A ética e o futebol
Erich Beting
O tema voltou à pauta com a entrevista dada por Patrícia Amorim sobre o caso (mais um!!!!) envolvendo a negociação com Thiago Neves. A presidente do Flamengo reclama que seu colega de Fluminense, Peter Siemsen, não honra com a palavra, agindo de outra forma nos bastidores.
Em suma, voltamos a debater a ética na negociação envolvendo clubes de futebol. Recentemente ouvi de um graúdo dirigente do futebol de que é impossível pensarmos no modelo de liga, como funciona nos esportes americanos, por exemplo, se não existe um mínimo de ética na relação entre os clubes.
A frase desse dirigente mostra uma faceta bem complicada que o futebol vive não apenas no Brasil. Não existe o menor comportamento ético entre os clubes. Via de regra, os fins justificam os meios. A lógica é mais ou menos a que dita o comportamento de uma criança mimada. Os clubes, os atletas, os empresários, os árbitros, os dirigentes, todos decidem que vão fazer pressão e jogo de cena até conseguir aquilo que quer.
Por acaso isso fere a conduta moralmente aceitável? Pouco importa. Ou melhor, nem mesmo vem ao caso! É o exemplo mais banal que temos de um jogador que faz corpo mole para mudar de time. Quão antiético é esse comportamento? Infelizmente é raro vermos a demissão por justa causa no mundo da bola.
Nessa toada, não há nada de absurdo nesse triângulo amoroso entre Fla-Thiago-Flu. Ele apenas reflete o quão pouco ético é o meio do futebol. É por isso que não é possível colocar em prática conceitos como a adoção de um teto salarial, a divisão de receita por mérito esportivo do clube para aumentar a competitividade da competição, a busca de igualdade competitiva entre os clubes para não termos desníveis técnicos, etc.
Isso não significa que o modelo americano de gestão do esporte seja pautado pela ética. Muito pelo contrário, há muito jogo sujo, tentativa de trapaças e coisas do gênero (que o digam as recentes greves na NBA e na NFL). Mas o fato é que os dirigentes sabem que, para manter a competição em nível elevado e, dessa forma, ganhar mais dinheiro, é preciso ter um comportamento minimamente ético.
No futebol, o conceito do que é uma conduta ética é restrito ao imaginário de cada um, e não do ambiente como um todo. Carlitos Tevez que o diga…