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Tática do Esporte Interativo transforma futebol em incógnita
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Erich Beting

A estratégia do Esporte Interativo de, comendo pelas beiradas, ter um grande número de clubes sob contrato a partir de 2019 para a transmissão do Campeonato Brasileiro na TV paga pode gerar um tremendo enrosco na transmissão do futebol a partir daquele ano.

Sem conseguir fechar com clubes de maior expressão, o canal do Grupo Turner partiu para um interessante contragolpe. Foi atrás de equipes que estão na Série B, mas que nos últimos tempos tem flertado com a Série A, seja em umas duas a três temporadas, seja próximo da tabela de classificação.

O raciocínio do canal é bom. Paga-se uma luva a esses times, que assim têm condições de se reforçarem mais e, dessa forma, há um aumento de probabilidade de eles chegarem à Série A daqui a no máximo três anos, quando começa a valer o acordo que já conta com Santos, Atlético-PR, Coritiba, Bahia e Inter.

Esse é o cenário melhor possível para o canal, mas que pode ser péssimo para o futebol como produto.

Explica-se.

É ótimo ter a entrada de um novo e importante player no mercado. É só ver como foi benéfico para o mercado de TV paga a entrada da Fox há quatro anos. Os eventos foram sendo cada vez mais valorizados dentro das emissoras e, na ponta final, o esporte ganhou mais dinheiro.

Mas, num primeiro momento, a divisão de clubes entre Globosat e Esporte Interativo pode levar a um impasse que inviabilizaria a exibição dos clubes na televisão, o que por sua vez traria um efeito cascata de diminuição da presença do Campeonato Brasileiro na mídia, num momento em que a TV paga deverá ter desempenho de audiência cada vez maior, dada a fragmentação do consumo da mídia cada vez maior.

Uma eventual divisão de metade dos times para um lado e metade para o outro pode provocar uma situação em que a transmissão dos eventos seja colocada num segundo plano. E, aí, é o torcedor quem mais se prejudica. Não, o argumento de que há a TV aberta e o pay-per-view para compensarem isso não vale. Na aberta, é só um jogo por rodada que é transmitido. No PPV, reduz-se ainda mais o alcance dos clubes por conta do alto valor desembolsado pelo pacote.

Se não conseguirmos caminhar para o cenário ideal, que é de união entre os clubes para comercializar pacotes de transmissão, teremos de esperar por um ajuste entre as emissoras que transmitiriam o futebol lá na frente. Em vez do conceito de campeonato exclusivo para transmitir, teríamos jogos exclusivos, como acontece com as ligas americanas e em alguns campeonatos de futebol na Europa.

De qualquer forma, pelo movimento feito agora pelo Esporte Interativo, prever o que acontecerá com os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na TV paga a partir de 2019 é uma incógnita. E isso é péssimo para o futebol.


Por que a unidade do futebol brasileiro é urgente
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Erich Beting

A discussão sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para a TV paga de 2019 a 2024 tem feito o futebol, de certa forma, evoluir. Como já abordado por aqui, aos poucos os clubes vão percebendo o erro cometido em 2011, quando decidiu-se implodir o Clube dos 13, acabando com uma entidade que representasse as equipes de forma única.

O fim da negociação coletiva fez, também, com que o futebol deixasse de se unir em torno de causas iguais. Na correria por uma fatia maior do bolo da TV, os clubes não entenderam que é fundamental negociarem em bloco para obterem melhores receitas e, principalmente, para se fortalecerem como esporte.

 

Nesta terça-feira, temos na mídia mais um exemplo de como isso atrapalha o desenvolvimento do futebol e, aos poucos, vai afastando o torcedor dos clubes, levando-os para a Europa. Na estreia do Blog do Mauro Beting aqui no UOL (qualquer nepotismo é mera coincidência, mas aproveita e veja o blog dele aqui), foi publicada uma entrevista com Neymar Jr.

E a resposta que ele dá sobre jogar a Liga dos Campeões da Europa ou a Copa Libertadores é assustadora:

“É videogame, é a realização de um sonho de criança… Então escolho a Champions League.”

Neymar nasceu em 1992, mesmo ano em que a Libertadores voltou a ser objeto de desejo do torcedor brasileiro com a conquista inédita do São Paulo. Antes, nossos clubes eram quase sempre figurantes na principal competição do continente, muitas vezes por total desinteresse, já que tínhamos um Campeonato Brasileiro forte e desejado por torcida, mídia e atletas.

Mas Neymar cresceu vendo a melhor fase dos times brasileiros no torneio continental. Pegou a fase áurea da competição para o país, com times brasileiros campeões a pelo menos cada três anos. Mas o Brasil não tinha uma liga, a Libertadores era (e ainda é) uma zona e, assim, não nos preocupávamos com a bobagem de estar com nossos jogadores, times e competições presentes nos videogames.

E aí Neymar cresceu entortando zagueiros nos campos e sonhando em ser o que conseguia no videogame. Jogador do Barcelona, campeão da Liga dos Campeões, ouvindo o hino da competição ressoar dentro de um estádio lotado para aplaudir os melhores do mundo…

Quando Neymar nasceu, a criança no Brasil sonhava em ser Zico, Edmundo, Romário, Neto, Raí, Evair. Jogar no quintal de casa ou no Camp Nou era praticamente a mesma coisa. Não era preciso cruzar a fronteira para consumir um futebol dos sonhos.

Hoje, logicamente, a história é outra. Assim como estavam Romário e Ronaldo lá fora quando Neymar dava os primeiros passos com a bola, nossos craques estão fazendo o pé-de-meia vendendo seu pé-de-obra para o exterior. Mas existe um trabalho de marca gigantesco dos clubes e competições da Europa para que não sejam só os atletas os objetos de desejo do torcedor, mas os times e os torneios, vistos como estrelas de primeira grandeza.

O futebol no Brasil precisa se unir e discutir como fazer para evitar que nossas gerações cresçam querendo ser Neymar. Ou melhor. Querendo estar em Barcelona, em jogar a Champions, em fazer gol no Camp Nou lotado, e não no Maracanã semiocupado por torcedores raivosos de ver um futebol de quinta em plena quarta de madrugada.

No instante em que perdemos fãs para o universo virtual, é chegada a hora de criar um plano emergencial para resgatar a imagem do futebol brasileiro com o torcedor. Não o já formado, que assim como Neymar trocou o time daqui pelo Barcelona.

O resgate precisa vir de lá da base, criando elementos para o jovem se apaixonar pelo futebol no Brasil sem precisar do empurrão dentro de casa. E isso só vira quando o futebol se unir para deixar de perder fãs até pelo videogame…


Ranking de estádios é início de caminho para o país
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Erich Beting

A criação de um sistema nacional de pontuação para os estádios de futebol no Brasil é o início de um caminho para que o país comece a entender a importância de criar padronizações para buscar, então, elevar o nível do esporte. O ranking apresentado pelo Ministério do Esporte vai gerar polêmica e, para variar, vamos debater quantas bolas deveriam ser catalogadas para esse ou aquele local.

E é exatamente a existência desse tipo de debate que precisa acontecer. Se não começarmos a tentar criar padrões e determinar o que é um padrão de excelência A ou B, ficaremos sempre na idade da pedra lascada no que se refere às questões da indústria do esporte do Brasil.

Quando, há nove anos, o Brasil recebeu goela abaixo a realização da Copa do Mundo, não havia qualquer forma de se criar um planejamento do que queríamos com o evento. O resultado está claro agora.

Foram feitos projetos completamente surreais de previsão de receitas para os estádios novos, baseados em mercados maduros e consolidados como o dos Estados Unidos. A situação piorou com complicações em quase todas as arenas no pós-evento causadas pelas investigações que revelam o submundo das negociatas entre empreiteiras e governos.

E, no fim das contas, o que restam são estádios lindos, mas ainda sem qualquer previsão de quando poderão se pagar. Sim, estádio foi feito para fechar a conta! E as modernas arenas da Copa do Mundo não podem correr o risco de não conseguirem gerar o mínimo de receita para equilibrar as contas e proporcionar um salto de qualidade no futebol a partir da melhora da qualidade no atendimento ao torcedor.

Ao criar o sistema de qualificação dos estádios, começamos a criar subsídios para a indústria entender o que pode ou não ser um bom negócio nas arenas. O maior desafio que o Ministério do Esporte tem pela frente, porém, é ser técnico o suficiente para dar notas baixas a arenas que tiveram milhões investidos pelo governo em sua construção.

Se não houver qualquer ingerência política sobre a classificação das arenas, começaremos a ter a formação de uma indústria ao redor dos novos estádios. No mercado europeu, desde a criação da Amsterdam Arena, há 20 anos, que os próprios clubes e gestores perceberam que ter estádios mais modernos é crucial para ter vantagem competitiva nos médio e longo prazos.

Por aqui, com uma indústria ainda em formação, ainda é necessária a ingerência do governo para criar padrões e tentar pavimentar o caminho a ser seguido. Parece que, agora, a estrada foi pavimentada. Resta saber se os gestores dos estádios vão conseguir usar esse início de ordenação para construir uma indústria relativamente sólida.


Que ano foi esse?
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Erich Beting

É bem provável que, no fim de 2014, estávamos pensando no “ano mágico” que havíamos acabado de atravessar. Afinal, não só teve a Copa, mas que Copa memorável que tivemos no país! Um futebol bem jogado, uma festa bacana e muito aprendizado trazido para cá pelo maior evento do esporte mais popular do mundo.

Era natural, e essa era a minha ideia original, que viveríamos em 2015 um ano de ressaca. Poucas mudanças bruscas no futebol, a expectativa olímpica começando a aumentar a partir de agosto, as marcas começando a aquecer os tambores para 2016, sem grandes investimentos no esporte, os mesmos cartolas de sempre mandando e desmandando…

Até 27 de maio era mais ou menos esse o roteiro. O Brasileirão começava, as dúvidas sobre a performance técnica da seleção brasileira continuavam (que ano não foi assim desde que você se conhece por gente que acompanha futebol?), as marcas timidamente começavam a traçar seus projetos olímpicos…

Aí veio a prisão de José Maria Marin, a delação premiada de J. Hawilla nos Estados Unidos e o futebol virou de cabeça para baixo.

Sempre achamos, trabalhando ou não com futebol, que os dirigentes que estavam no comando do futebol no país tinham atitudes no mínimo suspeitas. Hoje, os três últimos presidentes da CBF são acusados formalmente pela Justiça dos Estados Unidos de práticas de crimes de corrupção. Um está preso, um sumiu faz três anos (Ricardo Teixeira sempre foi um homem de visão), o outro acaba de pedir licença do comando da entidade…

Joseph Blatter, o presidente da Fifa há quase 20 anos, foi tirado da cadeira máxima do futebol. Diversos outros dirigentes estão caindo, entre eles o até então ilibado Michel Platini, ex-craque de bola da França que trocou a fama conquistada pelos dólares desviados em acordos obscuros, ao que tudo indica.

O ano de 2015 pode vir a ser o começo do fim de um sistema mafioso que corroeu o futebol nos últimos 40 anos. As vísceras de um modelo de negócios que mais era um modelo de negociatas estão expostas, e a necessidade de mudança é enorme.

No final das contas, aquele que tinha tudo para ser um ano morno no esporte talvez tenha sido um dos mais importantes das últimas décadas. A ressaca pós-Copa foi acompanhada de um vendaval que rachou o status quo e colocou, sob nova perspectiva, o mercado do futebol.

Isso sem falar no que ainda vão se desenrolar as investigações sobre doping iniciadas na Rússia. Tal qual o castelo começou a ruir na América do Sul para o futebol, é muito provável que o esporte atinja novo patamar a partir do instante que combater, de forma sistemática, a burla de regras do doping, que envolve, como se vê no atletismo, pagamento de propinas a dirigentes para acobertarem as histórias.

No marasmo que geralmente caracteriza o ano em que não há Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, será impossível, na cronologia do esporte, deixar 2015 para lá. Dentro das quadras, piscinas e campos, tudo correu mais ou menos como sempre, sem grandes feitos.

Mas, fora das competições, nunca houve tanta evolução num mesmo ano como esse que passou!

Agora é virar a página e começar 2016 com o espírito olímpico em dia. Para, daqui a um ano, podermos dizer “e que Olimpíada tivemos”! O blog, naturalmente, volta a falar de esporte e negócios na próxima semana, após uma pausa para recarregar as energias!

Bom Ano Novo a todos!


Barça e River mostram a diferença do Mundial para os continentes
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Erich Beting

Há uma invasão argentina no Japão em curso. Até o domingo, 15 mil argentinos estão espalhados pelo país asiático para acompanhar a tentativa do River Plate de ser campeão do mundo contra o gigantesco Barcelona, que levou pouca gente da Espanha para o Japão para acompanhar o que pode ser o tricampeonato mundial do clube.

A presença maciça dos torcedores do River, em detrimento dos fãs do Barça, mostra de forma cristalina a diferença que existe no Mundial de Clubes na visão de europeus e sul-americanos.

Os argentinos demonstram que, o que interessa a eles, é exclusivamente a bola. Ser campeão, levantar a taça e poder se dizer melhor time do mundo.

O mesmo sentimento não existe no Barcelona. Logicamente que os jogadores anseiam pela vitória, mas para o torcedor do clube, não há o mesmo peso a conquista do mundo como há na conquista da Europa. Se houvesse, o Japão também estaria pintado de azul e vermelho.

O Barcelona não está a passeio no Japão. Mas o propósito do clube ao disputar a competição é completamente diferente daquele vivido pelo River Plate.

Para o time espanhol, a disputa do Mundial de Clubes no Japão, no meio da temporada, é uma ótima forma de o clube ter contato com o fã asiático. As imagens de televisão deixam claro isso. O Sportv mostrou, antes da partida em que o Barça ganhou com sobras do Guangzhou, o frisson causado pelos jogadores do time espanhol quando andavam pelo hotel lotado de fãs. Lembrou, bastante, o que representavam os Beatles em sua época de ouro.

Por isso mesmo, jogar o Mundial se transforma num ótimo negócio para o Barcelona. Tanto que o clube jogou hoje com a camisa azul, lançada recentemente. Muito mais do que diferenciar-se do uniforme vermelho do Guangzhou, o propósito de elevar as vendas da terceira camisa no Japão deve ter sido levado em conta nessa escolha.

Para o sul-americano, a viagem ao Japão é muito mais do que uma simples oportunidade comercial. O clube, a mídia e os atletas estão focados na competição. Os negócios que podem eventualmente ser feitos na Ásia ficam em segundo plano.

Com visões tão distintas de enxergar o evento, Barcelona e River Plate evidenciam, também, a diferença que existe no futebol como negócio na Europa e na América do Sul.

Por aqui, ainda olhamos apenas o desempenho dentro de campo como forma de mensurar o sucesso de um clube. Sim, o futebol é o produto principal. Mas ele não pode mais ser concebido de forma a se pensar só no campo.

Por lá, os clubes sabem que são empresas. O produto principal deles é o futebol, mas para alimentar isso eles precisam investir pesado em atletas. E isso só é possível de se fazer com dinheiro. Dinheiro que, por sua vez, é bastante provável de se encontrar nos ardorosos fãs asiáticos.

O comportamento de Barcelona e River Plate no Mundial de Clubes mostra de forma bem clara como sul-americanos e europeus encaram o futebol. E revela, também, como ainda demoraremos a ter uma visão de futebol como produto que ajudou a revolucionar a cara da bola jogada na Europa nos últimos 30 anos…


Abílio Diniz seria o fato novo que a CBF precisa
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Erich Beting

A tentativa de articulação de Marco Polo Del Nero para manter tudo aparentemente como está na CBF tem hoje um dia decisivo, com o término do prazo para inscrições de candidatos para a vaga de vice-presidente da região Sudeste, posto que era ocupado por José Maria Marin.

Há uma corrente, que envolve gente graúda e preocupada com mudanças no futebol, que tenta convencer Abílio Diniz a se lançar candidato.

Nenhum dos 27 presidentes de federações, e dos vice-presidentes que estão na CBF, conseguem ter a imagem forte de Abilio, nem o preparo dele para conduzir mudanças realmente profundas no futebol, mesmo o executivo sendo, até hoje, apenas um fã ardoroso do esporte.

Diniz tem uma oportunidade única.

O problema é que são menos de 3h disponíveis para que ele dê o sim para a proposta. E, se aceitá-la, com a mudança de forças no colégio eleitoral da CBF, conseguiria aplicar a manobra do bem em cima da manobra que vem sendo articulada para que Delfim Peixoto não consiga ser o novo presidente da entidade com a renúncia mais do que certa de Marco Polo Del Nero.

Abilio Diniz Seria o fato novo de que a CBF tanto precisa.

Acossada por crimes cometidos pelos três últimos presidentes e revelados pela Justiça dos Estados Unidos a partir da delação premiada de J. Hawilla, a CBF, por uma questão de sobrevivência, tem de começar a realmente mudar. Até para o nosso futebol não viver da geração espontânea que insiste em nos manter fortes, apesar de tudo.


A Emirates vai patrocinar esporte no Brasil. Mas com lógica!
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Erich Beting

A Emirates Airlines anuncia logo mais sua primeira ação de patrocínio esportivo no Brasil. Calma, não é nenhum naming right de estádio, nem mesmo um aporte ultramegagigante em algum clube de futebol. A companhia aérea segue uma linha completamente lógica de investimento ao anunciar o patrocínio ao Rio Open de tênis (leia aqui).

A Emirates talvez seja hoje uma das empresas com maior (e melhor) estratégia de patrocínio esportivo no mundo.

Com um investimento parrudo em esporte, a companhia aérea se transformou numa figura constante nos mundos do futebol, tênis, esportes equestres e golfe. Apesar do aporte bilionário que é feito em marketing esportivo, raramente a Emirates faz uma ação não-planejada.

E o patrocínio ao Rio Open é apenas mais uma amostra de como a empresa sabe trabalhar com consistência, e coerência, ao investir em esporte.

Em 2007, quando começaram as primeiras especulações de que a Emirates poderia patrocinar algum clube de futebol no país, entrevistamos Boutros Boutros, diretor de patrocínios da companhia, para a Máquina do Esporte. O raciocínio do executivo para explicar o não-patrocínio a um clube no Brasil era coberto de lógica.

“Como gastaria R$ 15 milhões num patrocínio se só faço um voo por semana ao país? A conta não fecha”.

A resposta dele é a mesma para explicar, no atual momento, o que leva a empresa a patrocinar o tênis, e não uma propriedade maior.

O investimento no Rio Open é válido não apenas para o Brasil, mas também para o exterior. A Emirates pode usar o aporte ao torneio para trazer ao Rio de Janeiro clientes da marca, usando a propriedade que tem na competição para se relacionar de forma diferente com gente que, para ela, é interessante. O Rio Open é hoje o principal torneio de tênis das Américas, traz gente do calibre de Rafael Nadal, conta bastante ponto para o ranking da ATP, tem uma atmosfera divertida, já que acontece praticamente em paralelo com o Carnaval na Cidade Maravilhosa.

Além disso, o investimento é relativamente baixo no patrocínio. Está próximo de R$ 3 milhões o valor a ser investido pela companhia para ter o direito de se associar à competição. Mais ainda, o patrocínio ao tênis se transformou na plataforma principal da Emirates após o fim do patrocínio à Fifa, no ano passado. Tanto que, em 2016, ela será a principal patrocinadora da ATP. O Rio Open, portanto, tem ligação direta ao que a marca faz no esporte.

O que muitas vezes o futebol no Brasil não entende é sua completa incapacidade de ser uma propriedade mundial. O patrocínio a um clube brasileiro é uma estratégia que atende a uma empresa nacional. O time, no Brasil, praticamente não consegue ter penetração no mercado exterior. No máximo, há exposição na América do Sul com a disputa, no primeiro semestre, da Libertadores. É muito diferente de um Real Madrid, Arsenal ou PSG, clubes que têm apelo e alcance mundiais.

A Emirates finalmente desembarcou no Brasil para patrocinar o esporte. Mas, uma vez mais, a empresa mostra uma coerência singular na escolha de onde aportar seu dinheiro. Não há hoje, no país, um evento que melhor atenda aos interesses de marketing de uma empresa internacional do que o Rio Open.

O futebol, além de caro, é ineficiente nesse sentido.


O que representa o fim da Era Campos Pinto para o futebol
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Erich Beting

Marcelo Campos Pinto já estava sendo colocado para escanteio na Globo há algum tempo. Desde que foi determinado o fim do adiantamento de cotas de TV para os clubes, meio que sem alarde, durante a Copa do Mundo, que o chefão do futebol da Globo nos últimos 20 anos começou a perder seu grande poder dentro da Globo.

Com os escândalos recentes no futebol, e a sempre próxima relação do executivo com as figuras centrais dos episódios que têm furado diversas cartolas mundo adentro, a situação de Campos Pinto ficou ainda mais complicada. Para “piorar”, o grande interesse de Roberto Marinho Neto pelo tema esporte e direitos de transmissão ajudaram a aumentar a ingerência da Família Marinho sobre aquele campo que praticamente tinha dono único na emissora.

Campos Pinto talvez tenha sido, na última década, uma das figuras mais poderosas do futebol brasileiro. Seu crescimento na Globo veio na vitória pelos direitos da Copa do Mundo de 2002, após a conturbada negociação com a ISL, quando a emissora adiantou parte da verba pelos direitos, viu a agência falir envolvida num megaesquema de corrupção e livrou a empresa de um enrosco ainda maior.

A partir dali, ele passou a ditar as negociações. E, usando-se do artifício do adiantamento de cotas, passou a reger todo o destino sobre os direitos de TV no país. Em 2003, quando os clubes tentaram um levante para migrar para o SBT com o Brasileirão por pontos corridos, Campos Pinto usou o adiantamento de mais de R$ 50 milhões para manter os clubes sob contrato. Depois, em 2011, quando o Clube dos 13 começou a ruir, foi ele quem renegociou os contratos com os clubes, passando os direitos, antes negociados coletivamente, para os acordos individuais.

Ao que tudo indica, a Globo adotará uma nova postura na negociação de direitos. Campos Pinto sempre foi muito próximo dos dirigentes de clubes, vivia dando expediente na CBF e costumava ter liberdade para falar em nome da emissora. Centralizador, não deixava de liderar qualquer negociação que envolvesse o futebol.

Nas últimas semanas, o executivo vinha abrindo negociações com os clubes para tentar ampliar, de 2018 para 2020, os direitos de transmissão do Brasileirão com os clubes. Agora, com uma negociação menos centralizada, o projeto pode acabar sendo colocado em segundo plano pela própria Globo.

A saída de Campos Pinto do lado do principal financiador do futebol pode representar uma grande ruptura do modelo que foi criado em 1997, quando a emissora passou a querer exclusividade sobre o esporte, e gerar uma nova relação entre os dirigentes e a emissora.

No momento em que os clubes começam a ter cada vez mais interesse em assumir a gestão de campeonatos, a saída de quem negociava os direitos de transmissão da Globo é o primeiro passo para que um novo modelo comece a querer sair da inércia.

A Globo não deverá deixar de ter os direitos sobre os principais campeonatos do país. Mas ela perderá a influência que o principal executivo destacado para o futebol exercia sobre os dirigentes. E isso poderá, no médio prazo, significar um novo tipo de relação entre o futebol e a Globo.

Leia também: 

Escândalo de corrupção na Fifa derruba homem forte do esporte na Globo


YouTube entra na briga pelos direitos de transmissão. E agora?
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Erich Beting

O Brasil começa hoje a entrar numa nova era no que diz respeito aos direitos de transmissão no futebol. O YouTube passará a transmitir a Copa del Rey, da Espanha, também para os lados de cá. A primeira partida que será exibida é a do Barcelona (detalhes aqui).

O negócio representa um ponto de virada importante na questão dos direitos de mídia esportivos. Repare bem que não dá mais para usar a expressão “direitos de TV”, uma vez que não temos, hoje, o mesmo cenário que havia há dez anos, quando as principais emissoras de televisão do mundo começavam a entrar em colisão com o YouTube.

Naquela época, a briga era pelo direito de exibir melhores momentos dos principais eventos esportivos praticamente de forma instantânea. Sabe aquele touchdown fantástico que só a Fox havia transmitido no Superbowl? Pois é. Dali a 10 ou 15 minutos alguém já tinha copiado o sinal de TV e subido o lance para todo mundo ver, em qualquer lugar, sem que os “direitos” fossem preservados.

Hoje, pensar que alguém queria ir contra o YouTube há dez anos parece um contrassenso. Não era. De fato, até aquela época, as imagens em tempo real de um evento eram restritas a quem havia pago, bem caro, por isso. Mas aí a banda de internet nas casas foi-se alargando, as emissoras perceberam que elas precisariam fornecer vídeos em seus sites e o negócio foi crescendo a tal ponto que o detentor do direito de mídia de um evento arranjou um jeito de conquistar o fã do esporte sem precisar se preocupar se o YouTube estava ou não violando suas propriedades exclusivas.

O YouTube, com isso, perdeu espaço. Até então, ele funcionava praticamente como a plataforma para tudo o que circunda o meio esportivo, à exceção do evento em si. Eles não transmitiam ao vivo, mas conseguiam mostrar todo o restante. É só ver o quanto conseguem de exposição os canais oficiais de clubes de futebol. Não é o esporte em si, mas a paixão pelo esporte que o YouTube compartilha e viraliza para todo o mundo.

O ponto, porém, é que o YouTube começa a se mostrar uma plataforma mais eficiente do que a própria TV. O site do Google tem toda a capacidade de criar algo que dispense ter ou não a operadora x ou y, estar ou não à frente de uma TV, etc.

O que o YouTube representa, no lugar do modelo tradicional de transmissão em vídeo pela TV, é a mesma possibilidade que as emissoras temiam em 2005. Ele ganha o mundo. Tanto que, quando a liga espanhola anunciou o acordo com a Mediapro para transmitir para 17 países via YouTube a Copa do Rei, a perspectiva é de que isso leve a competição para 2 bilhões de pessoas, no acumulado de toda a mídia, considerando também os acordos de TV.

No ano passado já foi possível acompanhar o título mundial de Gabriel Medina por lá. Agora, chegando ao futebol, a tendência é que o YouTube provoque um movimento praticamente irreversível na questão de vermos, via internet, jogos ao vivo. Sem precisar, para isso, apelar aos sites piratas…


Filial da Inter no Brasil é um recado ao futebol do país
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Erich Beting

A Internazionale vai abrir uma filial no Brasil (a notícia está aqui). Mas por que o clube italiano montaria uma estrutura para abrigar uma equipe de futebol por aqui se, até hoje, os times europeus descobriram um negócio muito mais simples, rentável e que gera um excelente retorno de marca para eles, que é a formação de escolinhas e acampamentos de férias?

Esse é o recado assustador que está embutido por trás do movimento feito pelos italianos.

Desde os anos 80, o Brasil era visto como um bom exportador de pé-de-obra para o mercado europeu. Sem conseguir ter o talento e capacidade de improviso dos brasileiros, os europeus buscavam aqui os jogadores que viriam a ser os maiores protagonistas do futebol mundial. Zico, Careca, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká foram alguns desses jogadores que abriram mercado para os brazucas nas maiores potências do esporte.

De uns anos para cá, porém, o jogador brasileiro protagonista começou a rarear. Diversos potenciais craques se mostraram apostas furadas no Velho Continente. Adriano foi o que mais se aproximou do estrelato, mas já num futebol italiano em início de decadência. Pato talvez tenha sido o melhor exemplo de como supervalorizaram um ótimo jogador. Vários outros foram e não valeram o investimento. Ou, então, nem chegaram à terceira base, estacionando nos países periféricos do Leste Europeu ou em Portugal.

Oscar e William talvez sejam hoje os dois nomes mais reluzentes, além, é claro, de Neymar.

O problema é que, enquanto o futebol na Europa atingiu o máximo de profissionalização nas duas últimas décadas, por aqui continuamos estacionados num período um pouco melhor do que a realidade dos anos 80 e 90. Nossos dirigentes pensam e agem quase que da mesma forma. E isso contamina toda a cadeia.

As categorias de base não funcionam para montar times competitivos e com um sistema de jogo integrado ao profissional. Os empresários atravessam ou são coagidos a atravessar negócios para que o jogador movimente o máximo de dinheiro possível no menor intervalo de tempo existente.

Os treinadores também são pressionados a trazerem resultados desde os campeonatos sub-feto, o que cria atletas que não pensam em como jogar, mas apenas em como ganhar.

Tudo isso gerou um abismo.

O atleta, na Europa, faz parte de um sistema absolutamente profissional de relação. Ele é a principal peça de uma engrenagem complexa e quase sempre compreende a importância desse seu papel. Que o digam Cristiano Ronaldo e Messi, os dois melhores exemplos de como o atleta precisa ser, antes de tudo, uma empresa.

Geralmente, os clubes da Europa sempre olharam o Brasil como um mercado para explorar a paixão e idolatria que temos pelo futebol europeu e, de quebra, ficar de olho em talentos da bola para levar para fora. Enquanto isso, na África, nos Estados Unidos, na Ásia e no Oriente Médio, os planos eram outros. Franquias, redes de formação de talentos e até filiais de clubes são montadas para explorar não apenas o consumidor, mas formar o atleta.

Ao decidir criar um time de futebol no Brasil, a Inter mostra que não está satisfeita com a formação que estamos dando a nossos jogadores. A partir do momento em que o clube percebe que há uma falha na formação de jogadores do país, ele decide não apenas trabalhar com ações de marketing, mas garimpar, desde jovem, o talento brasileiro.

A Internazionale montar uma filial no Brasil não é meramente mostra de confiança no poder de consumo do brasileiro pelo futebol do clube, mas um recado de que, hoje, é mais interessante vir aqui implementar a metodologia de formação de atletas do clube do que ensinar isso a um bom jogador brasileiro no futuro…