Negócios do Esporte

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Patrocínio esportivo dá trabalho. E é preciso entender isso
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Erich Beting

Diversas vezes, seja por aqui ou na Máquina do Esporte, fazemos críticas pesadas às empresas que insistem em entrar no esporte e saírem rapidamente, sem conseguir deixar um grande legado da relação construída.

As saídas recentes de Michelin e Sadia da CBF são mais um exemplo disso. Mais do que qualquer crise de imagem da entidade, o que pega para as empresas deixarem o patrocínio é o baixo retorno que o investimento trouxe. Mas por que isso ocorre?

A Michelin entrou na CBF em setembro de 2014, após a Copa do Mundo. Em abril de 2015, lançou uma campanha com a entidade para a segurança no trânsito. E parou por aí. Paralelamente, duas de suas principais concorrentes, a Bridgestone e a Continental, avançaram bastante no território de patrocínio esportivo no Brasil.

A Bridgestone usou ainda mais o title sponsor da Copa Libertadores para ativar a marca com parceiros comerciais e clientes. A Continental entrou no patrocínio à Copa do Brasil em 2015 e neste ano comprou a cota principal do torneio, também dando seu nome a ele. Em todos os jogos, faz ações com clientes e parceiros.

E a Michelin, o que fez? Levou clientes para acompanhar jogos da seleção brasileira pelo mundo? Fez ação promocional para a Copa América em 2015? Durante um ano, ficou praticamente sentada em cima do patrocínio, olhando a CBF entrar num furacão e não percebendo que ainda há valor em associar a marca à seleção brasileira, por mais enrolada que esteja a entidade que é dona dessa marca.

A Sadia, da mesma forma, usou bastante a seleção na época da Copa do Mundo num marketing de emboscada sobre a Marfrig, que patrocinava o Mundial. Depois, praticamente ignorou a seleção e os ativos que ela tem a oferecer.

Há poucas semanas, a Vivo levou clientes para treinarem na Granja Comary com alguns ex-jogadores que vestiram a camisa da seleção, como o atacante Careca. Não é nada demais, mas é a típica ação que fideliza consumidores e faz com que o patrocínio vá além da exposição na camisa.

A primeira mudança de mentalidade que precisa existir nas empresas que decidem patrocinar o esporte é saber que o fundamental não é a exposição de marca, mas as oportunidades de aproximação com o cliente que o patrocínio proporciona. E isso, de certa forma, só é possível de acontecer com bastante trabalho.

Para que um patrocínio tenha sentido, é preciso fazer um longo trabalho de base que vá além da exposição da marca. Sem isso, geralmente, a conta fica salgada demais quando se olha a relação custo x benefício do investimento.


Marcas ainda deturpam o conceito de ativação de patrocínio
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Erich Beting

A final da Copa do Brasil entre Santos e Palmeiras motivou algumas ações de ativação de patrocínio feitas pelas empresas envolvidas com a competição. No ano passado, o jogo entre Atlético-MG e Cruzeiro motivou, da mesma forma, algumas ativações. Na sexta-feira passada, dia seguinte ao título brasileiro conquistado pelo Corinthians, também vimos alguns patrocinadores do Timão criando ações.

O movimento do mercado é legal, mostra que há uma evolução das marcas no que diz respeito ao entendimento da importância que tem não ficar estático na camisa do time ou na placa ao redor do campo quando investe um bom dinheiro para patrocinar.

Mas, quando deixam apenas para o “grand finale” suas ações, as marcas mostram um completo deturpamento do que é o conceito de ativação de patrocínio.

Na esteira de desenvolvimento do marketing esportivo, tivemos, nos anos 80, a exposição da marca como grande chamariz para uma empresa. Ao colocar seu nome estampado no uniforme dos atletas, dos árbitros ou na placa de publicidade que aparecia na TV, essas marcas ganharam grande exposição e passaram a ser mais familiares às pessoas. Era um jeito mais eficiente de dar publicidade à empresa.

O problema é que o mundo mudou consideravelmente desde então. Não só tivemos uma enxurrada de novas marcas como passamos a ter uma overdose de informação com a propagação da internet e, hoje em dia, com tudo ao alcance da palma da mão na tela de um telefone celular.

A exposição de marca que antes era um diferencial passou a ser banal. Não é mais a exposição que faz a diferença num patrocínio, mas sim o que a marca faz com ele. É assim que o esporte se promove e, ao mesmo tempo, a marca se envolve com o público de uma forma completamente diferente do usual.

E é esse o conceito que pouco se pratica no Brasil.

As marcas ainda prendem-se muito ao que era o patrocínio no passado. Elas não entenderam que não adianta muita coisa fazer uma ou outra ação pontual, geralmente no jogo mais relevante da competição. É exatamente nessa hora que temos uma explosão de informações sobre a partida, com muita novidade chegando para as pessoas. No final das contas, a ação passa a ser apenas mais uma, sem realmente marcar a cabeça do torcedor.

Logicamente que trabalhar um patrocínio durante todo o ano exige uma dedicação e um gasto de dinheiro bem maiores do que o que são feitos hoje em dia. Mas, no final das contas, tudo isso torna o patrocínio muito mais valioso para a marca.

Para ver esse conceito colocado em prática, basta olhar para a Liga dos Campeões da Heineken. Quer dizer… Liga dos Campeões da Uefa, mas que, graças ao trabalho constante da marca de cerveja, parece ser sinônimo uma da outra. Claro que tudo isso tem um preço. A Heineken investe cerca de US$ 60 milhões ao ano no patrocínio à Uefa. E coloca mais ou menos três vezes essa verba nas ações de ativação relacionadas ao evento.

Foi graças a esse investimento que a Liga dos Campeões da Uefa cresceu mundialmente, da mesma forma que a cerveja conquistou outros mercados. Patrocinado e patrocinador levaram e foram levados para outros mercados a partir dessa relação de ativação das propriedades.

Por aqui, as marcas preferem esperar a final do campeonato para tentarem fazer o torcedor se lembrar de que elas existem…


Por parceiro, Fifa permite a cegos tocar taça da Copa
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Erich Beting

Para atender à estratégia de comunicação de um patrocinador, a Fifa abriu uma exceção à rígida política de manuseamento da taça da Copa do Mundo. Pela primeira vez, uma pessoa “comum” pode tocar a taça do Mundial. A permissão, que é restrita a chefes de estado e aos jogadores que a conquistam, teve como objetivo cumprir uma parte do plano de divulgação da Coca-Cola relacionado à Copa.

Em setembro passado, o time de cegos do futebol de 5 do Brasil, que é campeão paraolímpico, teve a permissão para tocar pela primeira vez a taça da Copa. O encontro dos atletas com a taça foi gravado pela Coca-Cola, que nesta quinta-feira (dia 26) lança um vídeo de 30s na televisão para mostrar às pessoas como foi a reação de Ricardo Alves, o Ricardinho, um dos principais jogadores do time brasileiro e que é o personagem da campanha (o vídeo, que ainda não foi divulgado, você encontra ao final do texto).

A peça publicitária marca o pontapé inicial das ações de ativação da Coca para o ano da Copa (leia mais detalhes aqui). Como afirmou ao blog Victor Bicca, diretor de comunicação da Coca-Cola, a ideia é mostrar que a empresa tenta fazer um Mundial inclusivo. O mote da campanha da empresa para o torneio é “A Copa de todo o mundo”.

“Pretendemos fazer uma conexão grande com os legados que estamos construindo a partir do Mundial. A Copa, para nós, não é somente as ativações das propriedades, mas é  também baseada em legados socioambientais”, disse Bicca.

Para a Copa do Mundo, a grande ativação será com o tour da taça. A partir de abril, a taça do Mundial, que está rodando o mundo, chega ao país. A partir dali, ela vai passar pelas 27 capitais, num giro inédito no Brasil. “Algumas cidades que receberão a taça não receberam nem mesmo a seleção brasileira”, exemplificou Bicca, mostrando o tamanho do alcance que terá o tour da taça.

A ideia de tornar a Copa mais inclusiva possível fez com que a Coca-Cola adotasse um discurso diferente para a promoção da marca no Mundial. Até agora, ela tem sido a empresa que mais tem tentado falar sobre os legados que ela tem gerado para o país a partir do evento. Com isso, a expectativa é conseguir passar uma imagem mais positiva do patrocínio à Fifa, algo que tem preocupado bastante os patrocinadores, especialmente com os protestos que aconteceram na Copa das Confederações.

O resultado prático das ações só deve vir no fim do ano, quando a Copa terá de fato passado e aí começaremos a contabilizar os reflexos disso. Até lá, as empresas vão tentar, cada uma a seu jeito, mostrar que o patrocínio é um bom negócio. Também para o consumidor.


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