Negócios do Esporte

O negócio da China de Zizao

Erich Beting

O Corinthians finalmente apresentou o seu reforço chinês. Chen Zhizhao já tirou algumas fotos com a camisa do clube e na próxima quinta-feira será oficializado como ''jogador'' corintiano. A expectativa é de que Zizao seja uma porta de entrada do Corinthians no mercado chinês.

Em tese, a ideia é boa. Segue os moldes do que a NBA fez, há mais de uma década, com Yao Ming, gigante chinês que se tornou o primeiro atleta do país asiático a jogar na principal liga de basquete do mundo.

Só que a semelhança termina aí.

Sim, temos falado bastante sobre o jogador, há um interesse generalizado em entender mais quem ele é, como era a vida dele na China e o quanto os chineses se interessam pelo curioso caso de ter um jogador de seu país num time de ponta da terra do futebol.

Mas será que o interesse é recíproco? Quanto o mercado chinês aumentará de consumo por conta da ida de um  jogador para o Brasil?

Quando a NBA resolveu colocar Yao Ming em quadra, havia toda uma história de presença da liga no noticiário chinês, sabia-se o tamanho do mercado em que estava-se pisando, conhecia-se o hábito de consumo do povo local em relação ao basquete e, mais importante, Ming era um ídolo local de um esporte com relativo apelo popular.

Na China, o futebol está longe de ser o esporte número 1 do país. Até hoje, manifestações públicas para mais de 20 mil pessoas só são permitidas quando autorizadas pelo governo. Isso faz com que seja difícil para o futebol se popularizar em solo chinês.

Além disso, o que há de referência sobre o futebol na China é a Europa. Já se vão quase 20 anos que os clubes europeus perceberam a necessidade de se tornarem multinacionais. As ligas transmitem seus jogos para o exterior, os times fazem excursões para o oriente e mais um monte de outras ações na mídia dos países de lá para conseguirem ter lembrança de marca.

Outro problema é exatamente o fato de Zizao não ser um Yao Ming. O jogador de futebol é desconhecido no seu país e não desperta o interesse dos fãs tanto quanto Ming conseguia fazer. A mídia local, com isso, não deverá buscar notícias constantes da aventura de seu atleta em outras terras.

O Corinthians faz um movimento interessante para internacionalizar sua marca. Mas para ter sucesso no exterior, os clubes brasileiros precisam primeiro chegar até os outros países – seja por meio de partidas amistosas ou no lançamento de programas com conteúdo sobre eles nas mídias locais – para então conseguir, ao contratar um jogador de outra nacionalidade, ganhar aquele mercado. Ainda mais quando o jogador não é top de linha.

No final das contas, quem está fazendo um Negócio da China é Zizao. Quando ele poderia sonhar em, um dia, ter contrato com um dos clubes mais populares do país que tem o maior número de consumidores do esporte número 1 do mundo?