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A luz vermelha para o futebol brasileiro acaba de ser acesa
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Erich Beting

Antes era uma luz amarela. Uma camisa de time estrangeiro vestida por um garoto na rua. Uma loja que tinha o uniforme infantil do Milan, mas não o do Palmeiras (apesar de serem feitos pela mesma fabricante). Uma chamada na mídia que dá mais espaço para o Instagram de Cristiano Ronaldo do que para o time grande brasileiro que iria jogar naquele mesmo dia.

Mas agora a luz está vermelha, pulsando firme.

No final de semana, a audiência da final da Liga dos Campeões da Europa na TV aberta foi maior do que a da transmissão do futebol brasileiro. E, pior, maior do que a exibição de dois clássicos estaduais válidos pela principal competição do país (detalhes aqui).

De quem é a culpa? Realmente temos de acabar com essa história de achar que resolvemos nossos problemas a partir do momento em que achamos um culpado.

O futebol brasileiro precisa trabalhar, e muito, para retomar seu espaço com o torcedor. Como parte da indústria do esporte, não podemos aceitar que um jogo de Brasileirão, ainda mais um clássico, seja menos popular que uma partida de futebol europeu.

Foi exatamente essa disparidade de qualidade de produto que fez com que o basquete mundial perdesse espaço para a NBA. E, após literalmente engolir todos os outros países, a própria liga americana percebeu que, agora, precisar ajudar no desenvolvimento do esporte mundo afora, começando inclusive pelo Brasil, ao se associar ao NBB.

Será que vamos continuar a abandonar nosso produto a tal ponto que uma Uefa, Premier League ou Bundesliga decidam vir até aqui para nos recolonizar?

Há pouco começou um movimento dentro da CBF para mexer um pouco no Brasileirão. Apesar de duramente criticadas, as medidas de criar hino da competição, dar padrão na entrada dos times, dos campos, etc. são formas de tentar começar a mexer no produto. É pouco, mas é um início de algo.

O problema é saber se o plano estratégico para o Brasileirão foi desenhado ou se estamos tomando medidas no escuro, percebendo que é preciso melhorar algo, mas sem nem conseguir saber por onde.

Se, antes, havia apenas uma preocupação, agora a luz vermelha foi acesa para todos neste final de semana. É preciso, urgentemente, que o futebol comece a unir esforços para recuperar o torcedor. Do contrário, quando formos olhar de novo, os europeus voltarão com duas bolas debaixo do braço para refundar o futebol no Brasil…


Redução do futebol na TV pode ajudar os clubes
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Erich Beting

A análise parte de duas notícias do dia de hoje. A primeira, no UOL, de que a Globo estuda transmitir apenas uma partida por semana na TV aberta a partir de 2020 (aqui). A outra, na Máquina do Esporte, com a audiência cada vez mais crescente da Band na Liga dos Campeões da Europa (aqui).

Uma se relaciona à outra de formas distintas. E elas mostram que, ao contrário dos outros esportes, o futebol pode se beneficiar de uma menor exposição na TV para aumentar o consumo em seus diferentes níveis.

As maiores críticas dirigidas à Globo estão ligadas ao fato de ela “esconder” os outros esportes na TV, dando ênfase para o futebol na sua grade de programação. Hoje, na prática, a emissora dedica a manhã de domingo para todos os esportes, enquanto o futebol tem toda quarta e domingo espaço nobre na TV.

E, acredite ou não, isso faz mal para a promoção do esporte. Hoje há uma “overbola”. É muito futebol, às vezes de baixa atratividade, disponível para o telespectador. E, para piorar, desde que os contratos com a TV passaram a ser individuais, o privilégio de aparecer na TV aberta é concedido a poucos times, o que faz aumentar ainda mais a exposição constante das mesmas equipes, reduzindo também o interesse do consumidor.

Daí chegamos à questão do aumento de audiência na Band.

Até o ano passado, a Liga dos Campeões era transmitida no Brasil da seguinte forma: na terça-feira, os jogos estavam na ESPN e Sports+ pela TV paga e no Esporte Interativo pela parabólica. Na quarta, era dia de ESPN e Sports+ na TV paga e Band/Globo na TV aberta.

O alcance da competição era muito grande, considerando que a ESPN faz parte de todos os pacotes de programadoras e havia dois dias de transmissões em canais abertos.

Neste ano, com a migração para o Esporte Interativo, que ainda está em menos de 30% dos lares com TV paga do Brasil, a Liga dos Campeões perdeu muita exposição na TV. Se, antes, a grande variedade de canais permitia que o torneio fosse bastante consumido pelo torcedor, nos mais diferentes meios, ele agora concentra o consumo.

É isso o que tem impulsionado a audiência da Band a cada rodada. Ontem, mais alguns pontinhos foram ganhos pela emissora. Num jogo que envolvia um time midiático (o Real Madrid), mas que ao mesmo tempo ficou no 0 a 0, a Band conseguiu a melhor audiência para uma primeira fase de Liga dos Campeões, que ela transmite há quase dez anos.

Transpondo a situação para o futebol brasileiro, os clubes só têm a ganhar quando a Globo reduz a exposição da bola na TV aberta. Para dar ainda mais valor ao Campeonato Brasileiro, melhor seria se, em vez de exibir partidas por região (Flamengo para o Rio, Corinthians para São Paulo, Cruzeiro para Minas Gerais, Inter para Rio Grande do Sul, etc.), a emissora transmitisse apenas o jogo de maior interesse da rodada.

Isso ajudaria a aumentar o interesse do torcedor geral pelo campeonato e até ajudaria a promover mais outros produtos, como o pay-per-view, que naturalmente abraça o mais fanático, que busca acompanhar toda a competição.

Ao contrário dos outros esportes, que precisam da exposição na TV para crescer, no Brasil o futebol precisa da redução de exposição na TV aberta para aumentar o consumo. No fim das contas, poderá ser bom para os clubes essa mudança de estratégia da Globo para a transmissão de jogos. Resta saber como estará o cenário de televisão ficará até 2020.


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