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O futebol não tem espaço para um CEO
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Erich Beting

Durou pouco mais de três meses o trabalho de Alexandre Bourgeois como uma espécie de CEO do São Paulo. A saída do executivo sem ter tido tempo para apresentar minimamente qualquer resultado é só mais uma queda de um CEO no mercado do futebol. E deverá ser a realidade para qualquer novo executivo que queira se aventurar no cargo.

O problema não é do futebol em si, mas da cultura de empresa familiar que impera na maioria dos negócios no país.

O futebol, assim como a maioria das empresas, tem uma estrutura de gestão completamente centralizadora e cujas tomadas de decisão são feitas por um núcleo muito pequeno de gente, geralmente de confiança de quem está “no comando”.

Esse cenário é tão enraizado na cultura brasileira que é só acompanhar um pouco o noticiário de economia e negócios para perceber como o tema de “governança corporativa” é recorrente. As empresas procuram profissionalizar a gestão, trazem isso no discurso mas, na prática, a teoria é outra.

São poucas as corporações com faturamento similar ao dos clubes de futebol que possuem, em sua gestão, um corpo técnico altamente profissionalizado e não tenha ainda as principais decisões sendo tomadas com base no “feeling” do dono ou da família controladora da empresa.

Se já é difícil ver algo assim no mundo dos negócios, o que dizer de um ambiente ditado pela paixão e pela política?

A gestão no esporte tem quase todas as nuances da gestão pública. A sustentação do modelo não está no negócio, mas na política. Um presidente não é eleito e reeleito apenas pelos bons resultados apresentados. Sendo assim, colocar a figura de um CEO no esporte e esperar que, como mágica, tudo se torne profissional é tão difícil quanto imaginar que a solução para os problemas em qualquer governo seria colocar um executivo de mercado abaixo do presidente, governador ou prefeito e, com um excelente trabalho de gestão, tudo estaria resolvido.

No esporte, o maior erro que os dirigentes cometem, ajudados pela falta de conhecimento da mídia, é acreditar que, ao se colocar um CEO, os problemas de gestão serão rapidamente solucionados e, de uma hora para outra, o clube passará a obter desempenho esportivo e resultado financeiro.

Para que se profissionalize a gestão no esporte, não basta apenas ter um CEO. Se nenhum dos departamentos que são responsáveis pela existência do clube estiverem com profissionais que possam se dedicar integralmente ao negócio, o CEO será apenas um para-raio para a crise que vai acontecer invariavelmente numa entidade sem estar bem estruturada.

Essa é a mesma realidade encontrada pelos executivos em empresas de médio porte que decidem profissionalizar a gestão, mas ainda têm uma estrutura completamente centralizada no fundador da companhia, ou na família dele. Muitas vezes, o CEO não resiste à cultura familiar da empresa, que não abre mão da tomada de decisão centralizada e, mais ainda, não respeita toda a tecnicidade que o executivo possui.

No cenário do esporte, essa realidade é ainda mais crítica. O CEO precisaria, antes de tudo, ser político. Uma pessoa que teria de entender que a manutenção dela no cargo necessita de costura com quem é o dirigente “estatutário”, aquele que não recebe salário mas está todo santo dia no clube, influenciando as tomadas de decisão, mesmo sem ter qualquer comprometimento com a gestão.

É preciso, urgentemente, acabar com o mito de que um CEO é, obrigatoriamente, sinônimo de gestão profissional dentro de uma instituição esportiva. O cargo está longe de representar isso no ambiente corporativo, o que dirá então dentro do esporte, onde toda a estrutura de poder está atrelada à política, e não ao negócio.

O futebol não tem espaço para um CEO. Não da maneira como é hoje concebida a imagem dele.


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