O problema está na TV ou nos clubes?
Erich Beting
O esporte brasileiro só vai melhorar quando acabar o monopólio da Globo nas transmissões. Essa máxima é repetida sempre que vem à tona o debate ''divulgação do esporte pela mídia''. Mas será que realmente o problema está na TV ou em quem é o detentor desses direitos?
Sábado a tabela do Brasileirão reserva dois clássicos para o horário das 18h30, que é aquele programado para a transmissão da TV fechada da rodada da competição: Palmeiras x Santos e Fluminense x Vasco. Em São Paulo, o torcedor tem à disposição apenas o VT de São Paulo x Ponte Preta da semana passada para acompanhar na TV fechada (no Rio o torcedor ficou com o clássico paulista ao vivo).
Quem monta a tabela do campeonato é a CBF, e quem vende a transmissão para a TV são os clubes. Logo, são eles que têm condições para exigir da televisão exibir essa ou aquela partida. Mas qual é a preocupação que os clubes têm com a boa divulgação de seu produto?
Para o povo paulista, a alternativa para ver o clássico estadual é comprar o jogo no pay-per-view. A convidativos R$ 85 pela partida ou então R$ 40 de mensalidade. Logicamente os clubes são sócios da Globo na venda do PPV. Mas até nisso a visão é totalmente deturpada.
Na Europa e nos Estados Unidos, o esporte se apoia no PPV para exatamente ampliar os ganhos com transmissão, que já são altíssimos. Um jogo pela TV comprada não sai por mais do que US$ 30 dólares, e isso aqueles de maior demanda. A lógica é simples. Quanto mais gente comprar, maior será o meu faturamento.
Considerando que atualmente o Brasil tem cerca de 15 milhões de lares com TV a cabo, imagine o que seria mais eficiente. Achar alguns abnegados dispostos a pagar R$ 85 para ver uma mísera partida ou então ganhar no volume? Essa é uma lógica muito usada no mercado esportivo americano, em que os clubes exploram o consumo de massa em detrimento do produto para poucos.
Com o preço já abusivo da TV a cabo no Brasil, o PPV hoje, que já dá lucro para os clubes, poderia ser muito mais rentável para o futebol. Para isso acontecer, porém, não é preciso acabar com o monopólio da Globo, mas sim entender um pouco mais o potencial de geração de riqueza que existe na transmissão do futebol.
Um exemplo simples.
Quando os clubes assinam individualmente com a TV, perdem a condição de fazer um canal próprio de geração de imagens e faturar diretamente com a venda da transmissão pela internet. E isso para todo o mundo! Hoje, no Brasil, o torcedor fã da NFL, da NBA ou até do Campeonato Escocês de futebol pode comprar, por cerca de US$ 10 ao mês, um passe para assistir a todos os jogos do campeonato.
Definitivamente o problema do esporte no Brasil não é o monopólio da Globo, mas a falta de visão do esporte.
Afinal, na era da mídia fragmentada, os produtores de conteúdo não são as empresas de mídia, mas sim os detentores do bom conteúdo. E o esporte, nesse quesito, é um dos maiores produtores de conteúdo do ramo do entretenimento. Mas, é claro, é bem mais fácil jogar o problema na ''exigência do detentor dos direitos de transmissão''…