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Que roteiro do ouro olímpico é esse?
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Erich Beting

O roteiro da conquista do primeiro ouro olímpico do futebol no Brasil foi espetacular. Nem que o mais Zagallo dos Zagallos quisesse, conseguiríamos ter pensado em escrever dessa forma a história do fim do mais incômodo jejum do time brasileiro.

Mas hoje, muito provavalemente, o Brasil colocou abaixo Maracanazzo e Mineirazzo na mesma cobrança de pênalti de Neymar. Neymar que lembrou Zagallo ao dizer que “vão ter de engolir”. E que engoliu as críticas – justas e injustas – para se transformar no protagonista que sempre se espera dele.

A forma como atuou nos três jogos de mata-mata dessa Olimpíada mostrou que ele pode ser capitão do time e, também, protagonista na seleção principal. Como foi Ronaldo, Romário, Pelé. Sim, Neymar se coloca agora no mesmo patamar desses grandes nomes. Não pelo que ainda não fez dentro de campo, mas pelo que conseguiu liderar o time brasileiro para uma conquista inédita, dentro de casa, num país que não sabe lidar com o fator casa.

Qualquer Brasil x Alemanha, depois dos 7 a 1, será cercado de toda essa história de revanche, apagar o passado, fim da humilhação, etc. Não será possível. Assim como o roteiro da primeira medalha de ouro do futebol brasileiro não tem como ter sido mais bonito.

Foram três quedas em finais para conseguir a tão sonhada medalha dourada. Em casa, com um time desacreditado e com um craque contestado. Nos pênaltis, contra o maior algoz da nossa história, depois da maior humilhação de nossa história numa Copa do Mundo, também em casa.

Neymar tem tanta estrela que os dois gols decisivos dele hoje aconteceram na bola parada. Para que todos pudessem parar para ver. Aplaudir. E mostrar que o Brasil tem um líder dentro de campo, apesar de tudo o que está errado fora dele.

A conquista do Brasil não apaga os erros da CBF. Mas é uma mostra de que o futebol do Brasil não pode nunca ser subestimado. A renovação de atletas sobrevive aos desmandos dos dirigentes. Até nisso o roteiro do ouro não teria como ser escrito de outra forma…

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“Segunda Campeã” exige profissionalismo do atleta
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Erich Beting

Até que demorou mais do que esperava a primeira discussão acerca da proposta do SporTV na “Segunda Campeã”, como está sendo apelidado o jogo de segunda-feira à noite transmitido pela emissora com exclusividade. Veio do ex-jogador Tinga a crítica sobre o fato de os jogadores terem de conceder, dentro de um estúdio, ainda com a roupa de jogo, a entrevista para o programa “Bem, Amigos”, que começa colado na sequência da partida.

Na primeira “Segunda Campeã”, o vazamento da conversa de Cuca com Diego Souza sobre o time do Santos gerou insatisfação dos palmeirenses. Desta vez, Tinga desceu a lenha no fato de os jogadores serem obrigados a irem direto do campo para a entrevista “ainda cansados”, segundo argumentou o ex-jogador de Inter e Cruzeiro.

Particularmente, achei a proposta da entrevista pós-jogo num estúdio, só com dois jogadores e um treinador, um formato bem interessante. O atleta ali, ainda com o uniforme de jogo, é um elemento novo para os programas de debate. O “confronto” entre jogadores que acabaram de sair da partida, bem como de um treinador, também é outra situação que agrada do ponto de vista jornalístico. Ainda acho que o “Bem, Amigos” deve explorar ainda mais o conteúdo jornalístico trazido por essa situação, focar a entrevista nos detalhes do jogo, instigar ainda mais o atleta e o treinador, mas isso também fugiria demais da característica do próprio programa.

Para o torcedor, acredito também que seja legal sair daquele formato batido e modorrento das entrevistas coletivas pós-jogo. Lentas, massacrantes, repetitivas, etc. Ali existe mais dinamismo, o atleta está ainda com o jogo quente na cabeça, existe o confronto direto do debate com outros atores da partida.

Mas e para atletas e treinadores, será que Tinga está certo em reclamar?

Já havia tido essa percepção logo depois de Sport x Palmeiras e reforcei-a acompanhando o pós-jogo de Cruzeiro x Atlético-PR. O jogador precisará ser muito mais profissional para encarar esse bate-papo após a partida.

Respostas menos pasteurizadas, inteligência para se posicionar, preocupação com a imagem que será transmitida por ele após o jogo. Tudo isso é exigido no formato apresentado até agora. O atleta não poderá ficar naquela mesma expressão de sempre, mantendo o mesmo padrão de resposta, fugindo de respostas mais agudas.

No esporte profissional, o atleta precisa entender sua posição como protagonista não apenas dentro de campo. Ele tem de saber se posicionar e fugir do padrão. Nesse formato da “Segunda Campeã”, o jogador de futebol, pela primeira vez, precisa ser um pouco mais do que alguém que “faz parte do grupo”, que “chegou para somar” e que o “importante são os três pontos”.

E, como qualquer mudança de padrão, ela gera descontentamento. O fato é que o jogador de futebol no Brasil está tendo de sair da zona de conforto para ser mais atleta, mais profissional. “Só” jogar futebol é tarefa fácil demais nesse cenário…


Futebol dos EUA não vai crescer mais do que isso
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Erich Beting

Sim, o tema é polêmico, até porque a opinião vai na contramão do que a maioria vaticina. Mas o futebol, nos Estados Unidos, não será muito maior do que é hoje. E o motivo é um só. Grana.

Ok, há um crescimento da MLS. Mas muito mais pelos lados de cá, turbinado pela criação do Orlando City com um dono brasileiro, do que realmente dentro do mercado americano. Ainda não há a criação de uma cultura do “soccer” forte o suficiente para fazer com que ele se transforme em football e seja popular o suficiente para transformar os Estados Unidos numa potência mundial.

Falta dinheiro ao futebol nos Estados Unidos para que ele possa crescer. É só comparar os mercados interno e externo para perceber isso claramente.

Sim, a MLS fez um acordo histórico de mídia com a ESPN que lhe valeu um considerável aumento de receita. Sim, há cada vez mais marcas interessadas em se associar ao esporte lá, que tem ganho popularidade.

Mas, enquanto cresceram os números da MLS, saltaram, em proporção ainda maior, as receitas da NFL, da MLB e da NBA. Futebol (o deles, com as mãos), beisebol e basquete são, esses sim, esportes com muito maior apelo popular e, mais do que isso, com muito mais dinheiro. O atleta dessas três modalidades ganham fortunas. O jogador de futebol, na proporção, ganha bem menos que eles. E não há perspectiva, de no médio prazo, esse quadro se modificar.

Outro ponto que atrapalha o soccer é a concorrência com o mercado externo. Os EUA são os melhores do mundo no futebol americano, no basquete, no beisebol. Mas estão longe, muito longe, de serem os melhores no futebol com os pés. Enquanto isso, na Europa, Barcelona, Real Madrid, Bayern e outros times mais fazem o que fizeram as ligas americanas nos últimos 20 anos. Exportam o seu produto, que é reconhecidamente o melhor do mundo.

Sim, o americano sabe o que é futebol. Ele vê a Copa do Mundo. Mas ele também acompanha, e muito, a Premier League inglesa e a Liga dos Campeões da Uefa. Como cidadão que cresceu acostumado a grandes espetáculos de entretenimento, ele foi procurar – e encontrar – no futebol europeu a excelência que encontra na NFL, NBA, MLB…

Aí entra outro grande entrave para que a MLS venha a ser grande. É só ver o frenesi que representa a presença de Lionel Messi em campo para a Copa América Centenário. É, na mesma proporção, o que causará LeBron James quando vier jogar as Olimpíadas. O cara é o ídolo mundial, que todos querem ver.

Mas e a MLS?

Bem, por mais que tenha tido um incremento de receita, por mais que haja mais torcedores acompanhando os jogos nos estádios, por mais que pareça que o americano tenha entendido que há uma oportunidade de mercado para explorar comercialmente o soccer, não há condições no mercado interno para o futebol vir a ser o esporte número 1 do país, diferentemente do que acontece na Inglaterra, no Brasil, na Alemanha, na Espanha, na Itália, na França…

A receita da MLS será, obrigatoriamente, menor que a das principais ligas dos outros esportes. E, proporcionalmente, menor também que o montante de dinheiro que rola na Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e, naturalmente, Brasil.

Os Estados Unidos poderão criar seleções competitivas que, eventualmente, ficarão entre as 8 melhores do mundo numa ou outra Copa. Mas o atleta de qualidade dificilmente brotará em profusão no país como acontece em outras modalidades. Afinal, esse cara sonhará, desde criança, em ser um LeBron, um Curry, um Tom Brady… Ali é que se ganha fama, status, dinheiro.

O futebol? Bem, esse possivelmente continuará a ser um esporte bastante popular e divertido, especialmente quando se vê uma final de Liga dos Campeões com os extraterrestres argentinos, brasileiros, alemães, uruguaios, italianos, espanhóis…

Os EUA talvez até já tenham atingido o teto na evolução técnica para se jogar futebol. Dá para pensar num time chegando a uma semi da Copa América, mas, diante de um rival como a Argentina, bem organizado taticamente e com um ET como Messi, o time americano não conseguirá finalizar a gol em 90 minutos, como foi ontem.

A MLS pode até se desenvolver, vir a ser relativamente maior do que é hoje e até ganhar um mercado no exterior, mas o futebol praticado pelos americanos não irá muito mais adiante do patamar que já atingiu… Ele continuará a ser o primo pobre no mercado local. E, por conta disso, pagando menos do que as ligas de futebol concorrentes pelo mundo.

O craque, naturalmente, vai sempre preferir jogar na Europa. O americano de fato está conhecendo e se encantando cada vez mais pelo futebol.

Mas ele chegou tarde…


CBF tem a oportunidade para mudar rumo do futebol
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Erich Beting

Geralmente é no momento de crise que surgem boas oportunidades para mudar maus procedimentos dentro de uma empresa. E é esse o momento pelo qual passa a CBF.

Em 2014, pós-Copa, a hecatombe diante da Alemanha foi tão forte que nos deixou sem rumo. Falávamos em mudança, mas não saberíamos realmente dizer por onde começar, a não ser que a terra arrasada deixasse o país sem técnico e sem comando no futebol.

No que aparece da porta para fora no futebol brasileiro, parece que nada mudou. Os dirigentes com a carcaça dos 7 a 1 seguem no comando, entre idas e vindas. O treinador é o mesmo de 2010, menos turrão, mas ainda morrendo de véspera como alguns perus por aí. E o futebol está longe de ser o protagonista do passado.

Como já dito aqui no blog desde muito antes, o que precisamos para começar de fato a mudar a seleção brasileira não é necessariamente trocar quem está no comando do futebol. Mas fazer um exercício para identificar qual é a marca do nosso futebol.

Qual é o futebol da seleção brasileira que precisa ser vendido para o público? O Brasil “país do futebol” foi construído pelo que demonstraram nossos jogadores com a bola nos pés. Um produto de exportação único tal qual havia sido o pau-brasil e já foi o café. Com o benefício de que outros lugares não conseguiram, até hoje, produzir um espetáculo tão vistoso – em plástica e eficiência – como havíamos conseguido nos anos 50 e 70.

Enquanto a CBF não determinar o que quer para a seleção brasileira, seguiremos com o Peru entalado na garganta, ou com sete cocos na cabeça. Que tipo de futebol vamos ver a seleção praticar? Ele representa o DNA do futebol brasileiro? Qual é o nosso DNA? O que representa o futebol do Brasil para o restante do mundo?

Semana passada fui à CBF participar de um debate sobre internacionalização do futebol. Expus exatamente esse raciocínio para os dirigentes ali presentes. É a minha visão, longe de ser a verdade absoluta.

A sensação que me dá é de que, enquanto não tivermos a noção exata do que queremos para a seleção brasileira, será muito difícil tentar vender qualquer imagem do futebol brasileiro lá fora que seja minimamente compatível com o produto que estamos ofertando.

O fiasco centenário do Brasil na Copa América do Centenário é a oportunidade que faltava para começar a plantar essa semente. O próximo técnico da seleção brasileira precisa, necessariamente, buscar trazer para o nosso futebol um aspecto que enfatize um desejo coletivo de produto a ser apresentado pelo país.

Não adianta esperar uma revolução nas categorias de base para isso. Há pé-de-obra qualificado para se chegar a um produto minimamente aceitável em termos de qualidade de jogo, desempenho e resultado. Precisa, apenas, ter uma comunicação clara do que se pretende para a seleção brasileira e buscar quem consiga entregar isso.

É isso o que explica parte do sucesso de uma empresa que tenha faturamento de mais de meio bilhão de reais. É isso o que deveria nortear o trabalho da CBF daqui para a frente. O treinador da seleção é um funcionário, não um para-raio de críticas e bode expiatório a cada mau resultado.


Ranking explica o porquê de Nike pagar muito pelo Chelsea
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Erich Beting

Depois de uma fase em que os contratos de patrocínio de camisa foram para as alturas, o futebol europeu convive agora com a era em que os acordos de fornecimento de material esportivo serão inflacionados. A divulgação do ranking de fabricantes que mais vendem camisas feita pela consultoria Euromericas, somada com a história de que a Nike está próxima de anunciar acordo com o Chelsea, explicam por que a fabricante americana decidiu pagar um valor até pouco tempo atrás inimaginável pelo clube londrino.

Desde que se transformaram em marcas globais, os clubes de futebol da Europa viraram alvo da cobiça das grandes fabricantes de material esportivo. Uma camisa do Barcelona, hoje, tem mercado em qualquer lugar do planeta.

Por isso mesmo, o Chelsea estava insatisfeito por receber “apenas” £30 milhões por ano da Adidas (algo em torno de R$ 150 milhões). E foi por isso que passou a jogar duro com o mercado. Como, nos últimos anos, a Nike perdeu alguns dos principais clubes do planeta (Manchester United, Juventus e Arsenal), a investida sobre o time de Roman Abramovich faz todo sentido.

O contrato histórico de £60 milhões ainda é pouco perto do que ganha o United e do que irá ganhar o Barcelona. Mas, na lógica comercial da empresa, é um patrocínio que se paga. Com 3 milhões de camisas vendidas mundialmente, o Chelsea consegue fazer esse dinheiro retornar a seu patrocinador.

No Brasil, há cerca de cinco anos, quando Flamengo e Corinthians fizeram contrato na base de R$ 30 milhões por ano, seus dirigentes celebraram uma arrecadação histórica com o fornecimento de material esportivo. A diferença do que esse tipo de contrato representa aqui e na Europa é a prova de que os clubes brasileiros não possuem qualquer penetração para além das fronteiras nacionais.

O papo de “conhecido internacionalmente” que os brasileiros teimam em querer se vangloriar não é absolutamente nada comparável ao “vendido internacionalmente” que os principais clubes da Europa podem dizer que são.


Ligas de todo o Brasil, uni-vos!
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Erich Beting

A notícia não poderia ser melhor para o mercado esportivo nacional. As principais ligas esportivas, à exceção do futebol, decidiram sentar numa mesma mesa e começaram a planejar como fazer para que elas deixem de se canibalizar e passem a, racionalmente, dividir calendário, despesas e gerar receitas em conjunto (detalhes aqui).

Enxergar a existência das ligas como negócio é fundamental para que elas possam crescer. Diferentemente do mercado americano, em que há uma concorrência maior entre os diferentes esportes, por aqui o esquema é outro. Como o futebol é tão forte e concentra tanta verba, um plano tático conjunto de basquete, futsal, handebol e vôlei pode ser extremamente eficiente para que essas modalidades cresçam.

O mercado brasileiro é extremamente peculiar no que diz respeito à indústria do esporte. Ainda temos pouca capacidade geração de riqueza. Não há ligas nacionais fortes e constituídas. Da mesma forma, temos baixa exposição na mídia e menor aderência de público para os esportes além do futebol.

Tudo isso leva a um cenário que, durante décadas, foi deteriorado por vaidade de dirigentes que queriam se autoproclamar o primeiro esporte do país, já que o futebol é religião. E aí o que vimos foi, aos poucos, o vôlei matando o basquete, que matou o handebol, que matou o futsal, que matou o vôlei, que matou…

Os esportes passaram a, de forma agressiva, tentar ganhar uma fatia de mercado em detrimento da outra modalidade. Se havia uma marca no vôlei, o basquete ia atrás para ter uma proposta dela. O calendário, muitas vezes, encavalava as decisões de um esporte com a do outro. E o resultado, claro, era a deterioração de ambos como produto. Não só para a TV, mas para torcida, atletas, dirigentes e, claro, patrocinadores.

É um alento saber que as quatro modalidades coletivas com maior potencial de geração de receita no país decidiram se unir para conversar. Não precisa nem sair negócio. Mas o fato de já debaterem alguns temas de interesse mútuo sinaliza claramente que há caminho para todos.

O futebol andou para trás no Brasil quando perdeu a capacidade de enxergar nos clubes um ponto de união, e não de concorrência. As ligas, ao entenderem isso, começam a dar um primeiro passo para conseguirem se tornar modalidades sustentáveis (e atrativas) para todos os atores da indústria do esporte.

A união das ligas talvez seja uma das melhores notícias do esporte brasileiro dos últimos tempos.


O que o torcedor merece, afinal?
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Erich Beting

“O futebol é feito também de dinheiro, mas não só de dinheiro. O futebol é feito de respeito com torcedor, com as tradições, e com aquilo que cada clube fez durante competição”.

A frase foi dita por Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, justificando a escolha dos estádios para a final do Paulistão Itaipava de 2016. A opção de mandar os jogos para o José Liberatti e a Vila Belmiro preserva o princípio básico do esporte, que é a garantia de competitividade entre os clubes.

Mas será que essa é, para o campeonato, a melhor escolha?

A opção de privilegiar apenas a questão do mando de campo na final fará com que, pela primeira vez neste século, o Paulistão realize dois jogos de final para menos de 30 mil pessoas. Nem quando São Caetano e Paulista decidiram o torneio, em 2004, tão pouca gente foi ao estádio, já que o Pacaembu abrigou a partida decisiva.

Pelos dados oficiais, nem quando Bragantino e Novorizontino decidiram o Paulistão de 1990, na primeira “final do interior”, o público foi tão baixo. Nas contas chutadas de quase 30 anos atrás, eram 15 mil torcedores empilhados nos dois estádios em cada um dos jogos.

E aí voltamos à frase de Reinaldo Carneiro Bastos. O futebol não é só dinheiro, sem dúvida. Nisso ele está coberto de razão. Mas o futebol precisa ter respeito ao torcedor. Essa é a essência do negócio. É o torcedor, afinal, quem faz existir todo esse espetáculo.

Será que é respeitar o torcedor restringir uma decisão de campeonato para no máximo 25 mil pessoas?

Soma-se a isso sugestão dada pelo brilhante publicitário Ricardo Chester em seu perfil no Facebook. Por que não fazer da decisão do Paulistão um grande evento, em jogo único, sempre no Pacaembu? Como bom publicitário que é, além de fã de futebol, Chester até já imaginou a campanha de início da competição “Rumo ao Pacaembu”.

Ter uma final em jogo único, num local pré-definido, permite nortear uma série de ações para todos os envolvidos no campeonato: atletas, clubes, torcedores, federação, patrocinadores, mídia…

Não adianta querer dizer que isso fere qualquer princípio esportivo. O clube já sabe, de antemão, que a decisão será em jogo único, naquele estádio. Não é jogo de torcida única, não é mando de campo de A ou B. É um lugar onde será realizada a decisão do campeonato.

Isso permite planejar como será dividida a carga de ingressos para a partida, permite à federação vender antecipadamente bilhetes, permite às marcas ativarem seus clientes, permite aos clubes programarem ações para o torcedor se engajar com ele durante todo o torneio e até mesmo permite aos torcedores já comprarem antecipadamente passagem e hospedagem para ver a decisão do campeonato, independentemente do time que a disputar.

Não é qualquer novidade fazer dessa forma. É o modelo adotado pela NFL e que foi copiado pela Uefa na Liga dos Campeões, hoje o campeonato de futebol mais desejado do mundo.

Esportivamente é justo. Comercialmente é muito mais rentável. E, promocionalmente, é muito mais fácil trabalhar.

O que o torcedor merece, afinal, não é só o respeito à tradição no futebol, mas um evento legal para ele acompanhar, independentemente do time para o qual ele torce.

 


TV precisa de bom produto; Champions e Libertadores são a prova
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Erich Beting

Um dos maiores problemas do arrastado Campeonato Estadual com 19 datas no atual calendário brasileiro é que, aos poucos, ele vai se transformando num péssimo produto também para a televisão.

Prova disso foi a audiência de quarta-feira do futebol na TV aberta.

De tarde, Atlético de Madri x Barcelona pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões da Uefa atingiu 18 pontos de audiência no Ibope (com 39% das TVs ligadas) em São Paulo e 19 pontos (41% de participação entre as TVs ligadas) no Rio de Janeiro.

De noite, São Paulo x River Plate, jogo decisivo da primeira fase da Copa Bridgestone Libertadores, rendeu 26 pontos no Ibope (com 41% das TVs ligadas) em São Paulo. No Rio, Remo x Vasco pela Copa Continental do Brasil somou 25 pontos no Ibope, com 42% das TVs ligadas.

Os números se assemelham. E mostram que, hoje, a Liga dos Campeões começa a ser um produto tão bom quanto jogos importantes de times brasileiros.

E os Estaduais? Na fase de classificação, à exceção dos clássicos, a audiência dos jogos ficou próxima dos 20 pontos. É pouco, quase nada. Teve jogo com menos de 35% de participação em TVs ligadas.

Com uma concorrência cada vez mais acirrada de outros meios de comunicação e atividades de lazer, a TV precisa de um bom produto para exibir para ter altos índices de audiência.

Nesse cenário, os Estaduais são um estorvo cada vez maior. Ou as federações reduzem o número de datas e deixa os jogos mais importantes ou, rapidamente, começarão a ser colocadas para escanteio pela televisão, hoje a principal fonte de renda dos Estaduais.


Caixa chega a 50% do patrocínio na Série A
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Erich Beting

A renovação da Caixa com o Corinthians marca um novo recorde para o banco estatal. Na Série A do Brasileirão deste ano, metade dos clubes ostentarão o logotipo da empresa no espaço principal do uniforme. O alcance da marca é mais uma mostra de que o futebol brasileiro ainda vive numa bolha de investimentos.

A Caixa injeta, na Série A, R$ 112 milhões em dez clubes. Só que Corinthians e Flamengo concentram R$ 55 milhões desse total, praticamente a metade da verba.

O perfil desse investimento é a prova de que o modelo de venda e compra de patrocínio no futebol brasileiro está completamente deturpado. Como ele está calcado apenas na exposição da marca, os valores de patrocínio são inflacionados e injustificáveis num cenário de crise econômica como o atual.

É por isso que os clubes precisam recorrer a patrocínios estatais para assegurar a manutenção de investimentos. Não só os dez da Caixa, mas também os dois times do Rio Grande do Sul se mantêm graças a aportes acima do preço de mercado feito por empresa estatal.

Na Europa, durante boa parte do tempo, os clubes se mantiveram na base de patrocínio de empresas de aposta. Foi exatamente por conta da supervalorização dos patrocínios, mas sem justificativa plausível além da exposição de marca globalizada.

De uns tempos para cá, os clubes conseguiram mostrar que podem ser pontes para a geração de negócios dos patrocinadores e o perfil dos investidores na Europa mudou bastante.

É exatamente isso o que precisam fazer os clubes brasileiros. Mesmo num cenário de crise, é muito ruim ter 60% da Série A do Campeonato Brasileiro bancada por empresas estatais, sendo que metade delas é a Caixa.


Europa colhe fruto de globalização dos seus clubes
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Erich Beting

Estudo recente do instituto Repucom, na Europa, mostra que os times das cinco principais ligas do continente atingiram um faturamento recorde de € 830 milhões em patrocínio de camisa (detalhes aqui). O estudo sugere que, em breve, seja alcançado o recorde de um bilhão de euros em faturamento com o patrocínio de camisa.

O número representa, em parte, o sucesso do processo de globalização dos clubes europeus, principalmente por meio da Liga dos Campeões da Europa. Ao se tornarem marcas globais, os clubes têm atraído patrocínios mundiais.

Alguns números desse estudo da Repucom mostram isso de forma clara.

O primeiro deles é a divisão por segmento de atuação dos patrocinadores. Empresas de turismo e viagem são responsáveis por injetar 200 milhões de euros nos clubes. Um produto de massa, de alcance global, quase sempre atrai o investimento de marcas que oferecem serviços mundiais. Companhias aéreas e ministérios do turismo têm sido marcas frequentes nas camisas dos clubes de ponta da Europa.

Outro fator importante é a proporção de investimento feito por empresas locais e estrangeiras. Na atual temporada, 512 milhões de euros dos 830 que os clubes faturaram são de empresas estrangeiras. Ou seja, são marcas que buscam atuação global e encontram, no futebol europeu, o meio para se comunicar.

Por aqui, ainda confundimos patrocínio com publicidade. Isso faz com que a indústria de patrocínio no futebol ainda seja, na prática, uma forma de compra de mídia pelas empresas. O resultado disso é que, como os clubes não são vistos como plataforma geradora de negócios, o montante a ser investido no futebol se torna menor e, quase sempre, restrito ao mercado local.

Além da falta de visão do mercado investidor, existe uma dificuldade imensa dos clubes de mudarem o argumento de venda para as marcas. Esse foi o salto que o futebol europeu conseguiu fazer há cerca de 20 anos e que agora fica mais claro com os clubes sobrevivendo a qualquer crise financeira no Velho Continente.

A indústria do esporte no Brasil precisa entender o significado de um patrocínio. Só assim poderemos ter marcas mais fortes. Tanto do lado do esporte quanto do patrocinador.