Negócios do Esporte

A taça que coroa a mudança na gestão corintiana

Erich Beting

Não, torcedor, esse texto não foi feito para ser lido com a camisa vestida e o hino do time de coração entoado. Dispa-se, agora mesmo, de todas as suas paixões e tente, por alguns minutos, colocar-se na posição de um gestor esportivo. E aí será possível entender, sem xingar o blogueiro e sua amada mãe, as linhas que seguem abaixo.

A vitória de domingo do Corinthians coroa o choque de gestão provocado dentro do clube no já distante ano de 2007, quando Andrés Sanchez assumiu o leme do Timão em queda livre rumo à Série B do Campeonato Brasileiro. Já são quatro anos desde a maior queda da história alvinegra. E que quatro anos desde então!

A chegada de Andrés ao poder no Corinthians marca uma mudança de conceito do que é a gestão num clube de futebol do Brasil. Não vamos nos ater aqui à figura do manda-chuva alvinegro. Ele encarna, sem dúvida, muito do que há de ruim no planeta bola, como os conchavos, as trocas de favores e as perpetuações no poder. Mas, no que se refere exclusivamente ao Corinthians, Andrés foi importante para provocar uma guinada na forma de gerencial o clube e precisava sair de lá consagrado com mais uma conquista.

O primeiro grande mérito do Corinthians de Andrés foi renegociar todas as suas dívidas em janeiro de 2008, tão logo a nova diretoria começou a tomar pé de toda a situação financeira do clube, abalado por mais uma parceria nefasta. Sob comando de Raul Correa da Silva, diretor de finanças, tudo foi refinanciado, dando ao Corinthians condições de ter fluxo de caixa para trabalhar.

O segundo passo importante foi dado por Luis Paulo Rosenberg, diretor de marketing, que junto com sua equipe passou a renegociar todos os contratos de patrocínio e, mais importante, a fazer um trabalho para resgatar a imagem do clube com seus torcedores. Foi o aparecimento do conceito do ''Nunca vou te abandonar'', decantado pela torcida na campanha de volta à Série A durante 2008. Em seguida, o turbilhão provocado pela contratação de Ronaldo, gerando um aumento substancial de receitas e colocando o Corinthians como o protagonista do futebol brasileiro no ano de volta à Série A só coroaram o trabalho de todo departamento de marketing.

Em meio a esse período, Andrés foi se consolidando como a figura política do Corinthians, atuando na esfera das federações e tendo a última palavra nos assuntos mais importantes do clube. Essa atitude do cartola, que tanto prejudicou a sua imagem, serviu também para dar tranquilidade aos profissionais dentro do Corinthians e, também, fazer com que o clube virasse protagonista no cenário político da bola.

O que diferenciou o Corinthians dos demais durante esse período? Poucos clubes têm, abaixo de um presidente carismático, uma estrutura tão afinada trabalhando. Não há vazamento de informações dentro do Corinthians, não existe despreparo de quem está à frente de cada uma das áreas fundamentais de gestão de um clube: técnica, administrativa, marketing, jurídica e financeira. E é isso que a maioria dos clubes ainda não perceberam. Enquanto todos focam as maledicências para Andrés, o restante da turma trabalha com tranquilidade, afinada com o presidente e com autonomia para tal.

O título brasileiro alvinegro coroa exatamente essa mudança de gestão provocada dentro do Corinthians, numa terra arrasada que foi encontrada pela atual diretoria quando saiu Alberto Dualib após quase 15 anos de liderança aparentemente eterna.

Mudança que já começa a ser vista também no Santos e no Vasco, um pouco ainda no Fluminense, que tenta ser cada vez menos dependente da grana da Unimed. Não é de se estranhar que esses clubes tiveram um 2011 competitivo, vencedor em diferentes formas.

O pentacampeão Corinthians prova que, em se planejando, alguma hora dá. E o maior mérito de Andrés Sanchez é saber que sua função é meramente política, da porta da Rua São Jorge para fora. Mérito que vira demérito quando o próprio dirigente se associa ao que há de pior na gestão do futebol nacional, sem dúvida, mas que não invalida a conquista do último domingo.

Internamente, todos devem trabalhar, sendo cobrados para trazer bom rendimento para o clube em suas diferentes áreas. E essa é a grande mudança que o Corinthians começa a provocar nos demais clubes do Brasil. Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Ou no caso do futebol nacional, o time é campeão brasileiro. Quando os outros acordarem, conseguiremos, finalmente, levar para outro patamar a gestão do esporte mais popular do país.