Negócios do Esporte

A diferença entre os Mundiais. Da Fifa e da Toyota

Erich Beting

A zebra verde e branca do Raja Casablanca desbancou mais uma vez a final que parecia óbvia do Mundial de Clubes da Fifa. Pela segunda vez em dez edições do torneio com a chancela da entidade, a decisão deixa de ter um representante da América do Sul. Essa situação mostra, na essência, qual a grande diferença entre os Mundiais que foram disputados entre clubes na história do futebol.

O primeiro, denominado Copa Intercontinental, reunia apenas os clubes campeões da América do Sul e da Europa. Era uma forma de os dois continentes que produziam os principais atletas e clubes do futebol na época medirem forças para determinar qual era o ''melhor do mundo''. Entre 1960 e 1970, o torneio tinha pelo menos duas partidas para definir o campeão, uma em cada continente. Depois, passou a adotar o saldo de gols para tentar reduzir o número de jogos para o título. No fim dos anos 70, com a agenda mais escassa e com mais dinheiro vindo de outras competições, por algumas vezes o campeão europeu abdicava da disputa do ''Mundial'', o que causou, em duas ocasiões, a não-realização do torneio.

A guinada da Copa Intercontinental veio em 1980, quando o plano de expansão global da montadora japonesa Toyota foi colocado em prática. A empresa decidiu, então, patrocinar o torneio. Com isso, o Mundial passou a se chamar Copa Toyota, sendo realizado em apenas um jogo, no Japão, país-sede da empresa. O caráter comercial do jogo fez com que a premiação em dinheiro para os clubes se tornasse mais atraente, e a partir de então a partida sempre contou com a presença dos campeões de cada continente, uma das exigências constantes do patrocínio.

O modelo deu tão certo que, em 2000, a Fifa tentou puxar para ela a organização do Mundial. A primeira tentativa, ainda capitaneada pela agência ISL, foi o torneio disputado no Brasil, que levou à conquista inédita do Corinthians. No ano seguinte, com a quebra da agência de marketing esportivo, o projeto do Mundial naufragou. Só em 2005 a Fifa, a partir de um acordo com a Toyota, conseguiu unificar as disputas.

E é exatamente aí que reside a grande diferença hoje entre os Mundiais.

O torneio da Toyota tinha um caráter comercial por trás da disputa que fazia ela ser reduzida aos campeões dos dois continentes mais representativos do futebol e também estratégicos para a empresa.

A partir do momento em que a Fifa passou a ser a organizadora da competição, ela precisou ampliar o alcance da disputa. Não eram mais só os interesses da Toyota em campo, mas também o da entidade esportiva. Assim, o Mundial passou a ter clubes de todos os continentes e também a equipe do país-sede. O objetivo, com isso, é ampliar o alcance esportivo do torneio.

O mérito esportivo fica maior no Mundial com o formato da Fifa, e a prova disso são as zebras de Mazembe, em 2010, e Raja Casablanca, agora. Mas, comercialmente, é muito mais interessante, para uma empresa que patrocina o evento, ter a audiência dos mercados da América do Sul e da Europa. Por isso, lá atrás, a Toyota não corria o risco de uma zebra espantar parte do interesse dos mercados-chaves da marca.

Uma coisa, porém, é inegável. O caráter de campeão do mundo, de um jeito ou de outro, está mantido.