentos, ela apenas otimiza os resultados. E, como poucos, o esporte sabe entregar resultados.


Torcida organizada virou poder paralelo no futebol
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Erich Beting

A notícia da semana é o lançamento de um cartão pré-pago da Gaviões da Fiel(leia aqui). Numa parceria com uma empresa emissora de cartões e com a MasterCard, a torcida organizada formada por corintianos ofereceu um novo serviço a seu filiado. Um cartão que não precisa de comprovação de renda ou conta no banco para ser emitido. Basta que o associado pague R$ 14,90 para ter o seu cartão.

O negócio é a prova de que a torcida organizada é, hoje, um poder paralelo ao clube de futebol no Brasil. O cartão pré-pago da Gaviões leva o símbolo do Corinthians, já que a própria torcida tem como emblema o gavião ''carregando'' o símbolo do clube.

Isso faz com que o Corinthians possa ser judicialmente acionado pela Caixa, sua patrocinadora e detentora exclusiva do direito de emitir cartões com o símbolo do clube. E, mais ainda, faz com que o clube até deixe de ter uma receita alternativa, que viria do oferecimento desse mesmo serviço ao torcedor.

O caso ainda tem muito a se desenrolar, mas ele mostra como não há mais espaço para a torcida organizada no futebol profissionalizado no marketing.

Até pouco tempo atrás, as organizadas cumpriam um papel que deveria ser do clube. Elas acolhiam o torcedor, faziam com que ele se sentisse pertencente a um grupo e ofereciam alternativas para ele expressar a paixão pelo time. A quadra da torcida era o local onde ele encontrava seus iguais, vivia suas aventuras e compartilhava da mesma paixão. No estádio, empunhava a bandeira, gritava para incentivar os jogadores e azarar os adversários.

A torcida, sem ter a vigilância do clube, tomou conta do pedaço. Passou a oferecer viagens para acompanhar jogos, vendeu produtos com seu símbolo (e o do clube a tiracolo) e se autodenominou ''representante'' de todos os torcedores do clube, indo reclamar após a má performance da equipe, apesar de muitas vezes não representar nem 0,01% do universo de torcedores.

Isso, porém, mudou radicalmente na última década. Os clubes começaram a entender que a fonte de receita primária dele é o consumo do torcedor. Não só na ida ao estádio, na compra do pacote de pay-per-view ou da camisa oficial, mas em serviços para alimentar a paixão dele.

Foi por isso que vieram os programas de sócio-torcedor, proliferaram-se os produtos licenciados e, mais recentemente, criaram-se as lojas oficiais do clube, promovem-se encontro de torcedores com ex-jogadores, etc. O movimento, basicamente, foi o de fazer com que o clube assumisse a condição que antes era um ''oferecimento'' da torcida organizada.

Mas como acabar com 30 ou 40 anos de existência desses organismos de poder paralelo aos clubes? Aos poucos o negócio começa a minguar, e a última barreira de poder está próxima do fim.

Se o poder paralelo das torcidas tende a ficar ainda menor com a proliferação dos programas de sócios-torcedores, agora ele começa a ser sepultado com o começo do fim da farra de só conceder às organizadas os ingressos para as partidas dos clubes como visitantes.

O que geralmente acontecia é que o clube repassava às organizadas os bilhetes para os jogos fora de casa. Assim, elas organizavam caravanas e promoviam a ida de seus integrantes a essas partidas, quase como direito exclusivo. O torcedor comum tinha de ficar com a ''sobra'' da carga de ingressos.

Nos últimos anos, a curva tem mudado. Os clubes começaram a oferecer viagens a seus torcedores, ficando com a receita disso. Os novos estádios têm promovido a venda de ingressos ao visitante pela internet (Maracanã e Allianz Parque já fizeram acordo para realizar essa experiência, já colocada em prática no Palmeiras x Flamengo do primeiro turno). Os sócios-torcedores das cidades onde o clube joga geralmente são contemplados com alguma ação diferenciada.

O poder paralelo que as torcidas organizadas ainda tentam ter nos clubes está começando a se extinguir. E, nesse sentido, a tentativa da Gaviões da Fiel de criar um cartão usando a imagem do Corinthians pode ter sido um tiro no próprio pé, já que colocou o clube em conflito com seu principal patrocinador.

Os clubes perceberam que o torcedor é a chave para ter mais dinheiro. E, por isso, o poder econômico das torcidas organizadas precisará ser sufocado. O que possivelmente representará o início do seu fim. Pelo menos em relação ao tamanho que elas já tiveram há alguns anos.


Para que serve uma lista de venda de camisas?
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Erich Beting

A rede de varejo esportivo Centauro ganhou considerável espaço na mídia nos últimos dias ao divulgar um site que tem um ranking, atualizado em tempo real, de venda de camisas dos times de futebol. A lista, que computa as vendas nas lojas físicas e virtual do maior ponto de venda do varejo esportivo brasileiro, ganhou a mídia exatamente por conter algumas ''surpresas'' como a presença de clubes de menor torcida em posições mais altas do ranking.

Os números divulgados pela Centauro, porém, não podem ser usados como parâmetro para absolutamente nada. Eles não representam, sobremaneira, o comportamento do consumidor brasileiro de camisas oficiais de clubes de futebol. Apesar de ser a loja esportiva de maior penetração do país, a Centauro está longe de ser a única loja do gênero.

Mais do que isso, nos últimos anos, os clubes conseguiram desenvolver suas lojas próprias e, assim, se transformaram em canais de venda poderosíssimos. Outra significativa mudança no mercado foi a proliferação das lojas próprias das marcas, que também conseguem expressivos resultados de venda.

Isso tudo leva à óbvia constatação. Uma lista de venda de camisas feita por apenas uma empresa que atua no mercado nada mais é do que um bom tema para discussão em mesa de bar, compartilhamento em redes sociais e nada além disso. Nem mesmo para os jornalistas deveria servir como pauta, uma vez que o resultado de uma rede de lojas não expressa, necessariamente, o desempenho daqueles clubes e fabricantes pelo restante do país. Ainda mais num país de dimensões continentais como o Brasil.

Outro importante ponto a se destacar. A Centauro não compra as camisas dos clubes cuja distribuição do produto é feita pela Netshoes, concorrente da empresa no e-commerce. Assim, torcedores de Santos e Coritiba não encontram sua camisa nas lojas, físicas e virtual, da rede mineira.

Muito possivelmente, a base para criação do ranking pela Centauro tenha sido o ''Torcedômetro'', criado pela Ambev para dar um parâmetro aos clubes que participam do Movimento por um Futebol Melhor. Lá, porém, o único fornecedor dos programas de sócio-torcedor é o próprio Movimento. Assim, o resultado que se vê ali é, via de regra, o desempenho dos clubes dentro de um mesmo universo.

É muito difícil imaginar que, ao criar o ranking das camisas vendidas, a Centauro consiga converter uma única compra pelo torcedor que sinta o orgulho ferido de ver um rival mais bem colocado no ranking. Pelo contrário. A marca pode até mesmo ganhar a rejeição do torcedor por não ter seu clube em melhor posição na lista.

O debate sobre um ranking de venda de camisas de clubes só terá validade quando os fabricantes tornarem públicos os resultados que alcançam ao vender os uniformes de seus patrocinados. Como isso é informação guardada a sete chaves pelas marcas, já que ela é valiosa na negociação dos contratos de patrocínio, ficaremos sempre sem saber quem é, realmente, o clube com maior venda no país.

Qualquer outra lista sobre venda de camisas só vai servir para torcedor exaltar seu time. Ou reclamar de quem publica essa lista…


No esporte, menos geralmente é mais
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Erich Beting

O esporte é um produto para as massas. Isso não significa que ele deve ser consumido apenas pelas pessoas de menor poder aquisitivo. Parece difícil de explicar, de tão óbvio que é essa relação. Mas, em se tratando de esporte, às vezes é preciso desenhar para que fique claro entender…

O Corinthians conseguiu baixar um pouco o preço do ingresso para a partida contra o Cruzeiro, no último domingo. Foi o jogo de maior público na Arena Corinthians e, olhe lá que impressionante, foi uma partida que teve arrecadação cerca de R$ 1 milhão maior do que a média do alvinegro em seu estádio neste Brasileirão (detalhes aqui).

A lógica é simples de entender. A demanda por ida ao estádio, ainda mais o novo estádio, está reprimida. O torcedor quer conhecer o local, quer torcer pelo time e quer pagar um pouco a mais para isso. Mas quem dita o preço máximo que se pode alcançar, sem dúvida, não é quem vende o ingresso, mas quem compra.

E, em se tratando de esporte, ainda mais o futebol, nesse caso o menos é mais. O menor valor do bilhete vai significar sem dúvida mais receita, sobretudo num estádio novo e ainda desconhecido de boa parte do torcedor como a Arena Corinthians.

Como o esporte consegue atrair o interesse de todas as classes sociais, ele precisa se adaptar e oferecer produtos para todos os públicos. Por que com o estádio haveria de ser diferente? É preciso ter o ingresso para o rico, mas não pode-se esquecer de ter um espaço para aquele que não dispõe de tanto dinheiro para ir a um jogo. O corintiano, seja ele quem for, quer conhecer seu estádio, mas para isso ele não pode gastar o que não tem.

Além disso, com os novos estádios, mais produtos são oferecidos para o torcedor dentro do local. Lanchonetes, lojas e mais outros serviços poderiam estar disponíveis. E isso significa, necessariamente, mais receita para o clube no dia do jogo, desde que, logicamente, mais torcedores possam ir ao estádio.

A Copa do Mundo acabou há um ano, praticamente. Ainda estamos aprendendo a entender de que forma podemos aproveitar melhor os novos estádios. Os sucessos de Corinthians e Palmeiras na venda de bilhetes para seus jogos dão uma mostra de como pode ser o caminho. Menos, necessariamente, é mais dinheiro no bolo. Afinal, desejo de consumir o esporte não falta. O que não havia era boas condições para isso…


Bolt e o enorme risco do atletismo no mundo
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Erich Beting

Eram mais ou menos 11h da manhã do domingo quando, ao dar uma olhada no Twitter pelo celular, deparei-me com uma enxurrada de comentários sobre a espetacular vitória de Usain Bolt no Mundial de Atletismo, em Pequim. Estava fora de casa, então as redes sociais foram a melhor maneira de acompanhar os 10 segundos mais emocionantes do atletismo e, talvez, do esporte.

A comoção das pessoas, muitas delas jornalistas, ao comentar a vitória de Bolt teria sido proporcional, se naquela época já existisse o compartilhamento de opiniões pela rede, ao que foi a vitória de Lance Armstrong na Volta da França após ter sido desenganado pelos médicos por um câncer no testículo.

Bolt é, hoje, o que Armstrong foi para o ciclismo no fim dos anos 90 e começo dos anos 2000. O jamaicano é, hoje, a figura mais midiática de uma modalidade que sempre foi tradicional, mas que raramente caiu no gosto popular. Armstrong, ao vencer pela primeira vez o Tour de France, em 1999, ajudou o ciclismo a ganhar mídia.

Hoje, Bolt faz o mesmo com o atletismo. A diferença, claro, é que a história de superação é muito diferente. Bolt é um ídolo da pequenina Jamaica, que ele ajuda a projetar quando parte, imbatível e veloz como um raio, para terminar em primeiros os 100m e os 200m. Armstrong era o cara que superou um câncer para ser um campeão.

O problema é que, depois de Armstrong, o ciclismo começou a conviver com um incômodo histórico de casos de doping, que se tornaram em grande escândalo há três anos, quando ficou comprovado que o herói americano era de plástico, ao ter competido dopado, mesmo tendo negado que havia feito uso do doping.

Hoje, o atletismo vive uma onda de péssimas notícias. É um escândalo de doping atrás do outro, como nunca antes visto na modalidade e comparável apenas ao que aconteceu, na última década, mais ou menos, com o ciclismo. Mo Farah, o herói britânico em Londres-2012, está ainda limpo numa história que até agora envolve seu técnico, Alberto Salazar, acusado de dopar diversos atletas.

Bolt, até hoje, não passou por qualquer suspeita de doping. O jamaicano, ao contrário de quase todos os outros oponentes que tentam lhe fazer frente, sempre passou livre dos exames. Com um carisma monstruoso e performance igualmente fantástica, Usain Bolt é hoje o grande nome mundial do esporte. As pessoas querem vê-lo, tal qual mostrou a comoção pelo Twitter na final dos 100 m do atletismo.

Armstrong não conseguiu, nunca, ser do tamanho de Bolt. Mas foi importante para promover uma modalidade e torná-la mais conhecida do público. O conto de fadas do ciclismo virou pó com a mancha do doping e foi sepultado quando o mocinho se transformou no maior vilão.

No atletismo, esporte que é a base de todos os esportes, nunca foi tão difícil empunhar a bandeira do jogo limpo. Bolt é um dos poucos que consegue não apenas levantá-la, como inspirar milhões de pessoas a ser iguais a eles. E é esse, por incrível que pareça, o maior risco do atletismo nos dias de hoje.

Ele é tão dependente de Usain Bolt que, se qualquer escândalo manchar a imagem do grande divulgador da modalidade, ela estará fadada ao descrédito mundial. Bolt é a única lufada de boas novas para o atletismo. Mas isso é um enorme perigo para a modalidade.


O futebol começa a baixar a bola. E ganha com isso
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Erich Beting

Duas notícias publicadas ontem (aqui) e hoje (aqui) na Máquina do Esporte mostram que o futebol está começando a baixar a bola. E isso é muito bom! Vitória, Grêmio e Inter vão receber menos de seu patrocinador principal da camisa.

O clube baiano segue a linha de remodelagem de contrato proposta pela Caixa aos clubes. O contrato é só até o final deste ano e, a partir de 2016, sabe-se lá o que vai acontecer.

Mas o caso da dupla Grenal é ótima a indicação de renovação do Banrisul por mais quatro anos. Os clubes vão ganhar um pouco menos do banco, porém conseguiram assegurar o mais longo contrato de patrocínio de camisa do esporte brasileiro. Por incrível que pareça, não havia nenhum clube com patrocinador assegurado para além de 2016.

A readequação de realidade dos contratos é uma necessidade. Ainda perdidos na euforia desproporcional de 2009-2010, os clubes continuavam achando que seus valores são mais altos do que o mercado pode pagar e, pior ainda, são balizados pelo quanto ganham os outros clubes, e não pela capacidade de entrega comercial que ele pode dar.

Quando uma empresa, ainda que estatal, decide permanecer por mais quatro anos na camisa dos times, é sinal de que o negócio tem sido benéfico para ela. Seja por meio de promoção da marca, do estado do Rio Grande do Sul ou até mesmo de geração de negócios, o fato é que contratos longos são a base para qualquer construção de imagem por meio do esporte.

Nos últimos cinco anos, o futebol viveu um movimento completamente retrógrado em relação aos patrocínios. Inflados pela política Corinthians-Ronaldo, de transformar a camisa num confuso painel de exposição de marcas, os clubes elevaram a arrecadação, mas reduziram a entrega para seus parceiros. Isso gerou um movimento de saída das marcas que investiam apostando em pouco conflito de patrocínios e trouxe para o futebol diversas empresas que só enxergam como valor o alto retorno de exposição de mídia, sem se preocupar com a construção de relacionamento com o torcedor a partir do patrocínio esportivo.

Como os dois últimos anos têm sido difíceis para se encontrar novos parceiros para o espaço principal da camisa, os clubes têm atuado de duas formas distintas. Ou buscam diversas empresas com valores menores de investimento, ou então esperam a proposta milionária para a cota principal ser aceita por alguma empresa que, muito provavelmente, será aventureira na história e, dali um ou dois anos, deixará o futebol acreditando que ele não vale o investimento.

O primeiro passo para que o futebol volte a entregar valor para os patrocinadores é baixar o preço cobrado pelo patrocínio. O segundo é reduzir a quantidade de marcas expostas no uniforme. Era assim que funcionava o mercado até 2009. Serão necessários mais uns cinco anos para isso voltar a acontecer…


Por que o esporte é imune à crise?
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Erich Beting

Os clubes de futebol no Brasil nunca arrecadaram tanto em bilheteria, atingem números recordes com o sócio-torcedor, seguem vendendo bem os seus produtos licenciados, faturam bastante com o pay-per-view e só não ganham mais dinheiro porque não conseguiram desenvolver uma boa cadeia de produtos e serviços para o seu torcedor.

Se estivéssemos pautando esse cenário no quadriênio 2007-2011, muito provavelmente o futebol estaria, tão somente, seguindo o fluxo de boas notícias da economia. O país vivia a euforia pré-sal, pré-Copa e pré-Olimpíada. A marolinha da crise no exterior não afetava um aquecido mercado interno pré-endividamento da Classe C, maior beneficiada com diversas mudanças que aumentavam o poder de consumo.

Mas o cenário é completamente outro. A economia entrou em retração. A endividada Classe C parou de consumir, o que faz a indústria reduzir as vendas. O pré-sal ainda está no pré. A Copa já é pós sem ter mudado muito a vida das pessoas como euforicamente se prometia. E o pré-Olimpíada não encanta mais assim.

E, mesmo assim, o futebol segue batendo recorde de faturamento a partir da paixão do torcedor. O que explica isso?

Sinceramente busco há mais ou menos uns dois anos a resposta para isso. Sempre disse, por aqui, que o salto de receita do futebol viria com os novos estádios e com o desenvolvimento de produtos e serviços para os torcedores. Foi assim que a Europa fez há 20 anos, é assim que os Estados Unidos trabalham há 100. Mas onde está a razão para que o torcedor, mesmo com as receitas mais apertadas, não deixar de lado o consumo do futebol?

Hoje o Mundo do Marketing publicou uma entrevista exclusiva com Philip Kotler, o maior especialista em marketing do mundo e que acaba de publicar um livro mostrando que o modelo de capitalismo que moldou o mundo nos últimos 300 anos está em colapso (a leitura obrigatória da entrevista está aqui).

A análise que Kotler faz sobre a mudança de comportamento das pessoas em relação ao capitalismo é direta e simples. As empresas precisam rever o modelo de acumulação de riqueza em troca da exploração do outro. É isso que gera um desequilíbrio na sociedade, e é isso que faz com que as empresas precisem assumir um outro papel diante da sociedade.

''Cada empresa deve redefinir o seu propósito, dizendo como pensa que seu trabalho está beneficiando a sociedade'', afirma Kotler ao Mundo do Marketing.

E é aí que entra a análise do começo desse post. O esporte é capitalista a seu modo, que é basicamente o modo que faz com que as pessoas queiram consumi-lo, independentemente do momento econômico que atravessa.

Como Kotler diz, o modelo capitalista que sustentou o mundo está precisando ser revisto. E as empresas precisam mostrar algum benefício à sociedade para que as pessoas consumam o produto delas. E é exatamente isso que faz o esporte. O torcedor consome o produto por acreditar nele. Seja o time, o atleta ou a competição. Ele sabe que o objetivo da empresa, no esporte, não é lucrar em cima da paixão, mas devolver para ele um bom produto, que no caso traz o benefício pessoal da performance esportiva.

Quando colocar essa lógica em prática, o esporte no Brasil conseguirá atrair, cada vez mais, os consumidores. E, naturalmente, a receita aumentará, o que por sua vez fará o produto melhorar. O capitalismo, no esporte, é um dos poucos casos em que o dono do negócio não está preocupado em acumular riqueza em forma de dinheiro. E, assim, ele consegue sofrer menos durante um momento de crise na economia.


Comunicado oficial – Arbitragem
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Erich Beting

Este blog vem a público esclarecer que repudia, veementemente, qualquer nota oficial de repúdio, de qualquer clube, sobre a performance da arbitragem numa determinada competição. Avisa, também, que já protocolou ''junto à'' direção da CBF uma reclamação formal pedindo que o clube que reclama da arbitragem nunca mais possa atuar nas competições em que ele trabalhe. Informamos ainda que iremos até o fim na busca por justiça, indo à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para recuperar aquilo que nos foi tirado.

Nas últimas semanas têm sido esse o teor dos ''comunicados oficiais'' dos clubes em relação aos erros de arbitragem que ocorreram de forma mais decisiva no Campeonato Brasileiro. Uma tremenda bobagem, que só serve para que os dirigentes alimentem, ainda mais, uma polêmica já levantada de forma completamente deturpada pela mídia, que tenta encontrar má fé onde só existe, de fato, má qualidade na execução do trabalho.

 

Uma das melhores decisões tomadas neste Brasileirão foi a de fazer do árbitro uma figura inquestionável dentro de campo. Por mais autoritária que tenha sido a regra, ela contribuiu, e muito, para que os jogadores parassem de fazer cena e se preocupassem em jogar de forma mais leal o jogo. É só ver que as reclamações acintosas, agora, são contra lances que realmente foram mal marcados pela arbitragem, como nas recentes mãos bobas que aconteceram.

Isso deu, de uma forma ou de outra, mais qualidade para o jogo. O atleta não reclamar é um enorme ganho para o torcedor. Mas isso gera, para a arbitragem, uma obrigação. Tendo menos pressão sob seus apitos, sobra mais lucidez para reduzir o erro.

Agora, a missão da CBF é caminhar para isso. Trabalhar para reduzir o erro. Fazer do trio de arbitragem um quinteto parece uma obrigação. Isso ajudaria demais a reduzir erros de interpretação ou até mesmo de má colocação do árbitro na área.

Os clubes, em vez de jogarem para a torcida com suas notas oficiais de repúdio, deveriam brigar por uma melhora na qualidade do espetáculo. Afinal, o que o futebol vende para o público é isso. Um bom jogo, com o menor grau de interferência externa possível, para assegurar ao torcedor o máximo de emoção que uma partida possa proporcionar.

Quando disparam seus ''comunicados oficiais'', os dirigentes contribuem para a discussão vazia dentro da mídia se o árbitro age ou não de má fé. Muitos fazem isso para atrair a audiência e alimentar a discussão que permeia o ódio nas redes sociais.

Cabe ao esporte reduzir a pó esse tipo de atitude dos jornalistas. Mas, para isso, precisamos de menos ''comunicados oficiais'' e mais união em torno da resolução de problemas. De nada adianta transformar o árbitro na autoridade máxima de fato dentro de campo se, fora dele, a CBF continua a permitir que os clubes joguem contra o próprio produto.

Erros sempre vão acontecer. Para A, B ou C. Contra A, B ou C. Alguns são banais e não interferem no resultado do jogo. Outros são cruciais para definir uma partida.

No tênis, resolveu-se isso com a conferência eletrônica de bolas dentro ou fora. Ela é feita após um pedido do atleta, que tem um limite de pedidos por set. Se acerta a marcação, não perde esse direito. Se erra, perde.

O futebol poderia adotar isso. Termina o lance, o capitão do time pede o direito de os árbitros reverem a jogada na TV e, aí, tiram a teima. Com um limite de um pedido por tempo de partida, o sistema poderia funcionar da mesma forma que o tênis. Se ele acerta, volta a marcação. Se erra, não pode mais pedir. Isso evitaria o jogo de parar a toda hora, mas seria usado para os lances cruciais, aqueles em que todo o time não se conforma com a marcação.

Batalhar pela melhoria da qualidade do jogo, e não pela vitória do time, deveria ser o desejo de todo mundo que trabalha com esporte. A CBF, preocupada em fazer do árbitro a autoridade máxima dentro de campo, deveria agora se preocupar em transformar essa figura num profissional menos suscetível a erros que mudam a história do jogo.

Só assim o discurso de torcedor da mídia e dos dirigentes seria sufocado pelo bom senso. Mas parece que essa palavra causa calafrios na CBF…


O NBB pode ocupar o vácuo de inovação que há no Brasil?
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Erich Beting

Matéria da Máquina do Esporte da última sexta-feira mostra que a NBA iniciou, no Brasil, um novo modelo de expansão internacional. Pam El, vice-presidente executiva da liga americana de basquete, confirmou que há interesse de a NBA se tornar sócia de outras ligas de basquete pelo mundo (a entrevista está aqui), a exemplo do que foi feito com a Liga Nacional de Basquete, que organiza o Novo Basquete Brasil (NBB).

O interessante na conversa foi uma resposta dada por Gustavo de Mello. Brasileiro, radicado há mais de dez anos nos EUA, ele é o vice-presidente responsável pelo planejamento da NBA. Mello acredita que o NBB, se seguir o modelo de criação de produto feito pela NBA, poderá se tornar um exemplo para o esporte no país.

Gustavo é brasileiro, cresceu torcendo para o Flamengo no Rio e para o São Paulo em São Paulo, cidade onde acompanhou futebol na infância e adolescência. Mas, quando o assunto é o marketing no esporte, a análise dele de que o NBB pode vir a ser um exemplo para o futebol, mostrar ''que existe um caminho melhor'', faz todo o sentido.

Há, hoje, um vácuo de inovação no esporte dentro do Brasil. Nós não pensamos diferente, não agimos diferente. É só ver o que tem causado a simples mudança de horário de um jogo da rodada no futebol. O tal ''milagre'' do jogo das 11h nada mais é do que um fruto do acaso. Por exigência da PM paulista, um jogo do Paulistão foi para o horário das 11h para não coincidir com manifestações antigoverno. O sucesso do público levou os dirigentes a adotarem o horário das 11h como a grande revolução dos últimos anos no futebol.

Se colocar em prática alguns princípios básicos de promoção do esporte que a NBA faz, o NBB conseguirá, rapidamente, ocupar um lugar de destaque no país. Condições para isso não faltam. Além de praticamente não ter concorrentes, o basquete tem uma facilidade. Como precisa crescer, o esporte é mais afeito a mudanças. É só pensar que existe apenas uma liga independente de sua confederação no Brasil.

O NBB tem tudo para ocupar o vácuo de inovação que existe no esporte brasileiro. Com a NBA por trás, a chance de isso acontecer mais rapidamente é muito maior. Resta saber se as outras modalidades vão acordar depois que isso acontecer. Vale lembrar que, no mercado americano, até por necessidade a NBA foi a primeira liga a mirar a expansão internacional, algo que hoje UFC e NFL buscam a todo custo.