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A Copa do Brasil vai superar o Brasileiro?
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Erich Beting

Essa pergunta, não dessa forma, veio à cabeça quando entrei no saguão do aeroporto de Congonhas, antes de vir ao Rio de Janeiro participar do Seleção Sportv. Em dez minutos, contabilizei pelo menos dez camisas ou adereços do Palmeiras espalhadas pelo local. Da mesma forma, o buzinaço pela cidade, até 2h, 3h da manhã, lembravam a todo instante da conquista palmeirense de horas antes.

Claro, havia um nó que travava a garganta alviverde muito grande e de muito tempo. Natural que, numa conquista como a da quarta-feira, essa desentalada se fizesse mais sentida do que o normal.

Mas duas semanas atrás, quando o Corinthians empatou com o Vasco e foi pela sexta vez campeão brasileiro, não houve tanto estardalhaço, não havia tanta celebração em ser Corinthians como houve agora com o Palmeiras.

Desembarquei no Rio e, pelo Facebook recebi essa pergunta de um amigo carioca: “Acha que a Copa do Brasil possa estar “ganhando” do Brasileirão em interesse do público em acompanhar os jogos e o desfecho?”

Ele baseou a pergunta no que viu pela orla de Copacabana em 2014 e 2015. Bares com aglomerações de torcedores para acompanharem o jogo decisivo do campeonato. Cruzeirenses, atleticanos, santistas e palmeirenses, no Rio de Janeiro, possivelmente também em outros lugares do país.

Como sempre costumo dizer, não somos um país acostumado a planejamento de médio/longo prazo. Historicamente nunca tivemos estabilidade econômica suficiente para isso. Dessa forma, temos dificuldade em entender a lógica de uma competição por pontos corridos. São raros os anos em que o título só é decidido na última rodada. Os clubes não têm essa cultura, a torcida, a mídia, etc.

Esportivamente, os pontos corridos são mais justos. Isso é inegável. Reduz-se a probabilidade do acaso, dá-se muito mais condições para quem se planeja melhor ser o campeão.

Mas será que economicamente esse é o modelo mais interessante para o futebol? Quando a Copa do Brasil passou a ser disputada com todos os clubes mais fortes do país, tivemos sempre um desfecho de campeonato com casa cheia e altos índices nas transmissões da TV.

Somos um país acostumados a uma final. É o último capítulo da novela, a decisão do vencedor de um concurso de culinária, ou de uma competição entre cantores. Os índices prévios de audiência do jogo entre Palmeiras e Santos apontam para uma “vitória” no Ibope em relação ao que foi o Vasco x Corinthians que decidiu o título brasileiro. A comparação, aliás, talvez nem seja válida. Ao mesmo tempo que jogavam os times pelo Brasileirão, outras equipes estavam em campo, entre elas o São Paulo x Atlético-MG que também ajudou a decidir o título.

A atenção estava, portanto diluída.

Assim como em 2014, quis o destino que o Brasileirão já tivesse definido o título antes do campeão da Copa do Brasil. Isso também ajudou bastante na promoção do duelo entre Palmeiras e Santos.

Mas é inegável que, aos poucos, a Copa do Brasil começa a se transformar num produto mais atrativo que o Campeonato Brasileiro. Pelo menos em sua reta decisiva, a competição consegue concentrar a audiência e fazer com que o torcedor se envolva mais com o jogo.

Se ela poderá passar o Brasileirão como produto é muito cedo para dizer, já que há muito menos jogos em disputa num torneio em comparação ao outro. Mas, ao que tudo indica, o Brasil terá, muito provavelmente, duas grandes competições, comercialmente falando, para se trabalhar.


Redução do futebol na TV pode ajudar os clubes
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Erich Beting

A análise parte de duas notícias do dia de hoje. A primeira, no UOL, de que a Globo estuda transmitir apenas uma partida por semana na TV aberta a partir de 2020 (aqui). A outra, na Máquina do Esporte, com a audiência cada vez mais crescente da Band na Liga dos Campeões da Europa (aqui).

Uma se relaciona à outra de formas distintas. E elas mostram que, ao contrário dos outros esportes, o futebol pode se beneficiar de uma menor exposição na TV para aumentar o consumo em seus diferentes níveis.

As maiores críticas dirigidas à Globo estão ligadas ao fato de ela “esconder” os outros esportes na TV, dando ênfase para o futebol na sua grade de programação. Hoje, na prática, a emissora dedica a manhã de domingo para todos os esportes, enquanto o futebol tem toda quarta e domingo espaço nobre na TV.

E, acredite ou não, isso faz mal para a promoção do esporte. Hoje há uma “overbola”. É muito futebol, às vezes de baixa atratividade, disponível para o telespectador. E, para piorar, desde que os contratos com a TV passaram a ser individuais, o privilégio de aparecer na TV aberta é concedido a poucos times, o que faz aumentar ainda mais a exposição constante das mesmas equipes, reduzindo também o interesse do consumidor.

Daí chegamos à questão do aumento de audiência na Band.

Até o ano passado, a Liga dos Campeões era transmitida no Brasil da seguinte forma: na terça-feira, os jogos estavam na ESPN e Sports+ pela TV paga e no Esporte Interativo pela parabólica. Na quarta, era dia de ESPN e Sports+ na TV paga e Band/Globo na TV aberta.

O alcance da competição era muito grande, considerando que a ESPN faz parte de todos os pacotes de programadoras e havia dois dias de transmissões em canais abertos.

Neste ano, com a migração para o Esporte Interativo, que ainda está em menos de 30% dos lares com TV paga do Brasil, a Liga dos Campeões perdeu muita exposição na TV. Se, antes, a grande variedade de canais permitia que o torneio fosse bastante consumido pelo torcedor, nos mais diferentes meios, ele agora concentra o consumo.

É isso o que tem impulsionado a audiência da Band a cada rodada. Ontem, mais alguns pontinhos foram ganhos pela emissora. Num jogo que envolvia um time midiático (o Real Madrid), mas que ao mesmo tempo ficou no 0 a 0, a Band conseguiu a melhor audiência para uma primeira fase de Liga dos Campeões, que ela transmite há quase dez anos.

Transpondo a situação para o futebol brasileiro, os clubes só têm a ganhar quando a Globo reduz a exposição da bola na TV aberta. Para dar ainda mais valor ao Campeonato Brasileiro, melhor seria se, em vez de exibir partidas por região (Flamengo para o Rio, Corinthians para São Paulo, Cruzeiro para Minas Gerais, Inter para Rio Grande do Sul, etc.), a emissora transmitisse apenas o jogo de maior interesse da rodada.

Isso ajudaria a aumentar o interesse do torcedor geral pelo campeonato e até ajudaria a promover mais outros produtos, como o pay-per-view, que naturalmente abraça o mais fanático, que busca acompanhar toda a competição.

Ao contrário dos outros esportes, que precisam da exposição na TV para crescer, no Brasil o futebol precisa da redução de exposição na TV aberta para aumentar o consumo. No fim das contas, poderá ser bom para os clubes essa mudança de estratégia da Globo para a transmissão de jogos. Resta saber como estará o cenário de televisão ficará até 2020.


Comunicado oficial – Arbitragem
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Erich Beting

Este blog vem a público esclarecer que repudia, veementemente, qualquer nota oficial de repúdio, de qualquer clube, sobre a performance da arbitragem numa determinada competição. Avisa, também, que já protocolou “junto à” direção da CBF uma reclamação formal pedindo que o clube que reclama da arbitragem nunca mais possa atuar nas competições em que ele trabalhe. Informamos ainda que iremos até o fim na busca por justiça, indo à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para recuperar aquilo que nos foi tirado.

Nas últimas semanas têm sido esse o teor dos “comunicados oficiais” dos clubes em relação aos erros de arbitragem que ocorreram de forma mais decisiva no Campeonato Brasileiro. Uma tremenda bobagem, que só serve para que os dirigentes alimentem, ainda mais, uma polêmica já levantada de forma completamente deturpada pela mídia, que tenta encontrar má fé onde só existe, de fato, má qualidade na execução do trabalho.

 

Uma das melhores decisões tomadas neste Brasileirão foi a de fazer do árbitro uma figura inquestionável dentro de campo. Por mais autoritária que tenha sido a regra, ela contribuiu, e muito, para que os jogadores parassem de fazer cena e se preocupassem em jogar de forma mais leal o jogo. É só ver que as reclamações acintosas, agora, são contra lances que realmente foram mal marcados pela arbitragem, como nas recentes mãos bobas que aconteceram.

Isso deu, de uma forma ou de outra, mais qualidade para o jogo. O atleta não reclamar é um enorme ganho para o torcedor. Mas isso gera, para a arbitragem, uma obrigação. Tendo menos pressão sob seus apitos, sobra mais lucidez para reduzir o erro.

Agora, a missão da CBF é caminhar para isso. Trabalhar para reduzir o erro. Fazer do trio de arbitragem um quinteto parece uma obrigação. Isso ajudaria demais a reduzir erros de interpretação ou até mesmo de má colocação do árbitro na área.

Os clubes, em vez de jogarem para a torcida com suas notas oficiais de repúdio, deveriam brigar por uma melhora na qualidade do espetáculo. Afinal, o que o futebol vende para o público é isso. Um bom jogo, com o menor grau de interferência externa possível, para assegurar ao torcedor o máximo de emoção que uma partida possa proporcionar.

Quando disparam seus “comunicados oficiais”, os dirigentes contribuem para a discussão vazia dentro da mídia se o árbitro age ou não de má fé. Muitos fazem isso para atrair a audiência e alimentar a discussão que permeia o ódio nas redes sociais.

Cabe ao esporte reduzir a pó esse tipo de atitude dos jornalistas. Mas, para isso, precisamos de menos “comunicados oficiais” e mais união em torno da resolução de problemas. De nada adianta transformar o árbitro na autoridade máxima de fato dentro de campo se, fora dele, a CBF continua a permitir que os clubes joguem contra o próprio produto.

Erros sempre vão acontecer. Para A, B ou C. Contra A, B ou C. Alguns são banais e não interferem no resultado do jogo. Outros são cruciais para definir uma partida.

No tênis, resolveu-se isso com a conferência eletrônica de bolas dentro ou fora. Ela é feita após um pedido do atleta, que tem um limite de pedidos por set. Se acerta a marcação, não perde esse direito. Se erra, perde.

O futebol poderia adotar isso. Termina o lance, o capitão do time pede o direito de os árbitros reverem a jogada na TV e, aí, tiram a teima. Com um limite de um pedido por tempo de partida, o sistema poderia funcionar da mesma forma que o tênis. Se ele acerta, volta a marcação. Se erra, não pode mais pedir. Isso evitaria o jogo de parar a toda hora, mas seria usado para os lances cruciais, aqueles em que todo o time não se conforma com a marcação.

Batalhar pela melhoria da qualidade do jogo, e não pela vitória do time, deveria ser o desejo de todo mundo que trabalha com esporte. A CBF, preocupada em fazer do árbitro a autoridade máxima dentro de campo, deveria agora se preocupar em transformar essa figura num profissional menos suscetível a erros que mudam a história do jogo.

Só assim o discurso de torcedor da mídia e dos dirigentes seria sufocado pelo bom senso. Mas parece que essa palavra causa calafrios na CBF…