O problema não é o Mano, é mais em cima
Erich Beting
Muito se discutiu nos últimos dias sobre o trabalho (?) que Mano Menezes tem feito à frente da seleção brasileira. A pífia atuação diante da Bósnia gerou uma série de protestos e de constatações, como a perfeita definição de Tostão em sua coluna na ''Folha de S. Paulo'', de que Ronaldinho não dá mais.
Só que o problema não é apenas técnico. Ou do técnico. É bem mais em cima, e tem tudo a ver com o que aconteceu ontem na sede da Confederação Brasileira de Futebol.
Mano Menezes está, literalmente, abandonado.
Ricardo Teixeira, seu chefe, é uma espécie de comandante Schettino, deixando o barco à deriva. Ele não se preocupa em saber qual é o projeto para o time brasileiro, mas sim em manter o seu cargo vitalício à frente da CBF e equilibrando os pratos para seguir no comando da Copa do Mundo de 2014.
E aí reside o maior problema para Mano Menezes. O seu trabalho sempre rendeu bons frutos quando tinha um comando eficiente acima dele, seja no Grêmio, seja no Corinthians. Sua preocupação era seguir as determinações do departamento de futebol e cumprir um objetivo estabelecido.
Quando Muricy Ramalho foi chamado para comandar a seleção, recebeu de Teixeira a carta branca para fazer ''o que bem entendesse''. Muricy recusou, talvez já escaldado pela experiência recente no Palmeiras, único clube de ponta que dirigiu nos últimos anos e que não tinha um comando superior claro.
Mano está à deriva, sem ter alguém para ajudá-lo a comandar a seleção brasileira. Ele não é o presidente da CBF, é apenas o treinador. Que está abandonado, sem ter um respaldo para as atitudes que toma.
O problema da seleção brasileira não é apenas técnico. É, muito mais do que isso, é gerencial. Não há um direcionamento dentro da empresa. Cada um corre para um lado e atua de forma autônoma.
Isso só funcionaria se, em cada um dos cargos, tivessem gestores preparados para saberem como se comportar como empreendedores. No futebol brasileiro, porém, claramente nenhum treinador tem condição de ser manager. O único que quis se autoproclamar isso mostra, a cada insucesso, como é difícil ter de cuidar de todas as áreas dentro do futebol.
O buraco da seleção é bem mais em cima. Não pode o diretor de RH de uma empresa ser o responsável por formar uma equipe vencedora. Sempre é preciso ter um direcionamento do comando da companhia sobre qual é o perfil que se espera do candidato ao emprego.
Mano carece, urgentemente, de uma direção. Para falar a verdade, o futebol brasileiro como um todo precisa de um norte. Porque está claro, por tudo o que tem acontecido recentemente, que Ricardo Teixeira não conseguiu se preparar este tempo todo para gerenciar algo como a Copa do Mundo.
Ou abre-se mão de ter tudo, ou o futebol brasileiro corre o risco de naufragar justamente quando era hora de submergir e navegar tranquilo em alto mar.