Negócios do Esporte

Dinheiro não falta ao Brasil para ser top 10

Erich Beting

A busca alucinada por medalhas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos últimos quatro anos resultou naquilo que era esperado. Na hora de explicar o motivo de a meta de estar entre os dez maiores do mundo nos Jogos do Rio de Janeiro, o comitê saiu pela tangente: minimizou a posição final e exaltou o ''melhor desempenho da história'', com aumento de presença em finais, maior número de medalhas da história de uma edição olímpica e pulverização de conquistas por diferentes modalidades.

Sim, tudo isso é verdade. Mas a realidade não dá tantos motivos para celebrar. O Brasil foi uma das nações que mais dinheiro despejou para a preparação de atletas no mundo. A falta de dinheiro e de empenho em investir não podem, hoje, serem usadas como muleta para justificar um desempenho abaixo do esperado no país.

O fato é que dinheiro não falta para o Brasil ser um país entre os dez mais potentes do esporte no mundo. Onde, então, estamos errando?

A conta é simples. O investimento que as confederações fizeram, no último ciclo olímpico, tinha como objetivo o alto rendimento de alguns atletas. Foram pagas viagens para melhorar desempenho, salários mais altos para se ter maior dedicação aos treinos, treinadores internacionais para trazerem maior conhecimento, etc. Pouco, para não dizer praticamente nada, foi feito para ampliar a base de praticantes daquela modalidade.

O que esse pensamento focado em medalha causa é uma distorção do processo de criação de uma nação que de fato seja uma potência esportiva.

Ao despejarmos muito dinheiro em poucos potenciais campeões, desestimulamos toda a cadeia. Não há condições para a formação de novos atletas e, pior, por estar com mais dinheiro, o atleta de alto rendimento que é beneficiado com Bolsa-Pódio, Bolsa-Medalha, Bolsa-Atleta, carreira militar, etc. não quer parar de competir, porque sabe que isso significará para ele a perda de receita. E, assim, criamos um modelo engessado, em que quem tem dinheiro continua a ter mais dinheiro, impedindo que novos talentos apareçam.

Um dos esportes que mais investe na base, no Brasil, é o futebol. E isso explica, em parte, o segredo do sucesso brasileiro em formar jogadores de futebol. Como é um grande negócio vender jogador, os clubes colocam um dinheiro a fundo perdido na formação de talentos. CTs modernos, equipes técnicas qualificadas, estrutura para o atleta se desenvolver pessoal e profissionalmente.

Assim como o COB, o clube de futebol foca seu investimento no alto rendimento. A preocupação é com o atleta vencedor. Mas o clube sabe que, para gerar mais dinheiro e manter um time competitivo, de nada adianta contratar o Messi e ter outros 10 coadjuvantes em campo.

Essa, porém, é a realidade de muitos esportes no Brasil. Investimos tudo em um único atleta, o que coloca sobre ele a pressão para obter resultado. A melhoria do país no quadro de medalhas e até mesmo em participação em finais não revela muita coisa sobre o rumo que temos tomado para crescermos como nação esportiva.

Muito mais importante do que colecionar medalhas é empregar os esforços para a disseminação da prática de atividade física no país. Isso só acontece se houver dinheiro, claro. Mas não um dinheiro para ser empregado em 50 potenciais atletas, excluindo-se dessa lista praticamente cem vezes mais de pessoas, por todo o país, que podem vir a ser um representante do país numa edição de Jogos Olímpicos.

A função das entidades esportivas como o COB – e do próprio governo – é ajudar na formação de atletas no país, e não investir a maior parte dos recursos em quem tem melhor desempenho. Essa mentalidade é para ser usada pelas empresas privadas que usam o esporte para ganho de imagem e/ou vendas. Para elas, só o craque daquela modalidade interessa.

Pelo dinheiro que o COB e as confederações tiveram à disposição de 2012 para cá, o Brasil não estar entre as dez nações mais vitoriosas do Rio 2016 é um motivo a mais para nos preocuparmos. Enquanto os recursos não forem enviados para a disseminação da prática esportiva, seguiremos adotando um critério que foi inventado pelos americanos e seu conceito de que ''sem ouro, sem medalha''. Basta comparar as realidades de um país e de outro para termos a certeza de que estamos no caminho errado.

Não falta dinheiro ao esporte no Brasil. O que falta, mais uma vez, é empregar de forma correta a verba.