O egoísmo do rebaixamento
Erich Beting
A paixão turva qualquer análise crítica do torcedor. Mas a verdade é que, no fundo, o medo que existe pelo rebaixamento de um clube à Segunda Divisão não deixa de ser um sentimento egoísta.
Bom, para quem chegou até aqui (poupando ou não os elogios a minha querida mãe), vamos tentar explicar a lógica desse raciocínio. Uso aqui o caso palmeirense porque é aquele mais próximo à realidade do blogueiro, mas que também se aplica a torcedores de Atlético Goianiense, Figueirense e Sport.
A iminente queda do Palmeiras à Série B em 2013 é fruto de gozação de torcedores rivais e de desespero do apaixonado palestrino. A humilhação de num período de dez anos ver o time pela segunda vez ser rebaixado é, de fato, motivo para o palmeirense querer me matar quando digo que esse é um sentimento de egoísmo dele.
Afinal, qual o mérito que tem o Palmeiras para permanecer na Série A? Talvez o melhor caminho que exista para o clube seja voltar para a Segunda Divisão e, finalmente, repensar o seu modelo de gerenciamento. Como já expus aqui no blog quando o Palmeiras ganhou a Copa Kia do Brasil, não existia mérito na conquista do ponto de vista gerencial. Ela era, exclusivamente, do treinador e dos atletas.
Agora, porém, o descenso cada vez mais próximo expõe de maneira clara um clube absolutamente despreparado fora de campo, o que cada vez mais interfere no resultado dentro dele. O Palmeiras de hoje lembra, e muito, o Corinthians de 2007, ou o Vasco de 2008. Uma baderna política no interior do clube, e o reflexo disso dentro de campo.
Será que para o torcedor palmeirense é melhor ver o time na Série A em 2013, mas com os mesmos problemas estruturais dentro do clube, ou então sofrer um novo baque com o rebaixamento para repensar o modelo de gestão e preparar uma volta para a Primeira Divisão bem estruturada, de forma a não tirar mais o Palmeiras da lista de protagonistas do futebol brasileiro?
Um dos fatores que mais atrapalha a instauração de um modelo sustentável de gestão dentro do futebol é o fato de que, por pior que seja o gerenciamento de um clube, dinheiro sempre entra no caixa. A grande diferença, de uns tempos para cá no mercado brasileiro, é que só dinheiro não é mais suficiente para fazer um time ser campeão. Ele precisa estar minimamente organizado fora de campo para trazer resultados.
Sendo assim, talvez seja melhor para o palmeirense aguentar um ano de sofrimento dos torcedores rivais do que ficar mais dez anos capengando como o campeão do século passado perdido dentro desse rótulo. Do contrário, será mero egoísmo do torcedor não querer ver seu time na Série B em 2013.