A perigosa ideia de privatização do Maracanã
Erich Beting
O governo do Rio de Janeiro divulgou nesta segunda-feira alguns detalhes do edital para a privatização do estádio do Maracanã. E, ao que tudo indica, em tese aqu
ela que tem tudo para ser uma das principais arenas do futebol brasileiro corre o risco de se tornar uma espécie de pesadelo para quem vier a ser o ''dono'' do Maracanã pelos próximos 35 anos.
O maior problema é no que se refere à concessão do estádio. Pelo edital, nenhum clube poderá se candidatar para assumir a gestão do Maracanã. Nas palavras do secretário da Casa Civil do Estado, Regis Fitchner, ao UOL: ''Não queremos que o Maracanã seja de um clube A ou clube B. Não faz sentido que um clube tenha exclusividade sobre um estádio que é um templo do futebol''. (a matéria completa pode ser lida aqui).
O pensamento de Fitchner é exatamente o início da sentença para que o templo do futebol transforme-se num lindo elefante branco no médio prazo. Ao vetar a participação de clubes na gestão do novo estádio, o governo do Rio pede para que o principal cliente do Maracanã passe a buscar uma alternativa mais rentável depois de certo tempo.
O fenômeno aconteceu na Alemanha cerca de cinco anos depois da Copa do Mundo e provocou, desde o lançamento da Amsterdam Arena, em 1996, um boom de construção de estádios pela Europa.
No caso da Alemanha, os clubes que tiveram estádios reformados por conta do Mundial passaram, com o tempo, a ter uma receita mais significativa vinda dos dias de jogos. Esse é o reflexo mais imediato da construção de novas arenas. O estádio passa a ser mais eficiente para levar o torcedor aos jogos. Consequentemente, esse torcedor passa a consumir mais e, no fim das contas, a gerar mais grana para o dono do estádio. Com isso, os times têm promovido reformas em suas arenas no futebol alemão.
Não é difícil de se prever que, pelos próximos 20 anos, o mercado de futebol no Brasil partirá para uma melhoria de infraestrutura provocada pela melhoria a partir da Copa do Mundo. Para equiparar-se aos concorrentes, os clubes vão começar a buscar estádios próprios e caminhos mais eficientes para a geração de receitas.
Ao vetar que o Maracanã tenha um único dono, o governo do Rio não resolve o problema de Flamengo e Fluminense, hoje os dois times que não possuem estádio na cidade. Eles terão de continuar a viver do aluguel para faturar. Naturalmente o Vasco deve, com o passar dos anos, reformar São Januário, aumentando a receita com o local. O Botafogo, apesar de todos os problemas estruturais do Engenhão, continuará a trabalhar para que seu estádio torne a experiência do torcedor melhor e, consequentemente, mais lucrativa para ele.
No fim das contas, o Maracanã pode se tornar o novo Wembley. O estádio da Federação Inglesa de futebol é o maior mico que existe. Lindo, moderno, multiuso, mas sem um dono fixo, que use o local pelo menos duas vezes por mês. Wembley, ainda hoje, é uma arena deficitária. Um dos maiores motivos para isso é o fato de que nenhum clube inglês é dono do local, reservado apenas para os jogos da seleção da Inglaterra.
Naturalmente Flamengo e Fluminense serão potenciais clientes do Maracanã. O problema é que, com a ideia de privatização que foi dada pelo governo do Rio, eles continuarão a viver do aluguel do espaço. E, num cenário de novo dono para o estádio, o aluguel será bem mais caro do que era na época da Suderj.
É possível prevermos, em 2020, o noticiário falando sobre a decisão de que o Maracanã passará a ser gerenciado por um clube de futebol. Ou, então, noticiarmos as construções das novas arenas de Flamengo e de Fluminense, menores que o Maracanã e muito mais adaptadas à realidade dos dois clubes. Tem sido assim no mundo todo.
Chega uma hora em que todo mundo se enche de viver de aluguel…