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O que muda no futebol daqui para a frente
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Erich Beting

É praticamente impossível que o futebol permaneça na redoma que esteve pelos últimos 50 anos depois do estouro dos escândalos de corrupção que envolvem algumas das figuras mais importantes da política da bola. Num efeito tão ou mais avassalador que a falência da ISL, no começo dos anos 2000, a crise de agora deixa uma ferida aberta no coração da Fifa, que até então permitia-se o privilégio de ser uma empresa com faturamento bilionário e que não precisa dar grandes satisfações para além de seus acionistas, que são as confederações.

Essa crise de agora, porém, deve mudar exatamente essa condição. A Fifa não precisava se preocupar com a opinião pública. Seus dirigentes seguiam incólumes, uma vez que o principal campeonato que a entidade organiza, que é a Copa do Mundo, segue a ser o evento mais cobiçado do universo ao lado dos Jogos Olímpicos. Isso garantia uma espécie de “blindagem” para a Fifa. Por mais que a organização fosse massacrada por denúncias de corrupção, escândalos e quetais, a Copa do Mundo assegurava uma relativa paz à Fifa.

O que mudou é que os patrocinadores, que só estão na Fifa por causa da Copa, estão sendo pressionados a rever seus conceitos. Acionistas das empresas patrocinadoras, diante dos escândalos, perguntam cada vez mais sobre o que está acontecendo. Isso reflete numa pressão interna dentro dessas empresas que, no final das contas, começam a pressionar a Fifa para que os problemas se resolvam.

Para piorar o cenário, a Uefa, principal entidade de futebol do mundo ao lado da Fifa, começa a questionar a entidade-mãe sobre o que está sendo feito. A ruptura da turma de Michel Platini é uma pressão muito grande e, talvez, até maior do que aquela enfrentada pela Fifa com a opinião pública. Com seu afiliado mais poderoso ameaçando a deserção, é preciso ceder politicamente para poder continuar onde está.

No caso ISL, há quase 15 anos, a Europa e os principais dirigentes do futebol também estavam envolvidos. O caso serviu, também, para que as entidades na Europa se tornassem mais sérias e menos propensas aos erros que agora cometem Concacaf e Conmebol, de terceirizarem suas propriedades comerciais em troca de alguns favores, digamos assim, menos nobres.

Há quatro anos, Blatter conseguiu contornar a crise interna que envolvia a compra de votos para a eleição do Qatar. A sujeira tinha ficado embaixo do tapete suíço do QG da entidade. Agora, a situação é muito distinta. A crise é na opinião pública e interna. Ingleses e americanos, derrotados nas escolhas de 2018 e 2022, querem mudar o sistema. E isso representa muita coisa.

Daqui para a frente, ou a Fifa muda o modo de operação, ou cairá no erro de continuar achando que detém o poder absolutista no futebol. Uma coisa, porém, é certa. O ambiente de negócios no futebol tende a ser muito mais vigiado daqui para a frente, em qualquer canto do mundo. E isso vai gerar uma melhora, gradual, na qualidade de quem trabalha nisso.


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