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Primeira rodada mostra que só Band perde sem futebol
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Erich Beting

O resultado da primeira rodada de transmissão do Campeonato Brasileiro com exclusividade pela Globo mostrou o quanto, para a emissora carioca, o fim do acordo com a Band é benéfico, ao passo que, para a emissora paulista, a perda do futebol terá impacto negativo na audiência (detalhes aqui).

A justificativa da Band de que a conta do futebol não fecha tem, naturalmente, todo sentido. O problema é imaginar o quanto, para a emissora, deixar aos poucos de ser o “canal do esporte” (algo que ela já deixou faz tempo, mas ainda se beneficia do histórico) pode representar em relação a faturamento e audiência de outros programas da casa, esportivos ou não.

Curioso notar que a saída da Band, agora, acontece mais ou menos pelo mesmo motivo que fez a emissora deixar de ser “O canal do Esporte”, no começo dos anos 2000. Naquela época ocorreu o primeiro grande salto nos valores dos direitos de transmissão no país, e a Band optou por não arcar com os altos custos.

A decisão, então, foi sair do “Canal do Esporte” para o “Canal da Mulher”, algo que estava começando a representar bons índices de audiência e relativo sucesso comercial. O projeto, porém, não foi para  frente. Após cinco anos, mais ou menos, a emissora voltou a buscar no esporte o conteúdo que a diferenciava.

Sem o mesmo fôlego da época áurea do “Show do Esporte”, e com Luciano do Valle mais em Recife do que em São Paulo, a Band foi aos poucos retomando o esporte em sua grade. Já com a saúde debilitada e sem a mesma autonomia de antes, Luciano também não conseguiu retomar o projeto que consagrou a emissora nos anos 80/90, com a segmentação do conteúdo antes do advento da TV a cabo.

O sucesso do MasterChef ajuda a Band a ver que há vida fora do futebol. O problema é que, à exceção do programa da terça-feira à noite (um dia em que o futebol é tradicionalmente fraco em conteúdo), geralmente a audiência da emissora fica oscilando entre 1 e 4 pontos.

A reprise dos Simpsons, com certeza muito mais barata que o futebol, foi trágica na audiência.

A justificativa da crise para não apostar num produto que dá prejuízo financeiro, mas garante constância e status ao canal poderá, no médio prazo, mostrar-se à Band uma aposta tão desastrosa quanto foi a escolha por ser o “Canal da Mulher” no início dos anos 2000.

Ao renegar o futebol, a Band vai contra aquilo que a consagrou na audiência. Enquanto isso, a Globo sorri sozinha com a conquista de mais pontos na audiência. Isso, sem dúvida, fará com que a renegociação do pacote futebol, em 2017, seja benéfica para a emissora. No fim das contas, o futebol será o único produto que teve um acréscimo na audiência média de um ano para o outro.

E isso tem um impacto no próprio faturamento publicitário da Globo que, por sua vez, deverá compensar tranquilamente a saída da Band das transmissões do futebol…


Saída da Band mostra como futebol recua como negócio
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Erich Beting

A saída da Band da transmissão do futebol é um baque. Não só para a emissora, mas também para os clubes, que ficam ainda mais enfraquecidos na relação de poder com a Globo, detentora mais do que exclusiva dos direitos de transmissão do futebol.

A presença de apenas uma emissora transmitindo o Brasileirão é a prova de que o futebol reflete a crise econômica pela qual o país passa. Como a Máquina do Esporte mostrou outro dia, o futebol depende hoje da verba de instituições financeiras, respondendo por 70% dos patrocínios na Série A nacional.

Hoje, há apenas seis patrocinadores máster nas camisas de 16 clubes (Banrisul, Caixa, Crefisa, Intermedium, MRV e Schin), enquanto outros quatro não possuem um patrocínio principal. Há dez anos, o cenário era completamente diferente, com várias marcas investindo no esporte mais popular do país.

O futebol, como negócio, enxugou. E a saída da Band é um reflexo disso. Não há mais tanta empresa interessada em pagar a conta, seja ela de patrocínio na camisa, seja ela de transmissão de jogos. Com menos empresa envolvida, há menos dinheiro disponível no mercado para que o futebol seja sustentável.

Ao perder um parceiro de transmissão do futebol, os clubes perdem mais ainda um poder de barganha com a TV. Hoje, há dois financiadores do futebol no Brasil, a Globo e a Caixa. Por mais que tenham evoluído na busca pela diversificação de receitas, especialmente com o sócio-torcedor, os clubes estão cada vez mais dependentes das duas fontes para conseguirem manter suas estruturas.

De nada adianta os valores de TV e de patrocínio terem aumentado substancialmente nos últimos anos se isso significa que os clubes estão cada vez mais dependentes das fontes pagadoras desses altos valores.

A pior notícia da saída da Band do futebol é a certeza de que não há alternativa para os clubes de desenvolverem seu produto sem depender excessivamente da verba da Globo. O maior problema está no fato de que os clubes entregam à Globo toda a necessidade técnica de produção das imagens dos jogos. Assim, a transmissão de um jogo fica muito encarecida, já que a emissora precisa não só pagar pelos direitos como custear toda a transmissão de um jogo.

Na Europa, Alemanha e Inglaterra evoluíram seus campeonatos a partir do instante em que passaram a ditar a regra sobre os direitos de transmissão, sendo as ligas as responsáveis por gerar as imagens das competições. Isso aumentou o valor pago pelas TVs e permitiu uma pulverização maior da transmissão em diferentes empresas, cada uma pagando aquilo que pode por um pacote de jogos.

Por aqui, seguimos caminhando no sentido inverso. Além de teimar em manter a negociação individual, os clubes não percebem que estão deixando o produto cada vez mais na mão de poucas empresas. Vai levar muito tempo ainda para o futebol se recuperar disso. E a saída da Band é só mais um capítulo dessa difícil caminhada…


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