Negócios do Esporte

O ciclismo e as cidades. Há solução. Porém…
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Erich Beting

Na última terça-feira diversos protestos foram feitos em algumas capitais do país contra a morte de ciclistas no trânsito. Na sexta-feira passada foram cinco mortos em cinco cidades diferentes. A CET, em São Paulo, registra a morte de um ciclista por semana (número que representa uma excelente melhora em comparação a 2009, quando eram dois ciclistas que perdiam a vida no trânsito semanalmente). E a discussão, para variar, vira uma gritaria geral de cada lado sem que seja feito de fato um trabalho para mudar a realidade nas grandes cidades brasileiras.

Recentemente fizemos na Máquina do Esporte um mapeamento do mercado de ciclismo no mundo e do Brasil. O estudo mostra que, cada vez mais, uma das alternativas para desengarrafar os trânsitos das grandes cidades é apostar na bicicleta como meio de transporte. E essa também é a grande tendência para marcas e empresas se associarem ao ciclismo. Com o esporte de competição manchado pela divulgação constante de casos de doping, o ciclismo virou uma excelente opção de investimento quando associado a um estilo de vida.

O processo começou em Lyon, na França, em 2004, e rapidamente se espalhou por outras grandes cidades. As prefeituras locais começaram, na marra, a abrir espaço para o uso da bicicleta. Na marra não significa, porém, sem planejamento. Em parceria com empresas privadas, foram traçadas rotas para serem usadas por ciclistas. A relação de ganho é evidente. A cidade cria uma alternativa para ter menos carro na rua, para ter mais gente praticando atividade física e sem precisar gastar dinheiro para isso, já que é a iniciativa privada quem paga a conta. Essa, por sua vez, se beneficia de apoiar uma causa ecologicamente correta, além de se relacionar com um tipo de público extremamente fiel às marcas que apoiam os ciclistas. E, por fim, a população se beneficia em ter meios alternativos para o trânsito e, também, para a prática livre da atividade física.

Esses conceitos, porém, só conseguem ser aplicados quando existe um mínimo de planejamento urbano. No Brasil que se vangloria em ser um dos cinco maiores mercados consumidores de carros no mundo, logicamente o espaço público é, há quase 60 anos, planejado apenas para o automóvel. Sempre a força propulsora da economia representada na figura do carro, com seus planos de 5 anos para pagar e taxas de juros especialíssimas, veio em primeiro lugar nos planos de urbanização.

Mas o próprio caso paulistano desta semana mostra o quão paradoxal é o mercado automobilístico hoje. Não há mais combustível nos postos numa estapafúrdia represália dos caminhões de abastecimento que não poderem entrar na cidade no horário ''normal'' exatamente por conta da saturação das vias públicas de transporte, abarrotadas de veículos.

É uma autofagia completa.

Uma das soluções seria começar a repensar como as cidades lidam com os meios de transporte. E aí São Paulo e o Brasil poderiam, por exemplo, olhar o exemplo de Bogotá, na Colômbia, que não dissipou todo o caos no trânsito, mas conseguiu implementar centenas de quilômetros de ciclovias em relevo tão acidentado quanto o de São Paulo, oferecendo alternativa para as pessoas.

O problema é que pensar em adotar o ciclismo nas cidades significa incomodar um pouco a indústria automobilística. Claro, o cidadão não é a preferência, mas sim os IPVAs, ICMS e afins que serão pagos em toda a cadeia de impostos ligados ao carro. Solução existe e exemplos em diversas cidades do mundo não faltam.

Porém, mais uma vez, falta cérebro e bom senso a quem tem de definir um plano urbanístico para as cidades. O melhor exemplo é a malfadada ciclofaixa de Moema, bairro da Zona Sul paulistana. Ela é a mostra de quão desleixada é a preocupação das prefeituras em resolver o problema do trânsito, ainda mais para quem não representa a maioria dos consumidores. Para quem quiser tentar entender um pouco do enrosco, segue um bom link para leitura (clique aqui).

Em tempo. O mercado esportivo tem hoje, na bicicleta, a sua maior movimentação de receita. O motivo? A adoção cada vez maior da bike como meio de transporte nas grandes cidades. Quase 15% de tudo o que movimenta a economia do esporte vem da bicicleta.

Já passou da hora de resolvermos esse problema.


O atleta em primeiro lugar
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Erich Beting

Quem vem antes, o atleta ou o patrocinador? Essa pergunta era aceitável no Brasil há cerca de 30 anos, quando o marketing esportivo ainda engatinhava e as empresas entendiam que, se pagavam a conta, tinham mais direitos do que deveres. Hoje, a coisa mudou, e muito. O marketing é importante ferramenta para alavancar o esporte e, principalmente, aquilo que é essencial, que é o atleta.

Mas eis que, na cerimônia de premiação da Meia Maratona de São Paulo, no último final de semana, voltamos aos primórdios. O atleta simplesmente foi colocado em último plano exatamente no momento máximo de coroação de sua performance, que é a cerimônia de premiação do evento. A Yescom, organizadora do evento, criou uma nova propriedade para o patrocinador da prova, que é uma espécie de ''front drop'', ou uma placa de publicidade à frente do atleta.

O detalhe, como é possível ver na foto divulgada pela assessoria de imprensa oficial do evento ao final do texto, é que essa propriedade simplesmente faz com que a marca do patrocinador pessoal do atleta seja ''cortada'' na maioria das imagens do pódio. Muitas vezes, é claro, o patrocinador do atleta conflita com o apoiador da prova, mas essa é a graça do marketing no esporte, que é permitir que diferentes marcas tenham diferentes propriedades dentro de um mesmo evento, mesmo sendo empresas que concorrem num mesmo mercado.

Mas aí é que entra o perigo dessa novidade da Yescom. Se a moda pega, o que será do atleta? Como será que ele vai conseguir batalhar por patrocínios pessoais se, em todos os eventos, o seu patrocinador pessoal for suprimido por ações dos organizadores do evento. A essência do esporte é o atleta. Sem ele, simplesmente não existe a competição e, também, não existe a promoção dos eventos. Ele está sempre em primeiro lugar, mesmo sendo a parte que menos fatura em toda a máquina do esporte.

Na Inglaterra, uma discussão semelhante toma conta dos atletas que vão disputar os Jogos Olímpicos agora em julho/agosto. O Comitê Olímpico Britânico quer fazer valer o contrato com a Adidas, que exige a todos os atletas vestirem a marca das três listras na cerimônia de pódio. O ponto de discórdia é exatamente o que os atletas irão calçar quando forem receber a medalha. Existe um movimento para fazer com que o britânico que não tiver o patrocínio da Adidas simplesmente entrar descalço no pódio.

Obviamente o patrocínio a atletas é uma forma de marcas concorrentes fazerem emboscada em eventos esportivos. Mas é, também, uma forma de o atleta conseguir aumentar seus rendimentos e, ainda, permitir que mais marcas estejam presentes na indústria do esporte.

O atleta está sempre em primeiro lugar. Afinal, se ninguém mais conseguir correr por falta de patrocínio, o que será da vida de um organizador de provas de corrida? Claro que a hipótese é estapafúrdia, mas a lógica que existe para permitir ao esportista ter o seu próprio patrocínio é exatamente esta. Não adianta pensar no esporte sem pensar, primeiro, no atleta.

Pódio da Meia Maratona de São Paulo
O pódio na Meia Maratona de São Paulo com o ''front drop'' dos patrocinadores


Algumas questões
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Erich Beting

Rápida leitura nos jornais de hoje, zapeada pela internet desde ontem, e as perguntas que ficam sobre CBF, Ricardo Teixeira, Sandro Rosell, Alianto Marketing, Copa de 2014…

– Por que a Fifa, que sempre defendeu Teixeira, simplesmente não dá as caras por aqui para mudar o foco da discussão? Sei lá, inventa um fato novo sobre a Copa de 2014 e livra o presidente do comitê organizador do torneio do tsunami que se aproxima.

– Por que Jack Warner, Bin Hamman, Ricardo Teixeira, Julio Grondona e Nicolás Leóz sumiram do mapa suíço nos últimos tempos?

– Por que os presidentes de federações não conseguem realmente ter a coragem de tocar o barco em frente e peitar o chefão que tinha tudo para largar o osso, mas não consegue? Claramente não é questão de ser ''vendido'', é mero receio mesmo de sofrer retaliações e perder a bocada em seu estado.

– Por que Rosell conseguiu o patrocínio da Qatar Fondation para o Barcelona pouco depois de assumir como presidente e de ser um dos principais articuladores da vitoriosa campanha do Qatar para a Copa de 2022?

– Por que a mídia espanhola simplesmente ignora o fato de o presidente do time de futebol mais imponente do mundo hoje estar mais enrolado do que o Pepe quando enfrenta o Messi?

Ainda há muitas perguntas, sem dúvida, mas essas são algumas das questões mais elucidativas para tentar explicar o inferno astral que vive por aqui a trupe amaldiçoada na Fifa desde que decidiu criar um grupo de oposição e acabar com o reinado de Joseph Blatter. Talvez isso explique, também, por que a presidência da CBF não tenha tido um novo dono desde ontem.

Nos jogos dos bastidores, a política interfere, e muito, a gestão do esporte. Pelo menos agora o debate sobre o quão enraizado está o jogo político nas entidades esportivas veio ainda mais à superfície. Pode ser indício de uma evolução na forma como o futebol é mundialmente gerenciado. Ou, infelizmente, é só um sinal de que as cartas não são mais dadas pelos cartolas de antigamente.


O problema não é o Mano, é mais em cima
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Erich Beting

Muito se discutiu nos últimos dias sobre o trabalho (?) que Mano Menezes tem feito à frente da seleção brasileira. A pífia atuação diante da Bósnia gerou uma série de protestos e de constatações, como a perfeita definição de Tostão em sua coluna na ''Folha de S. Paulo'', de que Ronaldinho não dá mais.

Só que o problema não é apenas técnico. Ou do técnico. É bem mais em cima, e tem tudo a ver com o que aconteceu ontem na sede da Confederação Brasileira de Futebol.

Mano Menezes está, literalmente, abandonado.

Ricardo Teixeira, seu chefe, é uma espécie de comandante Schettino, deixando o barco à deriva. Ele não se preocupa em saber qual é o projeto para o time brasileiro, mas sim em manter o seu cargo vitalício à frente da CBF e equilibrando os pratos para seguir no comando da Copa do Mundo de 2014.

E aí reside o maior problema para Mano Menezes. O seu trabalho sempre rendeu bons frutos quando tinha um comando eficiente acima dele, seja no Grêmio, seja no Corinthians. Sua preocupação era seguir as determinações do departamento de futebol e cumprir um objetivo estabelecido.

Quando Muricy Ramalho foi chamado para comandar a seleção, recebeu de Teixeira a carta branca para fazer ''o que bem entendesse''. Muricy recusou, talvez já escaldado pela experiência recente no Palmeiras, único clube de ponta que dirigiu nos últimos anos e que não tinha um comando superior claro.

Mano está à deriva, sem ter alguém para ajudá-lo a comandar a seleção brasileira. Ele não é o presidente da CBF, é apenas o treinador. Que está abandonado, sem ter um respaldo para as atitudes que toma.

O problema da seleção brasileira não é apenas técnico. É, muito mais do que isso, é gerencial. Não há um direcionamento dentro da empresa. Cada um corre para um lado e atua de forma autônoma.

Isso só funcionaria se, em cada um dos cargos, tivessem gestores preparados para saberem como se comportar como empreendedores. No futebol brasileiro, porém, claramente nenhum treinador tem condição de ser manager. O único que quis se autoproclamar isso mostra, a cada insucesso, como é difícil ter de cuidar de todas as áreas dentro do futebol.

O buraco da seleção é bem mais em cima. Não pode o diretor de RH de uma empresa ser o responsável por formar uma equipe vencedora. Sempre é preciso ter um direcionamento do comando da companhia sobre qual é o perfil que se espera do candidato ao emprego.

Mano carece, urgentemente, de uma direção. Para falar a verdade, o futebol brasileiro como um todo precisa de um norte. Porque está claro, por tudo o que tem acontecido recentemente, que Ricardo Teixeira não conseguiu se preparar este tempo todo para gerenciar algo como a Copa do Mundo.

Ou abre-se mão de ter tudo, ou o futebol brasileiro corre o risco de naufragar justamente quando era hora de submergir e navegar tranquilo em alto mar.


A tola discussão sobre a Lei Geral da Copa
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Erich Beting

Ficou para o dia 6 de março a discussão dos temas polêmicos sobre a Lei Geral da Copa. E o que isso significa, na verdade?

A Fifa colocou como problema urgente do Brasil para a Copa a aprovação da lei que vai regulamentar todos os detalhes pertinentes à organização do Mundial em solo brasileiro.

Agora, os pontos que atravancam a pauta (o benefício da meia-entrada e a permissão do consumo de bebida alcoólica) são exatamente dois debates que o Brasil, desde sempre, já tinha aceitado as regras da Fifa.

E esse é o maior problema. Não apenas por aqui. O fato é que, desde sempre, a Fifa coloca uma série de regras para que um país tenha o direito de abrigar a Copa do Mundo. E, além disso, obriga os governantes do país a assinarem um documento aceitando essas condições e, também, tornando-os fiadores do evento no caso de a conta ''não fechar''.

Até hoje a Coreia do Sul e o Japão sofrem com estádios deficitários, a África do Sul simplesmente contabiliza uma manada branca, e por aí vai. Na Alemanha, o governo soube se preparar para as regras da Fifa e tirar o melhor proveito delas para melhorar alguns pontos da infraestrutura esportiva do país. O resultado é claro. O legado da Copa realmente existe para os alemães.

A discussão sobre a Lei Geral da Copa não vai mudar. Vamos ter de reduzir ao máximo o acesso à meia-entrada, vamos ter de permitir a venda de bebidas dentro dos estádios e, também, continuaremos a ter de pagar a conta no caso de alguma hecatombe.

O Brasil já concordou com isso em 2006, quando apresentou o interesse em se candidatar para receber a Copa. Desde antes disso já se sabia quais eram as regras da Fifa para um país-sede.

A ânsia de receber o evento é maior do que qualquer coisa. E é isso que os seus organizadores sabem fazer, muito bem, para ditarem a regra do jogo. Não há o que ser criticado sobre a Lei Geral da Copa depois de seis anos que o país se candidatou para ser sede do evento.

O ferimento à soberania nacional já ocorreu quando aceitamos assinar sem ler a um papel que garantia que a Copa do Mundo é da Fifa, acontece com as regras delas e o Brasil precisa se adequar a isso.

É possível, porém, fazer do limão uma boa limonada. Por que não usar a gestão do evento Copa do Mundo para aprender a entregar um produto de melhor qualidade para o consumidor?

O debate que temos hoje no Congresso deveria ter ocorrido em 2005, quando ainda postulávamos a sede da Copa. E não foi feito por total ignorância da população sobre o que estava por vir. A magia do futebol é linda, de fato. A realidade, porém, é muito cruel…


O negócio da China de Zizao
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Erich Beting

O Corinthians finalmente apresentou o seu reforço chinês. Chen Zhizhao já tirou algumas fotos com a camisa do clube e na próxima quinta-feira será oficializado como ''jogador'' corintiano. A expectativa é de que Zizao seja uma porta de entrada do Corinthians no mercado chinês.

Em tese, a ideia é boa. Segue os moldes do que a NBA fez, há mais de uma década, com Yao Ming, gigante chinês que se tornou o primeiro atleta do país asiático a jogar na principal liga de basquete do mundo.

Só que a semelhança termina aí.

Sim, temos falado bastante sobre o jogador, há um interesse generalizado em entender mais quem ele é, como era a vida dele na China e o quanto os chineses se interessam pelo curioso caso de ter um jogador de seu país num time de ponta da terra do futebol.

Mas será que o interesse é recíproco? Quanto o mercado chinês aumentará de consumo por conta da ida de um  jogador para o Brasil?

Quando a NBA resolveu colocar Yao Ming em quadra, havia toda uma história de presença da liga no noticiário chinês, sabia-se o tamanho do mercado em que estava-se pisando, conhecia-se o hábito de consumo do povo local em relação ao basquete e, mais importante, Ming era um ídolo local de um esporte com relativo apelo popular.

Na China, o futebol está longe de ser o esporte número 1 do país. Até hoje, manifestações públicas para mais de 20 mil pessoas só são permitidas quando autorizadas pelo governo. Isso faz com que seja difícil para o futebol se popularizar em solo chinês.

Além disso, o que há de referência sobre o futebol na China é a Europa. Já se vão quase 20 anos que os clubes europeus perceberam a necessidade de se tornarem multinacionais. As ligas transmitem seus jogos para o exterior, os times fazem excursões para o oriente e mais um monte de outras ações na mídia dos países de lá para conseguirem ter lembrança de marca.

Outro problema é exatamente o fato de Zizao não ser um Yao Ming. O jogador de futebol é desconhecido no seu país e não desperta o interesse dos fãs tanto quanto Ming conseguia fazer. A mídia local, com isso, não deverá buscar notícias constantes da aventura de seu atleta em outras terras.

O Corinthians faz um movimento interessante para internacionalizar sua marca. Mas para ter sucesso no exterior, os clubes brasileiros precisam primeiro chegar até os outros países – seja por meio de partidas amistosas ou no lançamento de programas com conteúdo sobre eles nas mídias locais – para então conseguir, ao contratar um jogador de outra nacionalidade, ganhar aquele mercado. Ainda mais quando o jogador não é top de linha.

No final das contas, quem está fazendo um Negócio da China é Zizao. Quando ele poderia sonhar em, um dia, ter contrato com um dos clubes mais populares do país que tem o maior número de consumidores do esporte número 1 do mundo?


As redes sociais mudaram a razão de ser das marcas esportivas
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Erich Beting

Na semana passada, em Nova York, o grande lançamento e aposta da Nike para o mercado esportivo não foi uma nova linha de roupas ou de tênis, mas sim a evolução do seu sistema Nike+, ampliado agora para o basquete. Quatro sensores acoplados à palmilha do tênis que medem os principais movimentos dos atletas dentro de uma quadra, inclusive a altura dada durante o salto.

Poucos dias antes, no México, a Adidas apresentou suas novidades para a imprensa. A evolução do sistema Speed Cell foi a grande vedete da fabricante alemã. Agora, não apenas no futebol, mas em outras modalidades, é possível o atleta rastrear seus movimentos e mensurar velocidade, distância percorrida e outras coisas do gênero.

E, tanto no México quanto nos EUA, o grande negócio, na visão das duas empresas, é o fato de toda a performance dos atletas poder ser compartilhada nos sites das fabricantes e, principalmente, nos perfis dos consumidores em suas redes sociais. Essa é a grande mudança no mercado de esporte nos últimos anos. Num movimento que veio desde 2008, quando a Nike criou o sistema plus, as redes sociais passaram a ditar o rumo dos fabricantes de material esportivo.

Hoje, Nike e Adidas, as duas maiores do mercado, são muito mais empresas de tecnologia do que propriamente uma fabricante de calçados. A anedota usada por Mike Parker, CEO da Nike, durante a apresentação da evolução do sistema plus mostra claramente isso. Disse ele que, há algumas décadas, fazia uma viagem de avião e rascunhava o desenho de um tênis. A passageira ao lado perguntou o que era aquilo e ele explicou que desenhava um tênis. A mulher, conta Parker, questionou se ainda havia alguma coisa a ser inventada naquele mercado. Parker, então, emendou: ''Hoje posso dizer que nunca estive tão empolgado com os avanços que podem ser feitos no mercado''.

E avanço nessa área significa, necessariamente, fazer da fabricante uma empresa de tecnologia muito mais do que uma mera produtora de calçados e artigos esportivos. A necessidade de atender aos desejos de comunicação dos consumidores tem feito com que o foco das empresas migrem. Agora, importante não é ter um grande produto tão somente.

Criar facilidades para conectar os diferentes consumidores é o grande diferencial competitivo, hoje, de Nike e Adidas no mercado de calçados. E isso permite que as empresas aumentem suas vendas. As duas, até agora, foram as principais marcas a investirem pesado nesse novo patamar de relacionamento com o consumidor. Em breve, com as vendas aumentando em todo o mundo por conta da conexão dos mundos real e virtual que elas conseguem fazer, as outras empresas deverão seguir um caminho parecido.

As redes sociais já mudam o comportamento das marcas. O consumidor, cada vez mais, é quem determina como é o relacionamento com o produto. Ou, nesse caso, as duas maiores fabricantes de material esportivo do mundo se anteciparam e mostram, para o consumidor, como não deixar de parecer ser algo essencial para o seu dia a dia.


Jeremy Lin e a maneira americana de olhar o esporte
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Erich Beting

O americano vive uma lua-de-mel com Jeremy Lin, americano descendente de taiwaneses, formado em Harvard, armador do New York Knicks e recém-empossado como astro maior da NBA, a liga de basquete do país.

A ''Linsanity'' começou há cerca de duas semanas e é hoje assunto em toda Nova York. Num campeonato que já começou com atraso por causa do locaute, não tem grandes destaques nos times grandes, como o LA Lakers, e sofria para engrenar no gosto das pessoas, o chino-americano Lin parece ser a solução.

Essa é a maneira americana de olhar o esporte. O foco é o consumidor, enquanto o atleta ou o time são as ferramentas para gerar o interesse da pessoa em consumir a modalidade.

A NBA sobreviveria sem Lin, mas com ele a história fica muito mais legal. E o massacre da mídia com relatos sobre o fenômeno do estudante de Harvard que conseguiu chegar à liga mais importante do basquete enche de vontade do público em acompanhar o esporte.

Não por acaso, os dois últimos jogos de Lin pelo Knicks bateram os recordes de audiência na televisão desde os tempos de Jordan. Nas ruas de Nova York, as camisas de número 17 do time da cidade estão espalhadas pelas lojas, de olho no consumo do turista, especialmente o chinês.

Lin não é um craque, mas tinha uma história legal para ser explorada. O americano consegue fazer do esporte um grande meio de se contar grandes histórias e, assim, aumentar o faturamento.

No Brasil, os gestores esportivos continuam a achar que seu grande feito é alimentar a mídia com polêmicas vazias. Enquanto isso o consumidor segue abandonado e ávido para gastar dinheiro.

Não é por acaso que, em solo brasileiro, os gastos em shoppings, shows e cinemas seguem aumentando em proporção bem maior que no esporte. Esses outros segmentos perceberam há pelo menos duas décadas que fazem parte da indústria do entretenimento. Já passou da hora de o esporte acordar para o potencial de consumo que está adormecido. Lin é só mais um exemplo disso.


A mudança que não virá na CBF
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Erich Beting

Ok, Ricardo Teixeira poderá em breve sair do comando do futebol brasileiro. Mas será que de fato teremos uma mudança de mentalidade e de gerenciamento do esporte mais popular do país a partir disso?

A simbologia da queda de Teixeira, justamente naquele momento em que ele viveria o seu apogeu como presidente eterno da CBF, nada mais é do que isso, um mero símbolo. E isso não é um privilégio do Brasil ou do futebol em particular.

A forma como o esporte se estruturou em todo o mundo, à exceção dos Estados Unidos, faz com que mudam-se as figuras mas raramente alterna-se a maneira de gerenciar as principais entidades e clubes esportivos no mundo todo.

É só lembrar a farra que é o entra-e-não-sai das confederações esportivas no país e no mundo.

Na Federação Internacional de Vôlei, após quase três décadas terá troca no poder. No COI, após a dinastia Samaranch, já são dez anos com Jacques Rogge na presidência. Na Iaaf, do atletismo, desde 1999 o senegalês Lamine Diack comanda a entidade. Da mesma forma outros presidentes perpetuam-se no poder e pouco muda no gerenciamento do esporte em cada uma dessas entidades.

O feudo em que se transformou a CBF é difícil de, uma hora para a outra, ser reestruturado. Ainda mais com a organização de uma Copa do Mundo a caminho como é agora. Como disse o mestre Juca Kfouri em sua coluna na “Folha de São Paulo” outro dia, talvez fosse a hora perfeita de os clubes assumirem os controles.

E realmente talvez seja isso o que torna tão intrigante a forma como o esporte nos Estados Unidos é desenvolvido de forma profissional. Não existe concepção de que haja uma entidade que esteja acima dos atletas e dos clubes/universidades. Tudo é formatado colocando o atleta como o grande fazedor do espetáculo. Mesmo os times contam e produzem toda a história sobre os seus atletas (é só ver o que fez agora a NBA com o chino-americano Jeremy Lin, sensação-relâmpago do New York Knicks).

Mas nem isso é possível. Pelo menos não com os gestores que existem nos clubes de futebol do Brasil na atualidade. A crise na CBF é boa para mostrar que as dinastias sempre acabam, mais dia ou menos dia. Mas, do jeito que as coisas estão, nada, ou quase nada, deve mudar.

É um triste relato da falta de profissionalização do esporte. E não só no Brasil.


A profissionalização forçada do esporte
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Erich Beting

Não tem jeito. O esporte será obrigado a se tornar cada vez mais profissional no Brasil. E esse talvez seja de fato um dos ''legados'' da realização de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no país nos próximos anos.

À parte da revolução que está com cara de que vai se aproximar na CBF, os clubes de futebol no Brasil puxam a fila e, aos poucos, começam a ter nos seus departamentos de marketing pessoas com formação acadêmica e, mais do que isso, atuação profissional nas áreas de marketing, publicidade e correlatas.

É uma evolução que ao poucos também começa a se espalhar para outras modalidades e tomará um caminho sem volta no país em cerca de dez anos.

Até 2016, os investimentos das empresas no esporte passarão a ser cada vez maiores e mais criteriosos. O achismo na hora de buscar uma oportunidade está sendo abandonado de vez, e isso força que o esporte esteja preparado para oferecer um bom retorno para os investidores.

Mesmo que com atraso, o Brasil começa a descobrir que investir no esporte não é só caridade, mas um negócio de fato, com prazo de duração, metas previamente estabelecidas e mensurações que vão muito além da simples exposição da marca, sem criar qualquer vínculo com o consumidor.

Num mundo cada vez com mais multiplataformas de comunicação e com a mídia totalmente segmentada, o esporte transforma-se numa eficiente forma de encontrar e se engajar com o consumidor. Só para se ter uma ideia, na Copa de 58, por exemplo, apenas o rádio e os veículos impressos eram usados como meios de busca pela informação pelo torcedor. Em 2014, são pelo menos cinco diferentes plataformas para acompanhar uma partida, além do próprio estádio.

Ainda que à força, as coisas começam a evoluir. Mais um bom exemplo vem do Corinthians, que coloca como diretor de marketing Ivan Marques, um dos sócios da agência de publicidade F/Nazca (leia mais aqui), além de manter toda a estrutura que há quase uma década está no clube.

O esporte também precisa saber fazer marketing, vender seu produto e saber quem é seu consumidor. Do contrário, vai ficar parado no tempo e, possivelmente, será ultrapassado pelos concorrentes.