Negócios do Esporte

O problema está na TV ou nos clubes?
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Erich Beting

O esporte brasileiro só vai melhorar quando acabar o monopólio da Globo nas transmissões. Essa máxima é repetida sempre que vem à tona o debate ''divulgação do esporte pela mídia''. Mas será que realmente o problema está na TV ou em quem é o detentor desses direitos?

Sábado a tabela do Brasileirão reserva dois clássicos para o horário das 18h30, que é aquele programado para a transmissão da TV fechada da rodada da competição: Palmeiras x Santos e Fluminense x Vasco. Em São Paulo, o torcedor tem à disposição apenas o VT de São Paulo x Ponte Preta da semana passada para acompanhar na TV fechada (no Rio o torcedor ficou com o clássico paulista ao vivo).

Quem monta a tabela do campeonato é a CBF, e quem vende a transmissão para a TV são os clubes. Logo, são eles que têm condições para exigir da televisão exibir essa ou aquela partida. Mas qual é a preocupação que os clubes têm com a boa divulgação de seu produto?

Para o povo paulista, a alternativa para ver o clássico estadual é comprar o jogo no pay-per-view. A convidativos R$ 85 pela partida ou então R$ 40 de mensalidade. Logicamente os clubes são sócios da Globo na venda do PPV. Mas até nisso a visão é totalmente deturpada.

Na Europa e nos Estados Unidos, o esporte se apoia no PPV para exatamente ampliar os ganhos com transmissão, que já são altíssimos. Um jogo pela TV comprada não sai por mais do que US$ 30 dólares, e isso aqueles de maior demanda. A lógica é simples. Quanto mais gente comprar, maior será o meu faturamento.

Considerando que atualmente o Brasil tem cerca de 15 milhões de lares com TV a cabo, imagine o que seria mais eficiente. Achar alguns abnegados dispostos a pagar R$ 85 para ver uma mísera partida ou então ganhar no volume? Essa é uma lógica muito usada no mercado esportivo americano, em que os clubes exploram o consumo de massa em detrimento do produto para poucos.

Com o preço já abusivo da TV a cabo no Brasil, o PPV hoje, que já dá lucro para os clubes, poderia ser muito mais rentável para o futebol. Para isso acontecer, porém, não é preciso acabar com o monopólio da Globo, mas sim entender um pouco mais o potencial de geração de riqueza que existe na transmissão do futebol.

Um exemplo simples.

Quando os clubes assinam individualmente com a TV, perdem a condição de fazer um canal próprio de geração de imagens e faturar diretamente com a venda da transmissão pela internet. E isso para todo o mundo! Hoje, no Brasil, o torcedor fã da NFL, da NBA ou até do Campeonato Escocês de futebol pode comprar, por cerca de US$ 10 ao mês, um passe para assistir a todos os jogos do campeonato.

Definitivamente o problema do esporte no Brasil não é o monopólio da Globo, mas a falta de visão do esporte.

Afinal, na era da mídia fragmentada, os produtores de conteúdo não são as empresas de mídia, mas sim os detentores do bom conteúdo. E o esporte, nesse quesito, é um dos maiores produtores de conteúdo do ramo do entretenimento. Mas, é claro, é bem mais fácil jogar o problema na ''exigência do detentor dos direitos de transmissão''…


Armstrong e o custo da vitória a qualquer preço
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Erich Beting

Lance Armstrong desistiu da luta para tentar provar que não se dopava e, ao que tudo indica, perderá o direito de se dizer heptacampeão da Volta da França. O maior nome do ciclismo mundial, que com sua história de superação após quase morrer de câncer e voltar para ganhar sete vezes o mais tradicional evento do esporte, acusou o golpe, desistiu de provar que não se dopou e, agora, é manchete em todo o mundo exatamente por conta daquilo que sempre negou fazer.

Mas será que o problema é só de Armstrong ou de toda a indústria do esporte nos dias atuais?

O quanto é possível para o ser humano atingir esforços sobrenaturais e performances astronômicas? O quanto o modelo que impera no mercado contribui para que os fins justifique os meios?

Armstrong só foi pego no antidoping porque sua urina foi congelada e analisada cerca de 15 anos depois de ele ter tido a performance vencedora. Naquela época, não havia tecnologia que conseguisse pegar a adulteração que ele provocou no próprio corpo para conseguir ser vitorioso. Essa é a velha história de que o bandido sempre está à frente do mocinho. Só passamos a tentar prever um ato ilegal depois que ele já foi cometido.

Só que, ao longo desses 15 anos, Armstrong colheu os louros de ser o grande campeão, de ter um formidável projeto social apoiado por gigantescas empresas, de ser exemplo para todos de como ser um ''campeão''.

Mas será que é possível para qualquer atleta na atualidade ser um vencedor sem lançar mão do doping? Como pode, por exemplo, os nadadores baterem recordes em Londres depois que os supermaiôs foram banidos? Sem a ajuda da tecnologia eles são mais rápidos mesmo ou tem mais coisa por trás dessas conquistas?

O esporte só premia o vencedor. Desde a mídia, passando pelo patrocinador, a história dos grandes ídolos é construída a partir do vitorioso. Não é esse um problema do esporte, mas sim algo natural do ser humano. Sempre nos é contada a versão do vitorioso sobre uma determinada história.

Só que o custo da vitória a qualquer preço é exatamente o que mais interfere no esporte. Como usarmos os valores morais que o esporte se vangloria de passar para as pessoas se, na essência, os grandes campeões às vezes não são tão ''grandes'' assim?

Lance Armstrong é o exemplo de hoje, assim como Tiger Woods foi no passado ou algum outro será no futuro.

O fato é que o esporte de alta performance não é, e nunca foi, um lugar para gestos nobres. Ele é a essência do que há de mais primitivo do ser humano. É uma espécie de luta pela sobrevivência, de competitividade a todo preço, de necessidade de um continuar vivo independentemente dos meios que consiga para isso.

E a história dos vencedores que a mídia nos conta, que os patrocinadores apoiam e que os jovens se espelham são, muitas vezes, maculadas por escandalosos esquemas de manipulação de resultados. Em tempo. Em todas as sete conquistas de Armstrong na Volta da França, os seus rivais também estiveram, numa época ou na outra, envolvidos em escândalos envolvendo o doping…

O esporte como gerador de grandes negócios tem um potencial imenso, tanto para as empresas quanto para os atletas. O que não se pode nunca esquecer é que a história ''limpa'' de uma vitória é muito mais bonita.


A lição de Dilma após as Olimpíadas
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Erich Beting

O assunto já está ficando velho, mas não deu para escrever na semana pós-Londres. O fato é que a presidente da República, Dilma Rousseff, talvez tenha sido a primeira autoridade pública da história a não fazer oba-oba em cima do desempenho brasileiro após um grande evento.

Depois de dois mandatos de Lula e seu populismo em torno do esporte (como não lembrar da promessa ao futebol feminino depois de Atenas-04 ou das infindáveis recepções a esportistas nacionais e promessas de incentivos?), ou de FHC e a pataquada da cambalhota de Vampeta no Palácio do Planalto, não tivemos simplesmente qualquer barulho em torno da volta dos atletas brasileiros dos Jogos Olímpicos de 2012.

Pelo contrário.

Dilma tão somente recepcionou a bandeira olímpica (que trouxe a tiracolo os irmãos Falcão, do boxe) num evento muito mais protocolar porque os Jogos de 2016 serão em solo nacional. E olha que não faltariam motivos para festas. Além das inéditas conquistas do judô, da ginástica e do bi do vôlei feminino, o Brasil encerrou Londres com o maior número em sua história de medalhas conquistadas numa mesma edição de Jogos Olímpicos.

Qualquer que fosse o político, teríamos sem dúvida um tremendo carnaval, com promessas de mais ouros e mais investimentos até 2016 e quetais. Dilma recepcionou a bandeira olímpica, beijou as medalhas de Esquiva e Yamaguchi e cobrou mais determinação do país para que conquiste mais do que as 17 medalhas londrinas nos Jogos do Rio de Janeiro.

Não parece muita coisa, mas sem dúvida é um tremendo benefício para o esporte brasileiro alguém que comanda o país não querer tanto aparecer na foto com os campeões e sim poder celebrar mais esportistas bem-sucedidos. Nunca antes na história deste país tivemos tão pouca promoção em cima de uma participação brasileira num evento esportivo de grande porte.

É uma lição que fica para o esporte pelos próximos anos.


A nova camisa do Palmeiras e a nova atitude no futebol brasileiro
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Erich Beting

A Adidas resolveu criar uma história diferente para apresentar a nova camisa do Palmeiras. Inovou ao colocar um carro-forte ''protegendo'' o novo uniforme e permitiu que, durante 15 segundos, torcedores entrassem no veículo para conhecer o fardamento, que será apresentado finalmente ao público nesta sexta-feira, num evento no horário de almoço na avenida Paulista, uma das mais movimentadas da cidade de São Paulo.

ALELUIA!

Finalmente as marcas estão conseguindo convencer os clubes a abandonaram a presepada de ''desfile de apresentação'' do novo uniforme. Historicamente sempre foi assim. Jogadores e modelos, dentro das dependências do clube, desfilam num evento fechado para os conselheiros do clube e jornalistas. Antes disso, invariavelmente, a camisa ''vazava'' para o torcedor por meio de grandes veículos no dia em que o lançamento era feito nessa festa para poucos.

Em 2007, a fabricante alemã também ''apresentou'' a camisa verde limão do Palmeiras num evento para 500 torcedores que compraram o uniforme previamente e foram conhecê-lo numa foto oficial na arquibancada do Palestra Itália. Na ocasião, porém, o que tinha de conselheiro aparecendo na foto…

Na Europa, a apresentação de uniforme do clube é marcada pelo inusitado, por aquilo que geralmente ''choca'' o torcedor e que não fica restrita ao ambiente do clube. Recentemente, a mesma Adidas fez uma ação muito legal com o torcedor do Ajax, na Holanda. O torcedor comprava a camisa na loja e era surpreendido quando ia tirar uma simples foto de recordação do momento (veja mais ao final do post).

Com certeza ainda chegaremos nesse patamar. Para as marcas, fazer algo diferente para o torcedor é a razão de ser de um patrocínio. É o momento em que a paixão se reforça e que o consumidor fica mais próximo da empresa que patrocina o seu clube. Abaixo, é possível conferir a ação da Adidas com o Ajax e a que foi feita com o Palmeiras nos últimos dias.

A ação com a nova camisa do Ajax…

… e a feita para o torcedor palmeirense.


A Conmebol ataca outra vez!
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Erich Beting

Quarta-feira, dia 22 de agosto de 2012. Universidad do Chile e Santos se enfrentam pela final da Recopa Santander Sul-Americana, em partida disputada em Santiago. No mesmo horário, Botafogo e Palmeiras decidem, no Rio de Janeiro, um dos classificados para as oitavas-de-final da Copa Bridgestone Sul-Americana.

O resultado, para moradores de São Paulo e Rio de Janeiro, era óbvio. TV aberta com o duelo brasileiro pela Sul-Americana, enquanto o torcedor santista tinha de buscar a TV por assinatura para conseguir acompanhar o empate do Peixe contra ''La U''.

Se ainda fossem entidades distintas que organizassem as duas competições, até poderíamos aceitar a ''coincidência''. Mas vindo da mesma organizadora dos dois torneios, é simplesmente desesperador ver o nível que anda a gestão esportiva na América do Sul. Isso para não entrar no mérito de que a final da Recopa acontece depois que o campeão da Santander Libertadores do ano corrente já foi definido.

O fato é que a Conmebol, que já é mestre em não exigir dos detentores dos direitos de transmissão de suas competições que exibam as partidas decisivas dos torneios, atacou mais uma vez. Conseguiu marcar para o mesmo dia e horário a final de um de seus torneios e uma fase de classificação de outro.

Quando muita gente não entende porque se fala que um Neymar, um Oscar ou um Lucas devem jogar no exterior, é exatamente por motivos como esse. O atleta ir para a Europa não representa apenas a possibilidade de ganho esportivo. Ao cruzar o oceano, ele terá de aprender a se posicionar num outro nível.

É só perceber que, quase sempre, o jogador brasileiro que consegue fazer uma grande carreira na Europa volta num outro patamar para o Brasil. O grau de profissionalismo, a forma como ele trabalha o relacionamento com o clube e a maneira como se comporta, entendendo muitas vezes que seu papel vai muito além das quatro linhas.

Qual a chance de um atleta evoluir para um estágio maior de profissionalismo quando se tem exemplos de gestão como os da Conmebol ou de uma CBF?

O caminho para manter os ídolos em atividade dentro do Brasil não é só a economia do país melhorar e, dessa forma, ter mais recursos para manter os atletas. Ele passa, obrigatoriamente, por uma melhor preparação da indústria do esporte para evoluir como negócio. Definitivamente não será marcando dois jogos de competições diferentes num mesmo dia e horário que vamos evoluir.


O PES-2013 mostra a falta de visão do futebol no Brasil
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Erich Beting

A Konami apresentou ontem para o mercado o Pro Evolution Soccer 2013. O jogo de videogame contará, pela primeira vez, com os 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro (leia mais detalhes aqui). A presença das equipes brasileiras é uma tremenda evolução competitiva para a Konami no mercado nacional, algo que a empresa tem buscado nos últimos três anos, quando passou a olhar para o público brasileiro com mais carinho com o início da transmissão dos jogos com o narrador Silvio Luiz.

Mas é simplesmente vergonhoso saber, pela própria Konami, que o acordo com todos os 20 times da Série A do Brasileirão só foi obtido um dia antes da apresentação do jogo para o público. Sim, é isso mesmo! Foi preciso que os executivos da empresa negociassem com cada um dos 20 clubes separadamente para que as equipes fizessem parte do game.

Quando discutimos aqui no blog o tiro no pé que os clubes brasileiros estavam dando ao abandonarem a negociação coletiva com a televisão para partir para acordos individuais, muitos discutiram que todos só tinham a ganhar. O caso da Konami, porém, só reforça o quanto os clubes perdem oportunidades exatamente por não terem uma entidade que represente os interesses comerciais deles.

O que os dirigentes raramente percebem, e isso é um fenômeno mundial, é que clubes de futebol são concorrentes apenas dentro de campo. Fora deles, não há qualquer hipótese de um clube ganhar consumidor do outro. O raciocínio é simples. Quando um torcedor vai consumir um produto de um time rival?

O caso da Konami só reforça isso. Imagine o quão trabalhoso é, para a empresa, negociar com 20 clubes diferentes quando poderia chegar a uma entidade e fechar um negócio diretamente?

Bom, resolvido esse problema, entramos em outro, que interfere, no longo prazo, no potencial de geração de receitas do futebol. Ao ficar na base do ''cada um por si'', o Brasil perde uma excelente oportunidade de construção de uma marca para o futebol do país. E esse é o ponto básico de revolução comercial dos principais eventos esportivos do mundo.

O grande mote para o sucesso comercial dos Jogos Olímpicos, por exemplo, são os aros que simbolizam as Olimpíadas. Da mesma forma, a taça da Copa do Mundo é um objeto que identifica o torneio e faz com que a marca seja desejada pelos consumidores. Para quem comprar o PES-2013, já na seleção das ligas nacionais poderá ser visto o assombro que é o Campeonato Brasileiro não ter nem ao menos um logotipo que identifique a competição.

O dinheiro da TV tem turbinado, e muito, o cofre dos clubes. Mas, há mais de uma década, os principais times de futebol do mundo perceberam que mais valiosa que a verba da televisão é o potencial de geração de receitas que vem do consumo do torcedor. E isso passa, necessariamente, por estruturar negociações conjuntas de marketing.

Imagine a gama de produtos que poderiam ser geradas do Campeonato Brasileiro de futebol? O mercado de videogames é um dos mais promissores e desejados pelas marcas em todo o mundo. Afinal, os games falam prioritariamente com um público jovem e de alto poder aquisitivo.

Qual seria o poder de barganha dos clubes numa negociação coletiva com a Konami? Há cinco anos, um racha parecido na negociação dos direitos de produção dos álbuns de figurinhas dos clubes gerou um impasse que simplesmente acabou com o álbum do Brasileirão.

Os clubes continuam a se enxergar como uma vitrine expositora de produtos (e, no caso, esse produto é o jogador de futebol), em vez de perceberem que são, na verdade, o próprio produto em si. Por isso mesmo continua a velha reclamação de que falta dinheiro no caixa e, pior, há poder demais concentrado na televisão. O cenário só vai mudar quando aceitar-se o óbvio. Acima de qualquer clube está a competição que ele disputa, assim como acima de qualquer atleta está o clube que ele representa.


O duelo das concorrentes na Copa de 2014
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Erich Beting

Adidas x Nike; Visa x MasterCard; Oi x Vivo; Kia-Hyundai x Volkswagen. A Copa do Mundo de 2014 reserva quadro duelos mais do que especiais entre essas empresas de diferente campos de atuação que, não por acaso, são os quatro segmentos de mercado que mais impulsionam os patrocínios esportivos pelo mundo. Com a MasterCard anunciando o patrocínio à CBF, o duelo fica acirrado nas áreas de material esportivo, cartão de crédito, montadora e telefonia celular.

O cerne de todas essas disputas é a maneira como cada uma dessas empresas vai comunicar o patrocínio esportivo que tem. De um lado estão os patrocinadores oficiais da Fifa (Adidas, Visa, Oi e Kia-Hyundai) e do outro, os da CBF (Nike, MasterCard, Vivo e Volkswagen).

Nas disputas entre marketing de emboscada e do patrocinador oficial, que tanto bati na tecla durante as Olimpíadas de Londres, o que mais veremos nos próximos dois anos é exatamente isso.

E a pergunta que fica, e que deveria nortear toda a estratégia de comunicação de cada uma dessas marcas, é simples: qual propriedade tem mais valor? A Copa do Mundo ou a seleção do país-sede da Copa?

Para quem quiser fisgar o consumidor brasileiro, sem dúvida alguma que a seleção brasileira será sempre maior do que a Copa. E isso deverá fazer com que cada uma das empresas adote uma estratégia local possivelmente diferente da global para comunicar os seus patrocínios.

A certeza é que teremos pela frente dois anos de divertidas batalhas.


Após Jogos, Londres terá canal com esportes “lado B”
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Erich Beting

O nome já deixa claro. ''London Legacy'' é um canal de esportes que deverá ser lançado em novembro próximo pela empresa Highflyer Group. O objetivo é abrir espaço para aquilo que os ingleses chamam de ''lado B'' dos esportes. Ou seja, aquelas modalidades que não estão o tempo todo na telinha e que mostraram, nos Jogos Olímpicos, potencial para justificar a criação de um canal de TV que acompanhe esses esportes.

A ideia é que modalidades como judô, atletismo e ginástica tenham mais espaço na programação esportiva. Segundo John Fairley, responsável pela iniciativa, já existem três patrocinadores interessados em bancar os custos de quase 6 milhões de libras para implementação do projeto.

Uma das discussões levantadas pelo blog durante as Olimpíadas era a da falta de cultura do inglês em acompanhar diferentes modalidades esportivas. Mais ou menos como o brasileiro, em que há um massacre do futebol na grande mídia, o britânico também sofre para acompanhar outros esportes na televisão.

As Olimpíadas serviram como uma espécie de alento e, mais do que isso, de inspiração para mostrar que é possível ganhar dinheiro transmitindo competições esportivas ''alternativas''. Essa talvez fosse a maior dúvida do mercado, tanto que a ideia do canal ''London Legacy'' é aproveitar a brecha deixada pelas grandes emissoras, que continuam com o foco nos programas de maior audiência e, consequentemente, maior retorno publicitário.

E o que impede uma repetição disso no Brasil para, sei lá, novembro de 2016?

O maior entrave, a meu ver, é a já enorme oferta de canais de esporte que temos. Sim, reclama-se muito que falta divulgação dos esportes no país. Mas não podemos dizer que faltam opções. São pelo menos cinco emissoras dedicadas exclusivamente ao tema (ESPN, Sportv, BandSports, Esporte Interativo e FoxSports) e ao todo pelo menos oito canais (sem colocar na lista o ESPN+ e um eventual quarto canal do Sportv). Fazendo uma conta pelo alto, o dia esportivo na TV brasileira pode chegar a quase 200h de programação.

Como abrir espaço dentro do mercado publicitário para custear mais um canal com temática esportiva? Sobra dinheiro no bolo das empresas para isso? Sinceramente, acho difícil.

O caminho para mudar isso, então, tem de partir do esporte. Dentro dessas infindáveis horas disponíveis na televisão para mostrar o esporte, porque vemos produtos relativamente desinteressantes entrarem na grade em detrimento de um conteúdo nacional? Pode parecer engraçado, mas infelizmente é mais fácil (e infinitamente mais barato) exibir um programa de meia hora com o que de melhor aconteceu no Campeonato Português do que um especial de meia hora sobre a Superliga de vôlei.

O esporte no Brasil não se enxerga como produto de mídia. Sirvo-me, aqui, da definição que a NBA (liga de basquete dos EUA) usa para o que ela representa: ''A NBA é uma empresa de esportes e mídia que apresenta 3 ligas profissionais de basquete: a NBA, WNBA e a D-League'', diz o texto que consta na página da NBA.

O discurso do pobre coitado que o esporte adora adotar no Brasil reforça, ainda mais, a falta de oportunidade para o crescimento dos demais esportes além do futebol. Em vez de reclamar que ninguém dá suporte, por que os gestores e atletas não passam a entender o que de fato são como produto?

Precisaremos nos assombrar com o alcance de mídia de uma Olimpíada dentro de nosso país para perceber que dá para consumir mais esportes além do futebol. Mas será improvável ter espaço para mais um canal dedicado exclusivamente a esportes no Brasil em 2017. O caminho para que mais esportes entrem na grade de programação das emissoras passa, necessariamente, pela mudança de comportamento dos gestores e dos atletas. E, para isso acontecer, não precisamos dos Jogos Olímpicos.


Ressaca olímpica
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Erich Beting

Confesso que esperava menos tempo de ressaca. Nas duas últimas Copas do Mundo bastaram uns dois ou três dias para que voltasse à carga com o consumo de esporte depois de um megaevento. Mas já faz uma semana de volta à realidade brasileira e, a não ser por dever de ofício, voltei a acompanhar as novidades das diferentes modalidades no Brasil e no mundo.

A ressaca pós-grande evento é absolutamente natural. Mas sinceramente acho que desta vez ela é maior porque não tem mais o que fazer, discutir ou pensar. A partir de agora, a bola está no Brasil e o relógio faz um tic-tac cada vez mais apressado.

Estive em Londres dois anos e meio antes de as Olimpíadas começarem. O Parque Olímpico ainda tinha muito entulho, mas já era uma realidade palpável. As linhas de trem e metrô já chegavam a Stratford, o estádio Olímpico estava pela metade, o velódromo tinha acabado de ficar pronto, as vias de acesso ao público dentro da região do parque já estavam desenhadas e o projeto de entregar após os Jogos o maior parque da Europa em 150 anos era o que balizava todo o investimento de quase R$ 30 bilhões nas Olimpíadas.

Hoje, são menos de dois anos para a Copa do Mundo. Os aeroportos estão praticamente na mesma, a ampliação de meios públicos de transporte para os eventos é quase inexistente e ainda há muitas dúvidas sobre o futuro das instalações pós-evento. Em relação aos quatro anos pré-Jogos do Rio de Janeiro, o próprio Comitê Olímpico Internacional já disse que a Cidade Maravilhosa precisa urgentemente definir o orçamento para organizar o evento.

O abismo entre os dois mundos choca. Talvez essa seja a pior sensação pós-Londres. Até para um otimista incorrigível como sou, bate aquela incerteza sobre o que esperar do Brasil dos megaeventos. Afinal, ainda tratamos a organização de Copa do Mundo e de Jogos Olímpicos como organizar uma festa de Reveillón, uma etapa da Fórmula 1 ou um belo Carnaval. Só que na prática são eventos muito mais complexos e que necessitam de uma estrutura que, talvez, não estejamos preparados ainda para suportar.

Preparo técnico, nessas horas, sinceramente é o de menos. Será impossível para o Brasil ter apenas um dia de Olimpíada sem um medalhista em 2016 (como foi o Reino Unido este ano), ou então ficar entre os cinco primeiros do ranking (como geralmente se posicionam os países-sedes).

Isso não é motivo para termos vergonha, apenas para rediscutirmos a função do Comitê Olímpico Brasileiro enquanto capacitador dos formadores de atleta no Brasil e do próprio governo como facilitador da prática de atividade física.

O buraco está mais embaixo e, particularmente, não acho que envolva o esporte necessariamente. Precisamos mostrar que realmente somos uma nação preparada para ser protagonista mundial. Que é a quinta maior economia do mundo tendo excelência em serviço, atendimento ao cidadão, civilidade.

Como estão andando as coisas, faremos uma Copa e uma Olimpíada bem ao estilo que tanto marcou o Brasil nas últimas décadas. Com muita alegria e charme, mas sem o grau necessário de profissionalismo que eventos desse porte exigem. É nessas horas que qualquer comparação com Londres faz bater uma ressaca olímpica.

Espero, como cidadão brasileiro e profissional que atua com o esporte no país, queimar a minha língua de forma jamais vista. Mas uma semana depois de voltar de Londres, continuo com aquela sensação de que era melhor ter parado por ali antes de extrapolar na dose…


Em Londres, artista cria tênis para Dilma Rousseff simbolizando o Rio-2016
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Erich Beting

Um tênis que simboliza a transição dos Jogos Olímpicos de Londres para os do Rio de Janeiro, em 2016. Essa é a inspiração que o artista brasileiro Loro Verz teve para criar um presente a ser entregue para a presidente Dilma Rousseff. A obra faz parte do trabalho que o artista fez durante 15 dias nas Olimpíadas, quando customizou 16 pares de tênis para serem entregues a personalidades brasileiras e que marcassem a experiência de Loro com os Jogos.

O blog teve acesso exclusivo às imagens do par que será entregue para a presidente Dilma Rousseff. Segundo Loro Verz, a ideia é reforçar a brasilidade na arte, mas também mostrar que as Olimpíadas, agora, estão com o pé no Brasil. Durante os Jogos de Londres, Verz e mais cinco artistas britânicos fizeram arte em cima dos tênis usados pelos atletas patrocinados pela Adidas nas Olimpíadas.

O trabalho mostra o quanto, para os próximos anos, a tendência é que as marcas esportivas unam-se à arte para ampliarem a exposição do esporte e, principalmente, aproximá-lo do público jovem. Em Londres mesmo, essa foi uma tendência, com a Adidas contratando artistas renomados, além de outras marcas usando a arte para comunicar o esporte a um diferente tipo de público. As próprias cerimônias de abertura e encerramento foram uma mostra dessa junção.

Confira abaixo, com exclusividade, as fotos do tênis criado para a presidente Dilma Rousseff pelo artista Loro Verz.