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Que Brasil queremos ser?
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Erich Beting

O final de semana prometia. As atuais campeãs e vice-campeãs mundiais estariam em Brasília para a disputa de um torneio amistoso de handebol. Desde o Mundial de 2011, esse talvez tenha sido o maior evento de handebol no país.

O Quatro Nações reuniu Brasil (campeão de 2013), Sérvia (vice), Argentina (campeã do Pan-Americano) e Eslovênia. O evento é um exemplo de como os gestores esportivos no país têm sido mais ambiciosos nos últimos anos. Não só eles têm se arriscado a realizar eventos maiores e mais atrativos para o público, mas têm feito algo com alto nível técnico, como prometia ser o último evento pré-Mundial da Dinamarca.

O esforço da confederação em trazer os países para jogar tinha sua compensação. Transmissão ao vivo pelo Sportv dos duelos, presença de público assegurada e, ainda, ações de ativação dos patrocinadores da CBHb, que conseguiam, assim, pegar carona pré-Mundial. O roteiro foi bem desenhado a ponto de o time brasileiro se encontrar com Dilma Rousseff durante a semana, entregar uma camisa para a presidente e ainda anunciar dois anos de renovação do patrocínio com os Correios.

Apesar de ainda depender de verba estatal, o handebol passou um recado de seriedade, de preocupação com o público, com os patrocinadores e com os atletas, que teriam a chance de estar “em casa” pré-Mundial, junto da família e num momento de celebração.

Mas…

Choveu em Brasília, e o ginásio Nilson Nelson, palco dos jogos, ficou encharcado. Sim, um ginásio que há sete anos recebeu R$ 15 milhões para reforma. Mas que, sem manutenção, tinha algumas goteiras que molharam a quadra. O jogo de abertura do Quatro Nações, na sexta-feira à noite, foi adiado para o dia seguinte, com o público recebendo o pedido de desculpas feito pelas jogadoras, ali na quadra.

Ou seja, as atletas tiveram de assumir a bronca pela falha grotesca no ginásio pago com dinheiro do torcedor e, com selfies, autógrafos e afagos, acalmaram os ânimos de torcedores mais exaltados (o ingresso para o jogo era 1kg de alimento não-perecível).

No sábado, novamente com as jogadoras em quadra, as goteiras foram contidas, mas a umidade no ginásio era tanta que, para manter a segurança das atletas, decidiu-se paralisar o Brasil x Eslovênia com 19 minutos jogados. Os jogos foram transferidos para um ginásio fechado e sem condições de abrigar câmeras para a transmissão pela TV.

No final das contas, o Quatro Nações, que tinha tudo para ser o torneio de promoção do handebol brasileiro, se transformou num amistoso fechado para as seleções, sem presença de público, sem transmissão da TV.

O descaso com o ginásio Nilson Nelson não é novidade. Em 2011, um Mundial de patinação foi suspenso pelo mesmo problema. Naquela época, eram só três anos que haviam se passado desde a reforma de 2008, feita para o Mundial de futsal realizado na cidade.

O ponto, porém, é que o problema não é só no Distrito Federal. Hoje, há menos de cinco ginásios em condições de receber eventos esportivos de alto nível no país. E, na lista, quase sempre ficam como opções Maracanãzinho, HSBC Arena e Ibirapuera, todos no concorrido eixo Rio-São Paulo de eventos.

O Brasil é capaz de pensar grande e realizar grandes feitos, como a realização de um torneio amistoso que envolve campeão e vice-mundial de uma modalidade. Mas o Brasil também é capaz de, por descaso, permitir que esse evento acabe simplesmente porque existem goteiras (!!!!) no principal ginásio da capital federal.

Qual o Brasil que queremos ser?

Aquele capaz de grandes feitos ou o Brasil de pequenos defeitos que insistem em nos colocar para baixo?


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