Negócios do Esporte

Governo italiano acelera lei para ajudar clubes a ter estádios

Erich Beting

O governo italiano está muito próximo de aprovar uma lei que cria uma série de facilidades para que os clubes do país possam construir estádios próprios. A justificativa para a criação da lei é a devolução da competitividade dos clubes e do próprio país dentro do mercado europeu.

A Itália perdeu as concorrências para abrigar as edições de 2012 e 2016 da Eurocopa, enquanto que, no cotidiano dos clubes, sem estádios próprios, os times têm ficado para trás na geração de receitas. Milan, Juventus e Inter, que figuram entre os 20 mais ricos do continente, segundo levantamento anual da consultoria Delloitte, são os únicos que não chegam a ter 20% de seu dinheiro  oriundo dos dias de jogos.

Hoje, o futebol italiano convive com estádios com difícil acesso, falta de segurança e conforto para o torcedor e, mais do que isso, sem qualquer infraestrutura para permitir que ações corporativas sejam feitas dentro das arenas, fazendo com que uma importante receita seja deixada de lado, que é a venda de assentos corporativos, responsáveis na maioria das vezes por menos de 10% dos assentos dos estádios mas por cerca de 50% da receita de uma arena.

Os italianos relacionam essa situação a uma ''herança maldita'' da Copa de 1990. A conclusão é a de que o Mundial obrigou o país a erguer estádios enormes, adequados para o torneio, mas não para o dia-a-dia do futebol no país. O ponto-chave para essa constatação, a bem da verdade um tanto quanto tardia, foi a demolição do Delle Alpi, em Turim, e a construção de um novo estádio da Juventus. Em vez dos 67 mil lugares de antes, uma arena para 41 mil pessoas, tamanho mais do que suficiente para estar com uma boa taxa de ocupação e gerar receita considerável para o clube.

A Juve representou o ponto de virada para o futebol na Itália. Outro agravante no país é o fato de que esse novo estádio da Vecchia Signora é o primeiro de propriedade privada. Todas as demais arenas são públicas, erguidas pelos municípios, o que também dificulta a gestão diária do espaço e faz os clubes faturarem menos com o dia de jogo.

Foram necessários 21 anos e a perda da hegemonia do futebol italiano em solo europeu para que o salto da bota quebrasse e o país passasse a ver o futebol na Itália não com a grandiosidade da Copa do Mundo, mas com a realidade do seu cotidiano.

Será que precisaremos disso para, em 2035, repensar a gestão dos clubes e das arenas no futebol brasileiro? Ou ainda vamos sempre esperar do governo a lei salvadora para esconder as falhas anteriores?