Ministro do Esporte ou de Engenharia?
Erich Beting
Quando Aldo Rebelo assumiu a bronca de ser ministro do Esporte, disse aqui no blog que a tarefa seria árdua. Aldo tinha de apagar o incêndio de substituir mais um ministro afastado após denúncias de corrupção e, de quebra, segurar o rojão dos atrasos e descasos relativos à organização da Copa do Mundo de 2014.
Até agora, Aldo tem sido impecável em uma das tarefas. Tem sido o leão pedido por Dilma Rousseff para comandar o processo de gestão do Mundial no país. Reúne-se com a Fifa, visita obras, debate a construção do Brasil sede da próxima Copa. Aldo Rebelo é, hoje, quase que um Ministro da Engenharia do Mundial de 2014.
Mas e o Esporte? Será que as atribuições de um ministro do Esporte seriam realmente fiscalizar as obras e ser o porta-voz da Copa do Mundo no país? Isso não seria o papel do Comitê Organizador do evento, ou da comissão interministerial criada para esse fim, ou dos comitês locais do evento? Por que o ministro do Esporte tem de olhar para a ponta final de um evento que já está todo planejado e precisa apenas da execução de suas obras?
Mais uma vez um governo brasileiro erra, e muito, na gestão da política pública de esporte. Olhamos apenas para o esporte de alto rendimento, em detrimento da criação de iniciativas para o desenvolvimento de uma nação esportiva, para o crescimento da prática esportiva no país e tudo o que circunda a transformação da formação esportiva no Brasil.
A queda de Orlando Silva Jr. estava ligada ao programa social Segundo Tempo, iniciativa boa na teoria e deturpada na prática como acontece em muitas organizações não-governamentais no Brasil. O princípio do Segundo Tempo era fazer com que as crianças tivessem mais acesso à educação física no tempo fora da sala de aula. A execução disso desviou-se na ganância que tanto corrompe o cotidiano brasileiro.
Muito mais urgente do que se preocupar com os chutes no traseiro que precisamos levar como nação que teima em permanecer com os vícios dos anos 1970 num mundo que já está 40 anos à frente, o Ministério do Esporte tem de se preocupar com a formação do esporte no Brasil.
De nada adianta fazermos estádios maravilhosos se não temos gestores preparados para formar grandes atletas que vão deixar essas arenas sempre lotadas para depois de quatro, cinco, seis ou sete jogos de Copa do Mundo. O chute no traseiro do atraso brasileiro não é na obra de um estádio. É na mentalidade desviada e deturpada da solução do problema. Seguimos buscando os culpados em vez de evitar de novo o erro.
Qual a diferença para o esporte ter um ministro que vá a todas as cidades-sedes da Copa vistoriar se o prego está colocado no lugar certo e a quantas andam os preparativos dos estádios? Para esse plano basta termos um engenheiro competente.
Espera-se, de um ministro do Esporte, alguma atitude para fazer com que não tenhamos ainda 30% das escolas públicas do país sem um espaço para a prática de esporte, como revelado na pesquisa que o Ibope fez para a ONG Atletas pela Cidadania.
Seria muito legal ver a equipe do Ministério do Esporte mostrando qual o trabalho que está sendo feito para limpar a imagem do Segundo Tempo, para agilizar a aprovação de projetos via Lei de Incentivo, para levar recursos para a construção de áreas públicas para a prática de esporte, etc. De nada adianta ter um ministro que saiba tudo de engenharia…