A mudança de imagem de Ronaldo
Erich Beting
“Acabou de chegar mais um louco para o Bando de Loucos”. Talvez o então atacante Ronaldo não pudesse imaginar o quão profética seria essa sua frase proferida lá em dezembro de 2008, quando dessa forma ele encerrou o “Jornal Nacional” confirmando o acerto com o Corinthians para defender o clube paulista.
Maior artilheiro de Copas do Mundo, campeão e protagonista do Mundial de 2002, um ídolo genuinamente brasileiro. Tudo isso cercava a imagem de Ronaldo em 2008, quando nem mesmo o episódio envolvendo-o com três travestis foi capaz de manchar uma imagem cercada de vitórias e derrotas que sempre pareceram acachapantes.
Não à toa que Ronaldo era o rosto mais significativo da campanha “Sou brasileiro e não desisto nunca” lançada pelo governo Lula em 2003 para mudar a imagem do país para o próprio brasileiro. Esse mesmo Ronaldo, um cara absolutamente nacional em termos de exposição, de alcance de imagem, de ligação com o torcedor, era o que desembarcava em dezembro 2008 para a aventura corintiana.
Três anos e alguns (muitos) quilos depois – e quem é que liga hoje para o peso dele? –, Ronaldo é muito menos do Brasil para ser muito mais do Corinthians. Ele não defende mais o clube dentro de campo, mas aos poucos se tornou um embaixador alvinegro no país.
Tanto que, semana passada, era ele quem estava ali no estádio do Corinthians, ratificado como palco de abertura da Copa do Mundo de 2014. Não era o Ronaldo Nazário do Brasil, mas o Ronaldo do Bando de Loucos. O cara que passou a ser alvinegro de corpo, alma e camisa.
O Ronaldo que, dia desses, postou no Twitter que passaria em breve o resultado de uma ação promocional da Claro, a patrocinadora de seu perfil no microblog. E que ouviu de resposta do botafoguense Helio de La Peña: “O resultado nós já sabemos! Foi 2 a 0. Foooogo”. Era mais uma piada do Casseta, mas que reflete exatamente como, hoje, Ronaldo não é mais do Brasil. Sim, os corintianos dirão que basta o Timão para ele. E, sem dúvida, o tamanho do alvinegro é grande o bastante para gerar emprego e negócios para muitos atletas. Mas não para Ronaldo.
É inconcebível que o cara que melhor representou o time brasileiro depois de Pelé (Romário é o terceiro nessa lista) não esteja nacionalmente ligado à Copa do Mundo. Em São Paulo, Ronaldo está ligado até demais, emprestando seu prestígio e sua marca para o polêmico Itaquerão. Pode até ser uma forma de retribuir a aposta feita pelo Corinthians em 2008, quando muitos já consideravam que o destino de Ronaldo, mais uma vez, estava selado.
Mas Ronaldo é muito maior do que isso. Tanto que, em meio ano de atuação dentro de sua agência de marketing esportivo, conseguiu alavancar quase uma dezena de clientes. Um fenômeno jamais visto na indústria do esporte e dificilmente alcançado por outras marcas em diferentes segmentos de mercado, ainda mais no ramo do entretenimento.
Seria uma boa para Ronaldo, hoje, repensar de que forma a sua imagem tem sido percebida pelos torcedores. Desde 1996, quando foi eleito pela primeira vez o melhor jogador do mundo, Ronaldo tinha um dos menores índices de rejeição no mercado, tanto que sempre foi a aposta número 1 para as empresas anunciarem.
Hoje, mesmo aposentado, ele teria o potencial de endossar campanhas de diversas empresas, tal qual acontece com Pelé. Mas, pelo menos num primeiro momento, claramente os garotos-propagandas preferidos do esporte são Neymar e Anderson Silva.
Seria interssante que Ronaldo procurasse contratar a mesma agência desses dois atletas para fazer um trabalho de reposicionamento de marca para ele. Talvez seja só questão de conversar com o cara da mesa ao lado da dele…