Negócios do Esporte

Chame o Abílio, Dilma!
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Erich Beting

Ao que tudo indica, o Ministério do Esporte deve ter um novo comandante nos próximos dias. Até mesmo a Fifa já disse que mudará o interlocutor do governo com a entidade, numa demonstração clara de que, mesmo que comprove sua inocência, Orlando Silva Junior deve ser colocado para o banco de reservas.

Já que é assim, bem que a presidente Dilma Rousseff poderia pensar em deixar a política de lado e buscar alguém do mercado para ocupar o cargo. Depois de alguns dias pensando no que poderia ser o melhor, coloco aqui minha campanha: ''Chame o Abílio, Dilma!''.

Abílio Diniz, presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar, é bilionário. Não precisaria usar o cartão corporativo para comer uma tapioca, ou a verba pública para levar a família ao Rio de Janeiro.

Sua habilidade como gestor também é inquestionável. Conseguiu transformar o Pão de Açúcar de uma empresa à beira da falência no maior hipermercado do país. E, nesse tempo, a ligação e o envolvimento com o esporte solidificou não apenas a marca do Pão de Açúcar como ajudou no crescimento de diferentes modalidades no Brasil.

Hoje, a etapa de São Paulo da Maratona Pão de Açúcar de Revezamento é a maior corrida de rua da América Latina, reunindo mais de 30 mil corredores, dos quais quase a metade estreantes no universo da corrida. Além disso, o Audax, time de futebol fundado pela empresa e que tem equipes disputando os estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro, já teve quase 500 mil atletas que passaram pelas suas peneiras. Atrelado à performance dos jogadores está um trabalho social de educação.

Dilma quer aumentar a eficiência da gestão pública por meio da contratação de pessoas técnicas para os ministérios. Taí uma ótima oportunidade para, quem sabe, começarmos a mudar a realidade do esporte no país.


Agora só faltam os aeroportos!
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Erich Beting

A maior aberração prevista para a Copa do Mundo no Brasil foi eliminada para 2014. A Fifa colocou por terra o projeto de dividir o país em quatro regiões e, com isso, diminuir o trânsito das pessoas durante o Mundial. Ainda bem. Caso o projeto fosse mantido, o país perderia exatamente o maior trunfo de organizar o torneio, que é forçar o turista estrangeiro a passear por diferentes regiões, conhecendo mais lugares e dessa forma gastando mais e tendo maior interesse em voltar ao país depois da Copa.

O fim da divisão de grupos em sedes fixas é uma realidade desde 1994, quando os Estados Unidos decidiram aumentar o faturamento com o trânsito interno dos turistas e criou o sistema itinerante para as seleções, atendendo interesses locais e assim mostrando o melhor caminho para o país-sede turbinar a receita com o consumo.

O Brasil, felizmente, não deu o passo para trás. O problema, agora, é outro. Assim como na África do Sul, temos sérios problemas para atender a uma demanda de Copa do Mundo em nossas estruturas aeroportuária, ferroviária e rodoviária. Japoneses, coreanos e alemães tinham uma rede de diferentes meios de transporte para o torcedor ir de um lugar a outro.

Aqui, tal como na África, temos a infraestrutura de transportes baseada em rodovias e em aeroportos antigos e ultrapassados. Em 2010, Porth Elizabeth e Durban foram cidades que entraram em colapso nos dias de grandes jogos. Em solo africano, compensava, pelo menos, as excelentes condições das rodovias do país.

Por aqui, não é difícil imaginar que o projeto de uma Copa do Mundo em todo o território nacional, sem setorização, seja de difícil implementação. Enquanto tivermos a pífia infraestrutura de transportes do país, sem dúvida teremos muitos torcedores que serão prejudicados pela loucura de sair de São Paulo, ir a Manaus e voltar para Fortaleza, por exemplo.

Mas é preciso, para o marketing turístico do país, fazer o torcedor se deparar com as diversidades que existem entre São Paulo, Manaus e Fortaleza. Ou entre as 12 sedes da Copa.

Mas é absolutamente necessário, também, que o projeto de Copa do Mundo para o Brasil seja, urgentemente, definido. O que queremos com o Mundial? Ficou claro, com a divulgação da tabela da competição, que um dos objetivos é mostrar os diversos Brasis que existem aqui. O calor tropical com o frio gaúcho, a bagunça paulista e a paradisíaca Natal.

Só que falta, para que essa imagem de Brasil seja bem vendida para o turista, termos, pelo menos, aeroportos decentes. Do contrário, o Brasil vai mais uma vez querer dizer que é a quinta maior economia do país, mas com uma infraestrutura de quinta categoria.

Pelo menos o primeiro erro, que seria acabar com a chance de mostrarmos o Brasil por inteiro, foi corrigido a tempo. Resta saber se teremos tempo para o restante.

As disparidades das sedes

Brasília não precisa de sete jogos do Mundial, apesar de ser a capital do país, não há cultura futebolística e mesmo tanta atratividade turística que se justifique. Pior do que isso é saber que, por conta de tudo isso, o Novo Mané Garrincha terá de fato capacidade para 70 mil pessoas, que deverá ser cumprida apenas em seis ocasiões na vida da arena (ou em sete, no caso de o Brasil disputar o terceiro lugar do Mundial).

São Paulo como abertura foi um jogo de cartas marcadas. Belo Horizonte foi ''recompensada'' com a semifinal. O problema maior, porém, são os gastos abusivos para estádios acima de 40 mil lugares em locais como Manaus, Cuiabá e Natal. Curioso notar, também, que serão apenas nove jogos nos dois únicos estádios em que se prevê o uso de 100% de dinheiro privado (Curitiba e Porto Alegre).

A política, como costumo dizer por aqui, sempre atrapalha o negócio. Por isso mesmo, não há qualquer surpresa em tudo o que foi anunciado nesta quinta-feira pela Fifa.


Para que serve o Ministério do Esporte?
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Erich Beting

Vamos deixar de lado o que pode vir a acontecer com o ministro Orlando Silva Junior. Agora é apurar se de fato houve mau uso do dinheiro público dentro do Ministério do Esporte e, conforme andar as investigações, que os culpados sejam punidos. Mas a crise na Pasta nos leva a uma discussão muito mais profunda e importante para o crescimento do esporte no Brasil.

Afinal, para que serve um Ministério do Esporte?

Temos, de partida, um problema a ser resolvido no Brasil. Desde os tempos de Getúlio Vargas que não sabemos nem mesmo o que queremos do esporte por aqui. No Brasil que se orgulha em ser ''para todos'', o esporte continua a ser ''para poucos''.

Uma nação mais saudável é, sem dúvida, uma nação que pratica esporte. Para isso acontecer, porém, temos de ter, essencialmente, uma política pública de acesso à prática esportiva. E isso passa, obrigatoriamente, pela criação de uma diretriz de atuação do Ministério do Esporte, já que existe uma pasta exclusiva para tratar do tema.

Afinal, criar leis de incentivo que só valem o incentivo quando o investimento é no esporte de alto rendimento é abrir o caminho para que tenhamos distorções tanto no uso do dinheiro público quanto na eficácia do Ministério do Esporte como meio de desenvolvimento do esporte no país.

Hoje, o Ministério do Esporte virou uma espécie de grande pedágio do esporte no país, a exemplo do que é o Comitê Olímpico Brasileiro. Mais do que criar meios para o crescimento da prática esportiva, o ministério atua como o grande centro distribuidor de verbas para o esporte de alto rendimento.

Sem dúvida precisamos do exemplo que vem de cima, que a mídia tem interesse em mostrar, para fomentar e desenvolver a base. Mas, enquanto houvermos apenas os poucos exemplos do alto rendimento, o esporte no Brasil continuará a ser uma excelente ferramenta para distribuir verbas em projetos nem sempre fundamentais para o crescimento de uma nação que pratica esporte.

O momento é mais do que apropriado para debatermos não apenas a lisura e transparência que se espera de alguém que usa o nosso dinheiro. Isso é condição básica para alguém que está num cargo público. Temos a chance de, como nunca antes na história desse país, discutir para que serve um Ministério do Esporte. E, mais do que isso, de que forma o esporte pode ajudar o Brasil a ser cada vez mais um país melhor.


O fim do rebaixamento é a solução do futebol?
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Erich Beting

O movimento começou na Inglaterra, com os donos de clubes da Premier League defendendo publicamente o fim do sistema de promoção e rebaixamento no Campeonato Inglês.

O receio, nesse caso, não é tanto pelo risco de ver o time na Segunda Divisão, mas muito mais pela lucratividade de uma competição com clubes tão díspares do ponto de vista financeiro.

O maior problema que existe hoje na Premier League é o abismo que existe entre os clubes de ponta e aqueles na rabeira da tabela. Há uma grande disparidade tanto na geração de receitas quanto na ambição mercadológica dos clubes. E isso, de uma certa forma, emperra o próprio crescimento do Campeonato como um produto global.

A hipótese de acabar com o rebaixamento ainda não é aceita na Inglaterra, mas começa a ser um indício de que, aos poucos, o futebol começa a criar um patamar de gestão que leva a um fenômeno similar ao das competições esportivas nos Estados Unidos.

Por lá, o esporte profissional é restrito a uma elite. Rebaixamento não é uma hipótese considerada para os campeonatos principais simplesmente porque o conceito é outro. A instituição existe enquanto for lucrativa. Do contrário, ela simplesmente fecha as portas.

Esse conceito começa a tomar conta do futebol na Inglaterra. O clube tem de ser viável economicamente para ser interessante como negócio. É por isso que muitos investidores passaram a comprar algumas equipes nos últimos anos. Agora, porém, para o negócio ser mais lucrativo, é preciso que o principal torneio do país também o seja.

E isso passa, necessariamente, pela revisão do conceito de existência de rebaixamento e promoção de equipes que são tão díspares do ponto de vista financeiro. O torcedor, sem dúvida, perde muito com isso. Mas no nível de profissionalismo que se encontra hoje o futebol, principalmente na Inglaterra, o debate é, no mínimo, um primeiro passo para se discutir o futuro do esporte mais popular do mundo.


Rio-2016 já tem as primeiras baixas
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Erich Beting

O Rio-2016 já sofreu as suas primeiras baixas. Toda a equipe que estava responsável pela gestão dos patrocínios de 2016 foi demitida (leia aqui). A mudança na equipe é reflexo, entre outras coisas, da malfadada concorrência para a escolha do fabricante de material esportivo para os Jogos.

Por enquanto, Leonardo Gryner, homem-forte do marketing do COB, assumirá a função de negociar os patrocínios para 2016. A expectativa é de que mais de US$ 1 bilhão seja levantado pelo comitê local. A concorrência na área de parceiro oficial do setor de automóveis está em vigência, com expectativa de mais US$ 150 milhões a serem pagos pelo vencedor (o comitê já arrecadou mais de US$ 700 milhões com outras quatro cotas).

A saída da equipe de marketing é indício de que nem tudo corre bem no processo de venda dos patrocínios para as Olimpíadas. O maior problema, porém, foi a expectativa gerada pelo CoRio após a abertura dos dois processos iniciais de licitação, que resultaram nas vitórias de Bradesco, Bradesco Seguros, Claro e Embratel.

Ao todo, essas cotas conseguiram superar metade da expectativa de faturamento do Comitê com os Jogos. Mas tanto Bradesco quanto Embratel-Claro tinham a necessidade de ''conseguir'' a cota, já que alguns de seus concorrentes diretos (Itaú e Oi) estão na Copa de 2014.

A tendência é a de que menos dinheiro comece a entrar nos cofres com os patrocínios às Olimpíadas. Ainda mais porque, do jeito que a expectativa do comitê está alta, diversas empresas têm preferido partir para projetos individuais ligados ao esporte olímpico. As primeiras baixas em 2016 são um prenúncio disso.

O ministro e a verdade

Ainda é cedo para condenar ou absolver o ministro Orlando Silva Junior das acusações publicadas na revista Veja e no Fantástico no último final de semana. O fato é que seu cargo é, hoje, objeto de desejo. E, por isso mesmo, pode ter muita motivação política nas denúncias que apareceram. Se houver, de fato, a comprovação da culpa, que o ministro seja, no mínimo, afastado do cargo. É mais um bom exemplo que o governo federal pode dar no sentido de que dinheiro público, ao contrário do que se costuma praticar por aqui, tem dono. E esse é um ótimo caminho para a melhora da gestão pública no país. Seja no esporte ou em qualquer outro ramo de atividade.


A meia-entrada deve encarecer a Copa no Brasil
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Erich Beting

O que é para ser um benefício para o povo brasileiro muito provavelmente ocasionará um ônus para a população que comprará os ingressos para os jogos da Copa do Mundo de 2014.

O debate sobre a aplicação do benefício da meia-entrada para estudantes e idosos no Brasil poderá fazer com que a Fifa aumente o preço do ingresso para o torneio para manter a margem de lucro esperada com a comercialização dos bilhetes.

A perda de receita, segundo matéria publicada há alguns dias na ''Folha de São Paulo'', é calculada pela Fifa em cerca de R$ 180 milhões. Hoje, um jogo de empurra sobre quem ''pagaria'' essa conta toma a entidade máxima do futebol e os governos federal, estadual e municipal.

O problema é simples. A lei brasileira prevê a venda de meia-entrada enquanto houver ingressos disponíveis para um evento artístico ou esportivo. Para quem organiza o evento, a lei é um terror. Não é possível prever, de antemão, qual será a receita com a comercialização dos bilhetes. Ela pode ser, no final das contas, metade do que previsto se todos os ingressos comercializados for para estudantes e/ou idosos.

E é esse o temor alegado pela Fifa. A entidade faz uma previsão de quanto pode deixar de arrecadar, mas reclama do governo brasileiro o não-cumprimento do contrato assinado entre ambos para o país abrigar a Copa. Como acontece com todo país anfitrião do Mundial, o país-sede tem de assinar um documento em que se dispõe a aceitar as normas da Fifa sobre uso do estádio e comercialização de bilhetes da competição.

Só que o Brasil tem batido o pé sobre a questão da meia-entrada, enquanto relevou, por exemplo, a proibição de comercializar bebida alcoólica em estádios.

No final das contas, a Fifa poderá ter como solução deixar mais caro o bilhete a ser vendido para a população local. Dessa forma, na pior das hipóteses, ela ganhará o mesmo que estava prevendo em caso de vender o número previsto de meia-entrada.

E quem perde com isso? Sem dúvida é o torcedor, que tem um evento encarecido exatamente por conta da existência de uma lei que, pretensamente, foi feita para conceder um benefício à população.

A meia-entrada possivelmente vai encarecer o preço do ingresso para a Copa, como já encarece uma série de serviços ligados à venda de bilhetes para cinemas, shows e eventos esportivos atualmente.

O debate da Copa do Mundo poderia jogar uma luz sobre essa situação peculiar do mercado brasileiro. Será que a lei da meia-entrada é realmente um benefício para a população? Do ponto de vista do organizador do evento, sem dúvida, há várias formas de compensar a perda de receita. E ela passa, necessariamente, pelo aumento do preço do ingresso.


Briga de egos entre Andrés e Juvêncio pode minar acordo com Femsa
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Erich Beting

A disputa entre Andrés Sanchez e Juvenal Juvêncio quase coloca a perder o principal contrato em conjunto formado pelos quatro maiores clubes de São Paulo. A Femsa notificou o G4, grupo que intermediou o acordo entre os times, perguntando qual seria o futuro do negócio com Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos já que os dirigentes de dois dos clubes publicamente estão trocando farpas (leia a matéria aqui).

O episódio revela o quão improdutivo para os clubes de futebol é a não-profissionalização de suas gestões. As frases de efeito que Andrés e Juvêncio disparam para a imprensa são prato cheio para a discussão entre torcedores e para gerar audiência na mídia. E são péssimas para os negócios que São Paulo e Corinthians podem gerar.

Os clubes de futebol precisam entender que a única concorrência que existe entre eles é dentro de campo e na contratação de funcionários. Em todo o restante, eles devem ser parceiros e gerarem negócios em conjunto. Uma mostra é o caso envolvendo a Femsa e os quatro paulistas. O acordo, que envolve cifras milionárias, pode ser desfeito pela agressividade entre os dirigentes.

É exatamente por comportamentos assim que os clubes no Brasil não conseguem se organizar minimamente para fazer qualquer negociação conjunta. Enquanto cada um olhar apenas para suas vaidades, sem pensar de que forma é possível ganhar mais em conjunto, o próprio negócio vai se esvaziar.


Americanização atrapalha expansão da Indy
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Erich Beting

O Brasil tinha tudo para sediar duas etapas da Fórmula Indy em 2012, mas o projeto deverá ser, pelo menos para o ano que vem, abortado. Nada relacionado à crise financeira que volta a assustar o mundo, mas sim a um dilema interno da própria categoria do automobilismo.

Existe um racha entre as equipes maiores e as menores da Indy sobre o projeto de expandir as provas para além do território dos Estados Unidos. Uma extensa reportagem sobre o tema foi publicada nesta semana no Sport Business Journal, dos EUA.

O problema são os diferentes interesses comerciais envolvidos.

As etapas realizadas fora dos EUA na Indy têm tido pouca audiência no mercado americano (neste ano, o GP em São Paulo foi realizado na segunda-feira, enquanto o GP do Japão foi exibido na madrugada nos EUA), mas têm gerado bons acordos comerciais tanto para a Indy quanto para as equipes menores, que não têm patrocínios anuais já negociados.

Com isso, o impasse está criado. Os grandes (Ganassi e Penske), que possuem seu negócio focado totalmente no mercado americano, não querem mais etapas fora dos EUA. Contentam-se com o GP no Brasil, hoje um dos principais mercados da Indy por conta do patrocínio da Apex à categoria, e aceitam a etapa de Motegi, no Japão.

Já os menores enxergam nessas corridas internacionais a chance de obter patrocínios pontuais, garantindo um aumento no caixa, já que as despesas das provas são bancadas pela Indy.

O debate deve fazer com que Porto Alegre não seja, pelo menos em 2012, escolhida para abrigar mais uma prova em solo brasileiro. Da mesma forma, uma etapa na China, que estava na rota de expansão da Indy para 2013, deverá ser postergada.

O impasse mostra bem como funciona o mercado americano de esporte. Com acordos de televisão muito fortes, o foco das equipes é o próprio mercado interno. Expandir mundialmente a marca não é tão interessante assim para as equipes, já que muitos dos patrocinadores atuam apenas no solo americano.

O crescimento do mercado interno brasileiro poderá causar um efeito similar por aqui, especialmente para o futebol. Com a economia forte, as empresas locais se fortalecem. E, aí, jogar fora do país não é mais a melhor solução, como parecia ser há questão de uma década.

A americanização dificulta os planos da Indy de ser mais forte internacionalmente. Da mesma forma, porém, a categoria consegue sobreviver, com pequenos solavancos, num mercado em mutação (para pior) como o dos Estados Unidos.


O que motiva o cancelamento da licitação de material esportivo de 2016?
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Erich Beting

Essa é a pergunta, ainda sem uma resposta concreta, que paira no mercado esportivo desde a tarde de ontem, quando o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016 divulgou um comunicado informando que adiou o processo de licitação para a escolha do fornecedor do material esportivo para o quadriênio 2012-2016 do time brasileiro (leia aqui). A concorrência era para ser encerrada nesta sexta-feira, às 18h, depois de mais de um mês que o processo havia sido tornado público pelo Comitê.

A lacônica justificativa dada pela entidade, que não vai se pronunciar além do que já dito no comunicado (enviado igualmente para a imprensa e para as empresas concorrentes). Ou seja, quase nada.

Dizer que as ''recentes transformações de mercado'' levaram ao cancelamento do processo é o mesmo que nada. Até porque, se há um setor que não sofreu grandes alterações pela chegada de Copa do Mundo e Olimpíadas no país foi o de fornecimento de material esportivo. O crescimento econômico do país já tinha feito com que as empresas do segmento aumentassem seus lucros significativamente desde 2006 e, também, fossem obrigadas a investir mais em aquisição de propriedades patrocinadas.

Ao que parece, Rio-2016 sofre de um problema muito comum no mercado de patrocínio esportivo, que é quantificar o real valor de um investimento.

O primeiro processo de licitação das Olimpíadas no Rio de Janeiro foi para o setor financeiro, com a venda das categorias de serviços bancários e de seguros. Ambas foram vencidas pelo Bradesco, que ao todo pagou US$ 500 milhões pelo negócio. O valor astronômico se justifica pela necessidade que o banco teve em não ficar para trás de seu maior concorrente, o Itaú, que já patrocina a Copa do Mundo (por um valor cerca de cinco vezes menor do que esse).

O sucesso dessa negociação causou uma espécie de ''inflação'' nos direitos das Olimpíadas. Nas disputas seguintes, os valores continuaram próximos daquilo imaginado pela organização. Até chegar o processo relacionado ao fornecimento de material esportivo.

As cifras que envolviam a licitação beiravam os R$ 200 milhões, entre dinheiro pelo patrocínio e investimento em fornecimento de peças de uniforme. Um valor absurdamente alto para o que tem geralmente sido pago pelo vencedor dessas licitações nas últimas edições dos Jogos Olímpicos. Algumas empresas nem chegaram a continuar no processo depois de receber a carta de intenções para concorrer.

Obviamente o Rio-2016 não poderá dizer que ''não houve interessados'' para justificar o cancelamento da licitação, até mesmo porque havia empresas interessadas em ganhar a concorrência, mas talvez os valores a serem oferecidos não chegassem ao total planejado pelos organizadores. Daí a alternativa de se falar sobre as ''recentes transformações de mercado''.

A bola da vez, agora, é a licitação para o serviço de automóveis. É a primeira vez que o COI libera esse tipo de contrato para ser negociado localmente. A decisão é justificada pelo excelente momento que vive a indústria automotiva no Brasil, em detrimento de sua queda no restante do mundo. A ideia é alcançar cerca de US$ 150 milhões com o processo, novamente um valor acima do que paga mundialmente o consórcio Kia-Hyundai para apoiar a Copa do Mundo de futebol.

Será que teremos novamente um cancelamento às pressas do processo de licitação?


Governo italiano acelera lei para ajudar clubes a ter estádios
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Erich Beting

O governo italiano está muito próximo de aprovar uma lei que cria uma série de facilidades para que os clubes do país possam construir estádios próprios. A justificativa para a criação da lei é a devolução da competitividade dos clubes e do próprio país dentro do mercado europeu.

A Itália perdeu as concorrências para abrigar as edições de 2012 e 2016 da Eurocopa, enquanto que, no cotidiano dos clubes, sem estádios próprios, os times têm ficado para trás na geração de receitas. Milan, Juventus e Inter, que figuram entre os 20 mais ricos do continente, segundo levantamento anual da consultoria Delloitte, são os únicos que não chegam a ter 20% de seu dinheiro  oriundo dos dias de jogos.

Hoje, o futebol italiano convive com estádios com difícil acesso, falta de segurança e conforto para o torcedor e, mais do que isso, sem qualquer infraestrutura para permitir que ações corporativas sejam feitas dentro das arenas, fazendo com que uma importante receita seja deixada de lado, que é a venda de assentos corporativos, responsáveis na maioria das vezes por menos de 10% dos assentos dos estádios mas por cerca de 50% da receita de uma arena.

Os italianos relacionam essa situação a uma ''herança maldita'' da Copa de 1990. A conclusão é a de que o Mundial obrigou o país a erguer estádios enormes, adequados para o torneio, mas não para o dia-a-dia do futebol no país. O ponto-chave para essa constatação, a bem da verdade um tanto quanto tardia, foi a demolição do Delle Alpi, em Turim, e a construção de um novo estádio da Juventus. Em vez dos 67 mil lugares de antes, uma arena para 41 mil pessoas, tamanho mais do que suficiente para estar com uma boa taxa de ocupação e gerar receita considerável para o clube.

A Juve representou o ponto de virada para o futebol na Itália. Outro agravante no país é o fato de que esse novo estádio da Vecchia Signora é o primeiro de propriedade privada. Todas as demais arenas são públicas, erguidas pelos municípios, o que também dificulta a gestão diária do espaço e faz os clubes faturarem menos com o dia de jogo.

Foram necessários 21 anos e a perda da hegemonia do futebol italiano em solo europeu para que o salto da bota quebrasse e o país passasse a ver o futebol na Itália não com a grandiosidade da Copa do Mundo, mas com a realidade do seu cotidiano.

Será que precisaremos disso para, em 2035, repensar a gestão dos clubes e das arenas no futebol brasileiro? Ou ainda vamos sempre esperar do governo a lei salvadora para esconder as falhas anteriores?