Negócios do Esporte

Existe dinheiro para tanto evento?

Erich Beting

A proposta de criação da Liga Sul-Minas-Fla-Flu tem uma motivação que parece muito mais política do que de mercado. A própria escolha de Alexandre Kalil como presidente da entidade é uma mostra de que os clubes pensam muito mais numa forma de criar uma frente à CBF e federações do que realmente montar uma liga sustentável e que vire uma considerável fonte de receita para eles.

O projeto de criação da liga é completamente distinto daquele que levou à solidificação da Copa do Nordeste, único regional do país a ser realmente mais vantajoso do que os campeonatos estaduais que seus clubes disputam.

A Sul-Minas-Fla-Flu é uma afronta ao status quo da bola, muito mais do que um projeto sólido de construção de uma liga que arrecade mais que os estaduais e gere mais interesse do público.

Os clubes estão propensos a fazer a liga mesmo sem o aval da CBF. Por isso, estudam entrar, neste primeiro ano, com equipes sub-23 para não atrapalhar a disputa, principalmente, de uma eventual Copa Libertadores. É uma atitude que pode, num primeiro momento, já derrubar o interesse da mídia pela exibição do torneio. E, sem ela, perde-se em público e, naturalmente, não se encontra patrocínio.

Um dos maiores motivos para os Estaduais serem campeonatos que não trazem muito benefício aos clubes de Séries A e B é o fato de que eles são torneios que não possuem valor comercial. O futebol brasileiro não percebeu ainda que, num calendário repleto de competições, uma acaba canibalizando a outra comercialmente.

Hoje, a verba das empresas precisa se dividir entre Libertadores, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Estaduais e Copa Sul-Americana, seguindo uma relativa ordem de importância das competições. No caso do Nordeste, ainda há a Copa do Nordeste à frente dos Estaduais.

É muita competição para pouco mercado. Para o bolso do torcedor, é preciso priorizar o torneio que vai assistir. Para o bolso das empresas, é preciso pesar qual competição tem maior interesse do torcedor, depois aquela que garanta mais tempo de relacionamento e exposição de marca e, por fim, aquela que atrai mais a mídia.

Como é possível achar que há mercado para se patrocinar seis competições ao longo do ano? Não existe tanta empresa disposta a fazer esse tipo de investimento. Não existe mídia com dinheiro suficiente para pagar alto por seis competições.

Um dos segredos do fortalecimento do futebol na Europa foi a racionalização das competições. Os clubes disputam, no máximo, dois torneios nacionais e um internacional durante a temporada. Isso reduz o ponto de relacionamento deles com o torcedor e amplia o interesse em consumir o clube. Assim, mais marcas tendem a se interessar em patrocinar as competições e os clubes, já que é mais difícil ter o time ''à disposição'' da torcida como ocorre aqui.

Por mais que o propósito da Sul-Minas-Fla-Flu seja interessante, há um obstáculo imenso para fazer a competição vingar e crescer. Os times do Sul, mais Flamengo e Fluminense, recebem uma considerável verba de TV para a transmissão do Estadual, que os exige atuar com equipes principais. Sem nem o apoio declarado da TV, como uma liga como essa vai poder crescer e virar um bom negócio?

Nos anos 90, a IRL e a Cart perceberam que ambas perdiam dinheiro ao fazerem, cada uma por conta própria, a disputa de um torneio de monopostos nos Estados Unidos. Após alguns anos assim, elas decidiram se juntar para criar a Indy. O objetivo, mais do que a conciliação política, era transformar a Indy num bom produto. Conseguiram…