O esporte pode peitar a TV?
Erich Beting
O jogo entre Estados Unidos e Brasil foi o segundo com maior audiência da Globo nas noites de quarta-feira (leia a matéria completa aqui). O resultado é reflexo direto do horário de início do jogo na telinha. A partida às 21h fez com que a seleção tivesse, num jogo mediano, audiência equivalente à partida de despedida de Ronaldo ou aos confrontos pela Copa do Mundo de 2010.
Os números servem para corroborar a tese de que, se fosse exibido mais cedo na TV, o futebol com certeza daria mais audiência e, assim, geraria ainda mais valor na hora em que os clubes fossem negociar os seus contratos. Do outro lado, porém, a Globo perde audiência com o futebol. A novela que antecede a transmissão, desde sempre, tem mais audiência, o que faz com que a emissora prefira não perder tanto público no horário nobre, que vai até cerca de 22h.
Mas aí entra a grande questão. Nos EUA, o jogo do Brasil foi marcado para 20h07 (horário de Washington) para atender à exigência da ESPN, detentora dos direitos sobre a partida amistosa. Os sete minutos após as 20h foram propositais para a emissora fazer parte de sua entrega comercial antes do jogo.
O fato é que é impossível conceber o esporte atualmente sem a presença da televisão. Ela prolonga o alcance do evento, permite que mais receita seja gerada a partir da exibição mundial de uma competição e, também, mobiliza as pessoas em torno da disputa. Por isso mesmo, muitas vezes a TV manda mais do que obedece no relacionamento com as entidades esportivas. Basta lembrar que, na última edição dos Jogos Olímpicos, as competições da natação foram modificadas para atender às exigências da TV americana, que paga mais da metade dos US$ 2 bilhões em direitos de transmissão das Olimpíadas.
Por aqui, a força da TV aberta muda um pouco a relação. Isso, do ponto de vista do esporte, é ruim. Enfraquece ainda mais o lado da corda na disputa por espaço em horário nobre na telinha. Prova disso é o futebol, que não consegue mudar de forma alguma o horário imposto pela TV, especialmente nas noites de quarta-feira.
Para reflexão, sem qualquer conclusão a ser tirada. O esporte pode peitar a TV? Um jogo de futebol às 21h de quarta-feira ficou claramente provado que consegue ter mais audiência do que de costume. Mas, mesmo assim, ele não é suficiente para bater a programação regular da emissora. O cenário se complica ainda mais num país como o Brasil, que tem a Globo concentrando sempre mais da metade da audiência na televisão. A saída é o esporte se fortalecer para, a partir disso, conseguir debater uma alteração de horário para as emissoras. Enquanto não chegar a esse patamar, a balança sempre vai pender para quem tem mais dinheiro.