Neymar escancara o problema vivido pelo vôlei no Brasil
Erich Beting
De que adianta o Santos continuar com Neymar em campo se cerca de metade do tempo ele não pode defender o clube porque está a serviço da seleção brasileira? A pergunta é cada vez mais frequente dado o segundo ano seguido em que o Santos enfrenta problemas no Campeonato Brasileiro pelo fato de o seu melhor jogador estar boa parte do tempo fora do clube defendendo o time nacional.
Outro dia, na ESPN, o comentarista Mauro Cezar Pereira levantou uma interessante discussão sobre o tema. Do jeito que é organizado o calendário brasileiro hoje, a melhor saída para o Santos é negociar Neymar. A lógica é muito boa. Como tem de defender a seleção brasileira, e o futebol aqui não para nas datas dos amistosos, o clube paulista é prejudicado. Além disso, todo o esforço feito para contar com o atacante no elenco inibe o investimento em outros atletas, o que faz com que o time caia de produção quando Neymar não está defendendo o Peixe.
Realmente, nesse cenário, a melhor saída para o Santos é fazer um bom caixa com a negociação de seu principal jogador. Pretendentes não faltam. Hoje, a presença de Neymar no time é mais um fardo do que um alento. O time depende muito dele, mas não pode contar com ele a maior parte do tempo.
Esse é exatamente o drama que o vôlei brasileiro vive, com suas devidas proporções. Esporte em que a seleção é privilegiada em detrimento do clube, o vôlei acaba fazendo com que a presença do atleta no time nacional se transforme num fardo para seu principal empregador. Os jogadores que defendem a seleção ficam, praticamente, meio ano defendendo a equipe do Brasil. A única e fundamental diferença é que, no vôlei, pelo menos o calendário local fica ''estacionado'' durante as competições internacionais. O problema, no caso, é que são muitos campeonatos de seleções, o que atrapalha, e muito, a relação do atleta com seu empregador.
O mesmo vôlei, porém, pode seguir de exemplo para o futebol. Com a necessidade de a CBF manter os torneios estaduais em seu calendário por força política, as datas que seriam reservadas para a seleção brasileira acabam atropeladas, e as competições locais não respeitam a pausa que seria necessária para isso.
Ou passamos a adotar um calendário que contemple tantas competições, ou a solução para os clubes no Brasil será, infelizmente, continuar a exportar o seu principal produto, que é o atleta. Pelo menos é a alternativa que atende melhor a necessidade de geração de receitas e manutenção de boa performance.