A Kodak pode ensinar muito ao Palmeiras
Erich Beting
Um dos maiores gigantes do mercado de fotografia hoje agoniza. Nos próximos meses, a Kodak estará diante de uma encruzilhada. Ou consegue vender mais de mil patentes que tem registradas em seu nome, ou possivelmente terá de pedir a falência e sair definitivamente de um mercado que é cada vez menos seu.
A derrocada da marca pioneira no serviço de fotografia serve de alerta também para um clube de futebol que já foi um dos maiores do país e que hoje vive uma situação muito parecida com a da empresa americana. As trapalhadas recentes da diretoria do Palmeiras, de contratar e descontratar jogadores, somam-se a uma série de insucessos recentes que tende a jogar para baixo um dos clubes mais tradicionais do país.
A ''sorte'' do Palmeiras é que não se cogita pedir a falência do clube. Mas o processo pelo qual atravessa hoje o clube lembra, e muito, aquele que levou para o buraco companhias que um dia foram gigantescas, mas que atualmente existem apenas na lembrança de seus milhões de consumidores do passado.
O Palmeiras passa por uma crise gerencial que afeta todo o clube. O reflexo disso, agora claro, é na desordem que se transformou o departamento de futebol. No esporte, o último sinal de alerta que reflete a bagunça de um clube é dentro de campo. Mas, fora dele, o processo de derrocada palmeirense vem desde o não-planejamento para a saída da co-gestão com a Parmalat, em 2000.
Desde aquela época, o clube não inova, não tem programas de detecção e retenção de talentos, não tem cargos administrativos com pouca rotação, etc. Sim, a maior parte dos clubes tem trabalhado sempre dessa forma e aparentemente não sofrem o mesmo mal do Verdão. Mas hoje a crise parece não ter fim no Palestra Itália.
O Palmeiras pode usar a Kodak como um estudo de caso. A empresa que foi a pioneira na criação do filme fotográfico e, também, no desenvolvimento da máquina digital, mas que não apostou na revolução digital que vivemos nas últimas décadas, hoje está próxima de ir para a falência.
O problema palmeirense hoje é a falta de controle dentro do clube. O presidente não consegue trabalhar, assolado por dívidas adquiridas em gestões anteriores, e da mesma forma não tem capacidade política para inovar, buscar novas soluções, governar. Isso se reflete dentro de campo, reforçado pelos fracassos recentes e pela ira do consumidor, cada vez mais exigente.
A solução no mundo corporativo seria abrir um pedido de falência, ou encontrar um investidor disposto a comprar a empresa e recolocá-la nos eixos. No esporte, a primeira hipótese é pouco provável. A segunda é um tabu dentro dos clubes brasileiros e raramente consegue ser executada (tanto que Palmeiras e Parmalat formam um exemplo de ponto fora da curva até hoje).
Para a casa voltar a ficar em pé, gestão é fundamental. Pulso firme, autonomia para as diferentes áreas de atuação do clube e muito, mas muito trabalho de gerenciamento de crise são primordiais. A má notícia para o torcedor palmeirense é que nenhuma dessas características parecem estar presentes hoje dentro do clube.
A falta de um plano para o adeus de Marcos, a pataquada das não-contratações de Richarlyson e Carlos Alberto e a apresentação do reforço peso-pesado de Daniel Carvalho são sintomas mais do que claros do pesadelo que ronda esse começo de ano do Palmeiras. O negócio agora é olhar com carinho para o caso da Kodak e tentar, desesperadamente, achar uma maneira de recolocar a casa em pé.