Negócios do Esporte

F1 mostra o risco de apostar no ídolo

Erich Beting

A Fórmula 1 conseguiu, neste final de semana, a proeza de ter, pela primeira vez, um piloto venezuelano vencedor de uma prova. A vitória de Pastor Maldonado é, por si só, uma daquelas grandes histórias de vencedores que só o esporte é capaz de contar.

Mas, no Brasil, Maldonado talvez tenha tido um dos resultados mais inexpressivos de audiência numa vitória da F1 recente. Em média, segundo números prévios, a Globo beirou os 10 pontos de audiência. Mesmo ficando na liderança, foi um resultado bem abaixo daqueles já obtidos pela emissora em outros tempos.

E o motivo para a queda do interesse do brasileiro na categoria é a própria fórmula criada pela Globo nos tempos áureos da F1. A aposta da transmissão não é no evento em si, mas no piloto brasileiro de maior destaque.

Isso deu muito certo por décadas, com a trinca Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Até mesmo Rubens Barrichello manteve parte do interesse na categoria por parte do brasileiro, mesmo que fosse para achincalhar o piloto pela falta de vitórias.

Mas agora, sem um piloto carismático como Rubinho e vencedor como os do passado, a Fórmula 1 definha na audiência, cada vez mais restrita ao público que é apaixonado pelo automobilismo. Atualmente, os índices da F1 são próximos daqueles que fizeram a Globo repensar a necessidade de transmitir a Stock Car ao vivo.

Algumas vezes já publiquei aqui sobre a importância do ídolo para promover o esporte. É só ver o quanto Neymar aumenta o interesse pelo Santos e pelo futebol para notar o quanto isso ajuda na promoção de uma modalidade.

O grande dilema para organizadores e mesmo para as emissoras que transmitem um evento é apostar exclusivamente no ídolo para promover o seu produto. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos dão o exemplo. Os dois eventos são, por si só, maiores do que os ídolos que fazem parte dele. E, assim, a audiência do público existe independentemente de quem participa dele.

Apostar no ídolo pode ser bom no curto prazo. Mas, para a sobrevivência de um produto, é fundamental desenvolver o esporte como um todo. Do contrário, o interesse do público irá embora junto com seu maior astro.