Negócios do Esporte

Agora quem dá bola é o Santos

Erich Beting

Esqueçamos qualquer possível resultado da decisão do Mundial de Clubes do domingo. Afinal, ele é o menos importante. O fato é que a presença do Santos na decisão contra o Barcelona já credencia o clube para ser o modelo a ser seguido pelos demais rivais no país.

Não, o que faz do Santos merecedor de tal crédito não é o desempenho dentro de campo, mas o trabalho fora dele que ajuda, e muito, para que o time esteja onde está, entre os principais protagonistas do futebol mundial. E isso não é resultado apenas do talento de Neymar. Ou melhor. Dentro de campo, muito do que o Santos consegue pode-se atribuir ao camisa 11. Só que é o trabalho que é feito fora das quatro linhas que permite hoje ao Peixe estar entre os dois melhores times de futebol do planeta (mesmo o blogueiro achando que o Barça não é deste planeta).

Ser ambicioso não é um defeito. Pelo contrário. É qualidade, especialmente quando a ambição é combinada com um trabalho ético e competente. Essa é a medida para se ter a certeza de que alguém será bem-sucedido em sua área de atuação.

O que o Santos fez fora de campo neste 2011 coroa exatamente uma nova forma de os clubes de futebol do Brasil se enxergarem dentro do mercado esportivo. A começar pela negociação com Neymar, passando pela renegociação com o atleta para mantê-lo no país e por toda a movimentação no mercado com a exploração dos direitos de imagem do jogador.

Em vez de reproduzir achismos, o clube preferiu trabalhar e se esforçar em fazer os negócios se concretizarem. Foi assim que manteve Neymar ao seu lado, com um plano para que o Santos lucre com a operação. Ou seja. Em vez de visar apenas o dinheiro com uma possível venda do jogador, o clube se esforça para remunerá-lo cada vez mais e, assim, também obter um aumento de receitas.

O cenário é simples. Com mais atletas de qualidade em campo, o Santos consegue ter maior competitivade no cenário esportivo. Dessa forma, é possível disputar cada vez mais e em melhores condições os campeonatos. E, no final, o clube só tem a ganhar. Tanto dentro quanto fora de campo.

Parece uma equação simples, mas historicamente o futebol no Brasil se acostumou a seguir o caminho mais fácil. Produzimos jogador em larga escala, tiramos a diferença do prejuízo do ano vendendo o atleta. Era a reprodução do complexo de vira-lata que acometia o futebol dentro de campo até a Copa do Mundo de 1958.

Se coube a Pelé e cia. acabar com esse cenário, agora cabe ao time que consagrou e foi consagrado pelo Rei do Futebol a mudar essa história.

O Santos não precisa ser o novo campeão, mas sem dúvida está começando a mostrar ao futebol brasileiro que não podemos mais ser vitrine, mas sim o produto. Só assim teremos uma indústria fortalecida e será possível duelar, em pé de igualdade, com os principais clubes do mundo.