O resgate da imagem da seleção brasileira
Erich Beting
Não serão os oito gols sobre a China, ou as vaias no estádio do Morumbi, que vão servir para que a seleção brasileira tome seu rumo. O buraco da seleção é bem mais embaixo, e passa sobre Manos, Andrés, Marins e Teixeiras.
Ao longo de 30 anos o futebol brasileiro passa por um processo de internacionalização de sua marca. Primeiro foram os jogadores, depois alguns técnicos e, por fim, a própria seleção brasileira. Desde meados dos anos 80, quando o futebol na Europa começou a ser inundado pelo dinheiro da televisão de alcance global, que o Brasil virou o maior exportador de pé-de-obra.
Hoje, a realidade é uma distante relação entre o país e o time nacional. Nossos atletas, em sua maioria, estão lá fora. Os próprios jogos da equipe verde-amarela, por força contratual e por pressão dos clubes europeus, são mais na Europa do que na América do Sul. Para ''piorar'', o fato de sermos sede do Mundial de 2014 faz com que não exista nem ao menos as Eliminatórias para deixar nossos atletas mais próximos de ''casa''.
Até mesmo o conceito ''casa'' é tremendamente discutível para os jogadores da seleção. Há quase dez anos que Hulk não voltava para o Nordeste, da mesma forma que David Luiz, Daniel Alves, Ramires e tantos outros são muito mais cidadãos europeus do que propriamente brasileiros.
Tudo isso cria um sério problema de imagem para a nossa seleção. E aí entra o ''auxílio-Menezes'' nessa história toda. Um treinador extremamente ponderado, racional, que evita ao máximo a polêmica. Nem mesmo as vaias para o time e para ele são capazes de torná-lo agressivo, de responder para quem quer que seja.
Por mais ilógico que possa parecer, somos um povo que adora o ''vão ter de me engolir'' do Zagallo, ou a ''família Scolari'', ou o jeito Dunga e Leão de ação e reação para cada patada dada e tomada de volta. E o aparente ''nem aí'' de Mano irrita, deixa as coisas ainda mais ''nebulosas'', tal qual era com Parreira.
Aliás, Parreira e Lazzaroni que foram os primeiros nomes a provocarem essa ''fuga'' da seleção do Brasil. Nem tanto por vontade própria, mas por força da grana. Os dois foram, em 90 e 94, obrigados a buscarem no exterior nossas grandes estrelas. E o título mundial em 1994 ajudou a exportarmos ainda mais os nossos craques.
Hoje, o Brasil precisa, e muito, de um consultor. O problema não é técnico, nem gerencial. O que falta para a seleção é ser, realmente, brasileira. Um excelente trabalho de gestão de marca precisa ser feito. Precisamos reencontrar o caminho do coração do torcedor. E isso não é nenhum Galvão Bueno que nos enfiará a patriotada garganta a dentro.
Talvez o primeiro passo para a seleção voltar a ser nacional seja ela deixar de ser tão global. Em todos os aspectos.