Até onde pode ir o fairplay financeiro da Uefa
Erich Beting
A Uefa tem tentado, de todas as formas, apertar o cerco contra os maus gestores dos clubes da Europa. A regra do ''fair play financeiro'', que entra em vigor a partir da temporada 2013-2014 é a forma atual de a entidade tentar controlar as finanças dos clubes de forma a manter o futebol num patamar aceitável de gestão.
Na última terça-feira, dia 11, a entidade máxima do futebol europeu divulgou que 23 clubes tiveram o pagamento da premiação referente à temporada passada suspenso por conta da falta de algumas informações financeiras que devem ser passadas à Uefa. Num comunicado, a entidade afirmou que os pagamentos serão retidos enquanto essas dúvidas não forem sanadas.
A atitude é louvável e pode significar, de fato, alguma mudança para o futebol na Europa. O problema, porém, é que ela atinge muito mais o clube médio do que propriamente aquele que é grande. E o motivo é simples. As falhas na gestão estão nas empresas menores do que nas grandes corporações. E é exatamente aí que mora o grande perigo para que as regras do fairplay funcionem.
O caso mais emblemático é o do Manchester City. Com os petrodólares de um investidor, o clube que já havia sido de médio porte ressurgiu das cinzas para ser o atual campeão inglês e candidato a protagonista nas competições europeias. Basicamente um Chelsea cerca de dez anos depois da entrada do bilionário russo Roman Abramovich no comando.
A crítica que clubes como Manchester United, Bayern de Munique, Real Madrid e Barcelona faz é exatamente contra a falta de competitividade que a entrada de grandes investidores gera para o futebol na Europa. A partir do momento que um clube passa a investir a fundo perdido na contratação de reforços, a concorrência fica desleal.
A Uefa tentou controlar a vontade de gastar do City, que achou a brecha legal para justificar tanto investimento: o patrocínio da Eithad Airways no estádio e na camisa do clube, em astronômicos 40 milhões de libras ao ano. Curiosamente a empresa é do irmão do dono do City…
O grande segredo para o sucesso das ligas esportivas americanas é manter o nível de competitividade lá no alto, deixando sempre imprevisível uma competição. Mas para isso funcionar, a liga tem um dono, que por sua vez é também o dono dos times e que, por fim, controla absolutamente todos os gastos realizados pelos donos dos clubes. Limite de gastos no pagamento de salário a atletas, processos inversos para a escolha de novos talentos (os mais fracos escolhem primeiro os atletas) e divisão igualitária das receitas da liga são algumas das atitudes que tentam fazer com que o equilíbrio técnico prevaleça antes do início de uma competição.
No futebol, esse sistema é bem mais difícil de ser implementado. E o motivo primordial é o fato de a Fifa não ser dona (ainda bem!) dos clubes. O fairplay financeiro da Uefa vai até o momento em que entra o livre mercado no futebol. As brechas legais para justificar a presença de grandes investidores sempre vão existir.
O único alento é que, pelo andar da carruagem, a primeira preocupação da Uefa nem é tanto com os tubarões dessa história, mas sim em melhorar o nível gerencial dos clubes de pequeno e médio porte. É um primeiro passo, mas sem dúvida ele é bem pequeno.