Seedorf, Forlán, Ronaldinho, Neymar… Será que agora vai?
Erich Beting
A euforia não poderia deixar de ser maior. O termômetro foi o ''Jornal Nacional'' do sábado, mostrando a festa das torcidas de Botafogo e Inter para as apresentações de Seedorf e Forlán em suas equipes, respectivamente. O comentário também é de que o Brasil finalmente passou a ter um dos melhores campeonatos de futebol do mundo. Mantém o talento de jovens como Neymar, Ganso e Lucas e ainda traz para o país algumas estrelas, entre elas o craque da Copa-2010.
Mas dá para confiar que, realmente, somos a bola da vez? É permitido imaginar que o futebol brasileiro terá um produto de alto nível para o seu público consumidor?
Sinceramente acredito que a euforia é muito maior do que a realidade. As contratações de Seedorf e Forlán representam nada além do que a realidade financeira do mundo. Os jogadores estão começando a vir para cá porque, no Brasil, paga-se melhor do que na Europa. Não só no futebol, mas em diversos setores da economia. Um time de porte médio/grande, como são Bota e Inter, pagam melhor do que os clubes de mesmo tamanho na Europa. Seedorf e Forlán dificilmente teriam o mesmo mercado, além das benesses pessoais que encontraram por aqui.
Mas o caminho para que o Campeonato Brasileiro seja de fato uma referência no mercado mundial ainda é muito difícil de ser percorrido. A começar pelo absurdo fato de não termos uma entidade que represente o interesse conjunto de nossos clubes. Como fazer um campeonato ser um produto se não há alguém que responda por ele? Com quem uma empresa precisa falar para poder comprar uma cota de patrocínio para todo o evento?
Isso impede, por exemplo, acordos de mídia para explorar a imagem do Campeonato Brasileiro para o exterior. Sem falar nas oportunidades perdidas pelo fato de a empresa simplesmente não ter a mínima vontade de negociar com 20 clubes separadamente para fechar um acordo único.
Outro fator importante e que está ligado a esse primeiro é para quem o futebol brasileiro é feito. Por conta dos acordos de transmissão, o Brasileirão é produzido para a TV. Não há preocupação em fazer jogos em horários decentes com a realidade do país e de forma a privilegiar o dia de jogo. A audiência televisiva tem mais importância do que a ida do torcedor ao estádio. Isso, por mais craque que você tenha dentro de campo, é um fator inibidor da presença de público e, consequentemente, do embelezamento de uma partida pelo fato de contar com um estádio lotado.
Além disso, continuamos a maltratar o torcedor que pretende ir a um jogo com estádios velhos, sem estrutura e, para piorar, com um preço abusivo no ingresso. Se formos comparar com o serviço que é oferecido ao torcedor, o tíquete médio do Campeonato Brasileiro deve ser um dos de pior custo-benefício do futebol mundial.
Como já disse aqui, contratações como as de Seedorf e, agora, Forlán, tem muito mais um apelo técnico do que de marketing. Ainda mais por diversas condições peculiares do futebol no Brasil. Enquanto não melhorarmos o produto futebol, não adianta ter os melhores jogadores. Os estádios continuarão sem preencher mais de 50 a 60% de sua capacidade, salvo raras exceções. Além disso, o público do exterior não vai aumentar o interesse no campeonato daqui por conta da falta de opções para assistir ao campeonato além do fuso horário brasileiro, aquele de interesse das emissoras de TV.
Temos uma oportunidade muito grande de fazer o futebol brasileiro se fortalecer como produto. Para isso, seria preciso montar um plano estratégico para o Campeonato Brasileiro para os próximos cinco anos. Só tem um ''detalhe''. Quem é a instituição que seria a responsável por montar esse plano junto com os clubes, aprovar com todos eles e colocar em prática?
Pois é… Dificilmente voltaremos a ter grandes nomes em atuação no Brasil no médio/longo prazo. Do jeito que a coisa está, a farra vai acabar tão logo a biruta da economia mude. Ou contra o país ou a favor dos grandes centros da Europa. A única chance de mudar isso seria o futebol abrir o olho para a necessidade de união entre os clubes.
Mas isso a ganância do dinheiro da TV do ano passado minou. Agora até vai. Mas, daqui a pouco, a maré vai levar os peixes graúdos para outro continente. E é bom já começar a olhar com carinho para a América do Norte…