O futebol chega a valores “impagáveis”
Erich Beting
A Adidas negocia com o Flamengo um contrato de R$ 35 milhões ao ano, entre o pagamento em dinheiro e o fornecimento de produtos. A Nike fecha com o Inter por R$ 8 milhões anuais, também nos moldes de grana e uniformes.
Os dois valores mostram que o futebol brasileiro chegou, finalmente, a valores que são fora de uma realidade de mercado. Assim como acontece na Europa e em outros esportes nos Estados Unidos, como a NFL, o futebol no Brasil está começando a custar muito mais do que realmente ele tem de valor.
Parece difícil entender a lógica, mas esse raciocínio é o que melhor explica a força que o futebol tem para as marcas que estão a ele atreladas. Pensando exclusivamente no negócio, Adidas e Nike deverão perder dinheiro com esses dois acordos (o da Adidas com o Fla ainda está em fase de negociação). Mas, para as marcas, é importante conseguir esse tipo de acordo.
Nos próximos anos, vamos assistir a uma série de novos negócios de patrocínio no futebol, a maioria deles em valores muito acima do que antes era costume se pagar.
Vários fatores explicam essa mudança de patamar do futebol.
O primeiro deles é o aumento do interesse das empresas em investir na modalidade. Com mais dinheiro em caixa, há mais companhias dispostas a bancar valores mais altos dentro dos clubes. E quem puxa a fila, nesse sentido, são as fornecedoras de material esportivo. O aumento do consumo dentro do Brasil faz com que haja mais dinheiro e maior venda de produtos dos clubes. Como o negócio das fabricantes está ligado diretamente à venda de camisas, são elas as primeiras a pagar mais para os clubes.
Além disso, com mais empresas interessadas em patrocinar, os clubes conseguem forçar a barra na negociação, aumentando os valores. Soma-se a esse cenário um aumento da receita em caixa dos próprios times brasileiros, principalmente por conta do novo acordo de TV. O poder de barganha fica cada vez maior e, assim, mais dinheiro é preciso desembolsar pelas empresas.
Mas por que uma marca decide patrocinar um clube mesmo sabendo que aquele valor que lhe é cobrado não se paga?
Aí entra a velha discussão sobre a reserva de mercado. Uma marca não pode dar brecha ao concorrente. Para não deixar a propriedade patrocinada cair na mão do rival, ela paga um valor superior, só para ter a garantia de que não verá o concorrente beneficiado pela associação com o esporte.
A tendência é que, nos próximos anos, o futebol puxe a fila. As camisas dos principais times do país voltarão a ter apenas um patrocinador (e que pagará dezenas de milhões pelo espaço no uniforme!), os contratos dos fornecedores serão supervalorizados e jorrará dinheiro dentro dos clubes.
Tanta movimentação de dinheiro leva, necessariamente, a um novo patamar de gestão dos clubes. É esse o maior benefício de longo prazo que o futebol terá com essa evolução nos valores de patrocínio.