Negócios do Esporte

A meia-entrada deve encarecer a Copa no Brasil

Erich Beting

O que é para ser um benefício para o povo brasileiro muito provavelmente ocasionará um ônus para a população que comprará os ingressos para os jogos da Copa do Mundo de 2014.

O debate sobre a aplicação do benefício da meia-entrada para estudantes e idosos no Brasil poderá fazer com que a Fifa aumente o preço do ingresso para o torneio para manter a margem de lucro esperada com a comercialização dos bilhetes.

A perda de receita, segundo matéria publicada há alguns dias na ''Folha de São Paulo'', é calculada pela Fifa em cerca de R$ 180 milhões. Hoje, um jogo de empurra sobre quem ''pagaria'' essa conta toma a entidade máxima do futebol e os governos federal, estadual e municipal.

O problema é simples. A lei brasileira prevê a venda de meia-entrada enquanto houver ingressos disponíveis para um evento artístico ou esportivo. Para quem organiza o evento, a lei é um terror. Não é possível prever, de antemão, qual será a receita com a comercialização dos bilhetes. Ela pode ser, no final das contas, metade do que previsto se todos os ingressos comercializados for para estudantes e/ou idosos.

E é esse o temor alegado pela Fifa. A entidade faz uma previsão de quanto pode deixar de arrecadar, mas reclama do governo brasileiro o não-cumprimento do contrato assinado entre ambos para o país abrigar a Copa. Como acontece com todo país anfitrião do Mundial, o país-sede tem de assinar um documento em que se dispõe a aceitar as normas da Fifa sobre uso do estádio e comercialização de bilhetes da competição.

Só que o Brasil tem batido o pé sobre a questão da meia-entrada, enquanto relevou, por exemplo, a proibição de comercializar bebida alcoólica em estádios.

No final das contas, a Fifa poderá ter como solução deixar mais caro o bilhete a ser vendido para a população local. Dessa forma, na pior das hipóteses, ela ganhará o mesmo que estava prevendo em caso de vender o número previsto de meia-entrada.

E quem perde com isso? Sem dúvida é o torcedor, que tem um evento encarecido exatamente por conta da existência de uma lei que, pretensamente, foi feita para conceder um benefício à população.

A meia-entrada possivelmente vai encarecer o preço do ingresso para a Copa, como já encarece uma série de serviços ligados à venda de bilhetes para cinemas, shows e eventos esportivos atualmente.

O debate da Copa do Mundo poderia jogar uma luz sobre essa situação peculiar do mercado brasileiro. Será que a lei da meia-entrada é realmente um benefício para a população? Do ponto de vista do organizador do evento, sem dúvida, há várias formas de compensar a perda de receita. E ela passa, necessariamente, pelo aumento do preço do ingresso.