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Receita para impedir o êxodo chinês
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Erich Beting

O desmantelamento do Corinthians ligou o sinal de alerta para um fenômeno que já vinha acontecendo nos últimos três anos no futebol brasileiro, mas que não se dava muita atenção. A China decidiu importar pé-de-obra brasileiro e ao que tudo indica não vai parar com isso tão cedo.

O projeto chinês, que começou a ser colocado em prática em 2010, é de fazer da liga de futebol um produto forte. Mas, para isso, os chineses precisam aprender a jogar bola. Para quem imagina que a marca da seleção brasileira está acabada, foi o fato de o país ser o único pentacampeão do mundo e ter criado jogadores como Pelé, Romário, Ronaldo e tantos outros que fez os chineses acreditarem que somos o país do futebol.

Fama, como se sabe, não é algo que acaba da noite para o dia. Se o 7 a 1 for a exceção, e não regra a partir de agora, a história do apagão vai virar verdade. O Brasil quase sempre está entre os oito melhores a cada Copa do Mundo. É impossível achar que não sabemos jogar futebol. Ainda mais para quem não entende muito do riscado.

E aí é que entra o ponto. Se a China quer tanto o pé-de-obra brasileiro, como fazer para acabar com o êxodo?

A fórmula não é mágica. Mas ela requer planejamento, paciência e, principalmente, persistência. A única forma de acabar com o interesse do jogador brasileiro em aceitar ir para o desconhecido é dar, a ele, perspectiva de continuar por aqui.

A história de colonização do mundo, bem ou mal, foi feita dessa forma. Quem decidiu ir para o desconhecido foi quem não tinha muita perspectiva no lugar onde estava. Não foram os reis e nobres portugueses que desembarcaram por aqui, mas emissários dos governantes, que não tinham muita alternativa de vida a não ser ir construir a vida noutro lugar, onde as terras eram novas.

O futebol brasileiro hoje não oferece perspectiva ao jogador. Qual o plano que o Corinthians tinha para Renato Augusto e Jadson, seus dois melhores jogadores no ano passado? Eles tinham um projeto de seguir atuando pelo clube? Havia um trabalho pensado em usar a imagem deles para criar produtos, aproximar do torcedor, aumentar a receita do clube e do atleta a partir disso?

Além disso, qual a perspectiva que Jadson e Renato tinham para o mercado de futebol na América do Sul? Qual a atratividade de jogar o Paulistão, a Copa do Brasil, o Brasileiro e, até mesmo, a Libertadores? Os jogos são entre os melhores do mundo, que todos param para assistir? Qual o bônus de disputar essas grandes competições? O que isso mexe com a vaidade do atleta, com o objetivo pessoal dele?

Dentro desse cenário, a diferença entre estar no Brasil ou na China é mínima.

Há a barreira cultural, o desafio de se viver num país praticamente oposto ao nosso. É por isso que, ao aparecer um caminhão chinês cheio de dinheiro para esses atletas, a resposta mais lógica é o “sim”.

Para evitar o êxodo chinês, o futebol brasileiro precisa oferecer algo além de bons salários aos atletas. Sem um bom produto, jogar em Itaquera ou em Pequim dá na mesma. Ou melhor. Rende muito mais aos cofres do jogador.

 


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