Negócios do Esporte

Americanização atrapalha expansão da Indy

Erich Beting

O Brasil tinha tudo para sediar duas etapas da Fórmula Indy em 2012, mas o projeto deverá ser, pelo menos para o ano que vem, abortado. Nada relacionado à crise financeira que volta a assustar o mundo, mas sim a um dilema interno da própria categoria do automobilismo.

Existe um racha entre as equipes maiores e as menores da Indy sobre o projeto de expandir as provas para além do território dos Estados Unidos. Uma extensa reportagem sobre o tema foi publicada nesta semana no Sport Business Journal, dos EUA.

O problema são os diferentes interesses comerciais envolvidos.

As etapas realizadas fora dos EUA na Indy têm tido pouca audiência no mercado americano (neste ano, o GP em São Paulo foi realizado na segunda-feira, enquanto o GP do Japão foi exibido na madrugada nos EUA), mas têm gerado bons acordos comerciais tanto para a Indy quanto para as equipes menores, que não têm patrocínios anuais já negociados.

Com isso, o impasse está criado. Os grandes (Ganassi e Penske), que possuem seu negócio focado totalmente no mercado americano, não querem mais etapas fora dos EUA. Contentam-se com o GP no Brasil, hoje um dos principais mercados da Indy por conta do patrocínio da Apex à categoria, e aceitam a etapa de Motegi, no Japão.

Já os menores enxergam nessas corridas internacionais a chance de obter patrocínios pontuais, garantindo um aumento no caixa, já que as despesas das provas são bancadas pela Indy.

O debate deve fazer com que Porto Alegre não seja, pelo menos em 2012, escolhida para abrigar mais uma prova em solo brasileiro. Da mesma forma, uma etapa na China, que estava na rota de expansão da Indy para 2013, deverá ser postergada.

O impasse mostra bem como funciona o mercado americano de esporte. Com acordos de televisão muito fortes, o foco das equipes é o próprio mercado interno. Expandir mundialmente a marca não é tão interessante assim para as equipes, já que muitos dos patrocinadores atuam apenas no solo americano.

O crescimento do mercado interno brasileiro poderá causar um efeito similar por aqui, especialmente para o futebol. Com a economia forte, as empresas locais se fortalecem. E, aí, jogar fora do país não é mais a melhor solução, como parecia ser há questão de uma década.

A americanização dificulta os planos da Indy de ser mais forte internacionalmente. Da mesma forma, porém, a categoria consegue sobreviver, com pequenos solavancos, num mercado em mutação (para pior) como o dos Estados Unidos.