O esporte deveria aprender com dupla sertaneja
Erich Beting
Não fiquei louco, nem você leu errado o título desse post. Mas falta hoje dentro do esporte muito da visão de negócios que faz hoje da dupla sertaneja Fernando & Sorocaba um fenômeno do entretenimento musical.
A começar pelo posicionamento dos dois líderes da empresa. Isso, empresa. Não é dupla caipira, sertaneja, ou sertaneja universitária. É uma empresa. Com uma visão de negócios que faz com que o seu ganha-pão não se resuma a cantar música, fazer shows ou vender DVDs e CDs (aliás, alguém ainda compra CD hoje em dia?).
No último domingo, os dois Fernandos que comandam a dupla deram entrevista ao programa “De Frente com Gabi”, no SBT. Falaram sobre carreira, fãs e tudo o que é básico dentro de um programa que entrevista uma dupla que tem arrebentado nas paradas de sucesso. Mas o que mais chamou a atenção durante o bate-papo foi a visão que a dupla tem de que o futuro dela não depende da música que fazem, mas de algo bem maior, que é a indústria do entretenimento.
Nos shows, a dupla “passeia” por sobre o público numa bola inflável de borracha, ou então faz um jogo de luzes para transformar a casa de shows em que os dois estão num cenário que pega fogo, explode, vira o Monte Everest, etc.
A frase de Sorocaba para explicar o motivo de a dupla fazer isso é emblemática: “queremos trazer mais entretenimento para os nossos shows, interagir mais com o público. A pessoa não tem de ficar presa apenas com a música que toca”.
Acostumamo-nos a debulhar elogios para os megashows que acontecem por aqui de vez em quando. O palco em forma de teia, no centro do estádio do Morumbi, montado pelo U2, é apenas um dos exemplos. No passado, eram infindáveis as matérias sobre o séquito de pessoas e parafernálias que acompanhava as turnês de Michael Jackson, Madonna e afins.
Parecia que esse era um universo que não fazia parte da realidade do Brasil. Hoje, porém, a cada dia que passa o mercado da música entende que não basta ter talento, é preciso fazer com que o público se engaje cada vez mais com as músicas e as atitudes do artista.
É exatamente uma visão desse tipo que ainda falta ao esporte brasileiro. Ter sucesso dentro de campo, da quadra, da pista ou da piscina não é suficiente. Precisamos extrapolar isso para ser eficiente também fora do ambiente do esporte. E isso passa, necessariamente, por uma mudança na visão do esporte como parte integrante (para não dizer uma das principais) da indústria do entretenimento.
Um show com interação entre público e artistas tem o mesmo princípio de um jogo de futebol em que é oferecido ao torcedor muito mais do que a experiência durante o rolar da bola. É preciso pensar no conforto e na atenção dessa pessoa desde antes de sair de casa e se preparar para o evento. Do contrário, aos poucos esse torcedor começa a se distanciar daquilo que começou a fazer por paixão.
E quando chegarmos a esse novo patamar de experiência e entretenimento com o público? A própria dupla sertaneja dá o recado. A meta, agora, é começar a compor e a gravar em inglês. O objetivo é ampliar o alcance da música e passar a ganhar mercados além daqueles que falam a língua portuguesa.
Foi assim que os Estados Unidos tornaram o basquete da NBA uma marca universal e é assim que eles trabalham a expansão do futebol americano. Na Europa, é esse o conceito que move os principais clubes de futebol do país.
No esporte brasileiro, temos de acabar com o complexo de que somos vitrine para passar a exportar o nosso produto. E isso não significa levar o atleta para jogar em outras ligas, mas fazer o consumidor de fora gastar dinheiro com os nossos talentos. Só isso fará com que o esporte de fato cresça independentemente dos grandes eventos que estão por vir.