Negócios do Esporte

Liga dos Campeões segue a lógica da grana

Erich Beting

Pode mais quem ganha mais. A lógica do futebol na Europa se aproxima, cada vez mais, da lógica da grana. Os clubes mais ricos tornam-se, invariavelmente, aqueles com maior poder de fogo dentro das competições.

É o que acontece mais uma vez na Liga dos Campeões, que acabou de definir os quatro semifinalistas. Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Chelsea são os times que seguem na disputa do mais cobiçado título da Europa. Não por acaso, os quatro estão entre os seis que mais arrecadam dinheiro no continente.

De acordo com a última lista publicada pela consultora Deloitte, o Real Madrid é o clube que mais fatura no futebol, com receita anual de 479,5 milhões de euros. Já o Barcelona é o segundo no ranking (450,7 mi de euros arrecadados), enquanto o Bayern é o quarto colocado (321,4 milhões) e o Chelsea está na sexta posição (249,8 milhões).

Os dois que ficaram de fora da semi e estão no top five de arrecadação são Manchester United (terceiro colocado, receitas de 367 milhões de euros) e Arsenal (quinto time mais rico, com faturamento de 251,1 mi).

A cada ano que passa a Liga dos Campeões reforça a meritocracia do dinheiro dentro do esporte. E isso, infelizmente, traz prejuízos para o futuro do futebol como negócio.

A forma como o futebol é gerido hoje reforça o abismo financeiro entre as equipes, o que por sua vez leva a um abismo técnico entre os concorrentes. A prova mais clara disso está na Liga dos Campeões da Europa, sem falar na baixa rotatividade de campeões nos torneios nacionais europeus.

Essa é a grande sacada do modelo americano de gestão do esporte. Para preservar o que há de mais bacana no esporte, que é sua imprevisibilidade, o americano tenta ao máximo equilibrar a qualidade dos times. O sistema de escolha do draft, em que o clube de pior desempenho no ano anterior tem o direito a fazer a primeira escolha, daquele que é teoricamente o jogador de maior qualidade, ou até mesmo a implementação de tetos salariais, para não gerar disparidades entre quem tem mais dinheiro daquele que tem manos.

Esses são dois exemplos de como tentar deixar o mais justo possível o nível de competição entre os clubes. É nessas horas que os talentos técnico e tático vão se sobressair, gerando também grandes histórias sobre os vencedores.

Isso só é possível, também, pelo sistema baseado nas ligas, que funcionam como ''controladoras'' da disputa entre os clubes. No futebol, com a política fazendo com que os clubes geralmente sejam maiores que as competições em si, a lógica é cada vez mais a do dinheiro.

E, no longo prazo, caminharemos para a diminuição da imprevisibilidade dentro do futebol. O que atrapalha o próprio futuro do negócio.