Negócios do Esporte

A Nike e o Corinthians

Erich Beting

O anúncio causou o espanto que se esperava. Nesta manhã, a Nike publicou um manifesto do Corinthians para aquela que foi intitulada pela empresa a maior torcida do Brasil: a dos anti-Corinthians. Veiculada nos principais jornais da cidade, a peça publicitária gerou uma grande discussão sobre a atitude da fabricante de material esportivo.

Por que a Nike assumiria uma posição tão corintiana assim? Ela não teme a rejeição à marca por conta de uma atitude dessas? Ao final do post reproduzo a peça publicitária da Nike. Mas antes disso segue o meu comentário, já que bastante gente me pediu uma opinião pelo Twitter e, logicamente, em 140 caracteres não há quem consiga defender uma tese…

Bom, faz parte da história da Nike ser polêmica. Surgida nos anos 70 nos Estados Unidos, quando o universo dos fabricantes de material esportivo estava polarizado entre Adidas e Puma, a empresa americana assumiu uma posição de franco-atiradora, até se tornar, hoje, a principal marca do mercado.

Mas isso não significou uma mudança na essência da Nike. Ela continua a ser polêmica na comunicação com o público consumidor. Vale lembrar que a atual campanha para os corredores de rua é denominada ''Coisa da Boa'', associando o vício da endorfina gerada  após a atividade física ao vício das drogas. Por isso mesmo não surpreende a atitude do ''Manifesto''.

E aí entra o segundo ponto dessa história. O que a Nike fez não foi nada além de ativar o seu patrocínio. Ela fez um comunicado para os corintianos, tirando sarro da atual situação dos torcedores dos outros times. Essa atitude, aliás, não foi nada além de se colocar na posição do torcedor do Timão.

Isso não interfere, em absolutamente nada, na relação da marca com as outras torcidas. Apenas causa aquela inveja de ver o seu time nessa condição, nessa posição, com essa doce vantagem de ter todas as torcidas contra exatamente por ser a bola da vez. E foi esse momento que vive o corintiano que a Nike captou. É assim que se sente o torcedor do Corinthians. E esse é o segredo da boa propaganda. Ela comunica com o público que quer atingir. Com certeza haveria diferentes tipos de comunicação caso fosse o Inter, o Coritiba, o Santos ou o Bahia numa eventual final.

Outro ponto muito questionado foi o quanto a Nike pode passar a ser rejeitada ao fazer uma comunicação desse tipo. Historicamente os índices de rejeição não atingem toda a torcida, nem mesmo entre os mais fanáticos. Ou seja, o impacto positivo supera, e muito, o negativo. Sim, o mais fanático vai adorar gritar aqui que ''nunca mais'' vai comprar um artigo da Nike. Só que a memória será tão curta que ele voltará a consumir a empresa.

Esse é outro ponto interessante da história. O esporte mexe tanto com a emoção que, para uma empresa, é fundamental captar esse momento para se aproximar do torcedor. Foi isso que a Nike soube fazer. O corintiano vai admirar ainda mais a fabricante depois desse ''manifesto''. E, quando for a vez de outro time na disputa, a torcida dele vai ficar apaixonada por uma ação similar.

Por fim, só o fato de a Nike fazer uma campanha dessas mostra que temos evoluído bastante no mercado esportivo brasileiro. Além da fabricante, a Bombril e a Iveco, que patrocinam o Corinthians nesse jogo decisivo, também fizeram, a seu jeito, ações similares de ativação do patrocínio. O genial anúncio da Bombril, aliás, também segue ao final do post.

A certeza que fica depois de toda essa história é a de que o mercado evoluiu. Só patrocinar não basta. É preciso usar a emoção do esporte para construir uma história e passar uma mensagem. E nada supera o esporte nessas horas.

O Manifesto publicado nesta quarta-feira pela Nike

 

E, ainda, o anúncio ''cala-boca'' feito pela Bombril.