O balanço do Pan na Record – parte I
Erich Beting
Foram 15 dias intensos na programação da Record, com o primeiro evento esportivo de relativo peso exclusivo para a emissora. E qual o balanço que se pode fazer do Pan que acabou ontem para o mercado dos direitos de transmissão no Brasil?
É complicado analisar sob qualquer ótica, ainda mais num país acostumado, há pelo menos 15 anos, a um duopólio nos direitos dos principais eventos esportivos. Foi a primeira vez que um evento que tinha o Brasil competindo com boas chances de vitória (foram quase 50 ouros) não contou com a transmissão da Globo ou do dueto Globo-Band. Por isso mesmo temos de separar, e muito, essa análise da transmissão do Pan.
Farei pelos próximos três dias uma análise de três diferentes aspectos na transmissão do Pan. Coisas que percebi acompanhando o evento pela TV e que vão além da visão de apenas um consumidor da informação.
Quando falamos em exibição pela TV de um evento esportivo, necessariamente existem três partes envolvidas: o detentor do direito de transmissão, o consumidor e o dono do evento.
Hoje falaremos sobre a Record, que teve a responsabilidade de ser a única emissora de TV com os direitos de exibição do Pan. Para ela, o saldo do evento foi espetacular. Algumas transmissões chegaram a render, em alguns momentos, a liderança na audiência, contrariando algumas previsões de que não seria possível bater a soberania da Globo. Logicamente que o fuso horário ajudou, com a maioria das competições acontecendo no final da noite, no término do horário nobre, em que a Globo lidera com folga a audiência.
Além disso, o Pan foi lucrativo para a Record. Todas as cotas de patrocínio foram vendidas, gerando algumas dezenas de milhões de reais em faturamento. O sucesso comercial do evento representou também um aumento de expectativa em relação ao quanto a emissora poderá faturar com a exclusividade na TV aberta dos Jogos Olímpicos de Londres do ano que vem.
Por fim, o aspecto mais interessante para a emissora com o Pan foi também a aproximação da Record de um novo público. Segundo a medição do Ibope da audiência do evento, houve uma procura maior de espectadores das classes A e B pelo canal. Essa talvez tenha sido a maior vitória da emissora ao ter a exclusividade do Pan, já que a Record tem a maior faixa de consumidores inseridos na classe C.
Essa atração de um novo consumidor ficou clara durante as transmissões, quando os narradores anunciavam a grade de programação regular da emissora, na tentativa de fazer com que ele começasse a se acostumar ao canal, o que pode representar um aumento de audiência no longo prazo.
No final das contas, o Pan acabou sendo um bom negócio em todos os sentidos para a Record. A emissora conseguiu ter superávit na operação e, mais importante, trouxe para dentro do canal um novo tipo de público.
Amanhã falaremos sobre o Pan do ponto de vista do consumidor. Será que o fim do duopólio das transmissões foi benéfico para quem esteve sentado em frente à TV?