A TV tem “matado” a ida das pessoas aos eventos esportivos
Erich Beting
O alerta foi dado recentemente pelo vice-presidente de novos negócios da NFL, Eric Grubman. Segundo ele, a queda de público presente nos estádios da liga de futebol americano tem, entre outros motivos, a melhoria da transmissão pela TV. A lógica, segundo o executivo, é a de que há tantos recursos hoje para quem está em casa assistindo a uma partida que a experiência de ver o jogo ao vivo pela telinha é melhor do que aquela de quem vai ao estádio.
O raciocínio é interessante e levanta um alerta para o esporte em geral.
Com a melhoria da qualidade das imagens, com o uso de dezenas de câmeras e com o barateamento do acesso à alta tecnologia, a televisão, que é uma das principais fontes de financiamento da atividade esportiva profissional, também tem sido responsável, em parte, pela fuga do torcedor do local do evento.
No mercado americano, em que a NFL, por exemplo, tem também transmissão de jogos em 3D, acaba sendo mais barato e de maior qualidade para o torcedor assistir a um jogo em sua casa. Num momento de crise como agora, então, é ainda mais lógico para o consumidor dos EUA ficar confortável na sala de casa equipada com home theater e uma TV LED com 3D. Isso sem falar do aconchego do sofá, da pipoca, da cerveja e do que mais quiser no colo.
No Brasil castigado pela falta de infraestrutura de transporte e também de esporte, a diferença é ainda mais gritante. E isso que ainda não entramos na era em que as transmissões sejam todas em HD e com o pay-per-view acessível a todos. Além disso, ao contrário do mercado americano, a abundância de renda em solo tupiniquim faz com que o torcedor não veja tanto problema em gastar mais dinheiro indo ao estádio.
Só que, nos EUA, o esporte já começa a se mobilizar para fazer com que o torcedor seja ''incentivado'' a ir para o estádio. Promoções com desconto em lojas para a aquisição de produtos, instalação de rede wifi gratuita em toda a arena, aluguel de TV portátil e outros ''mimos'' têm sido cada vez mais frequentes nos estádios e ginásios das principais ligas esportivas dos EUA.
Por aqui, ainda está muito distante esse debate.
Mas com um mercado cada vez mais dependente do dinheiro da televisão, é cada vez mais assustador o futuro dos eventos esportivos. Pode ser que a melhoria das arenas esportivas por conta de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, associada à manutenção da renda em alta do brasileiro, ajude a mantermos os estádios e ginásios cheios. Mas teremos de caminhar, muito, no sentido de entender a importância de fazer da experiência de ir a um evento esportivo um momento de diversão, e não de aventura para o consumidor.
Não há lógica que faça, hoje, o torcedor deixar o conforto e a qualidade da TV para ir a um evento esportivo ao vivo.