A ética e o esporte
Erich Beting
Uma das grandes lições que o esporte deixa nas pessoas é a ética.
(por favor, corneteiros, prestem bastante atenção na frase a seguir)
Se ensinado de forma correta, o esporte pode formar na pessoa, desde criança, conceitos fundamentais de que é preciso ser honesto e de que, nem sempre, você sairá vitorioso na vida. Esse é um atributo presente no esporte desde o princípio mas que, ultimamente, vem sendo pessimamente trabalhado pelo que deve ser o exemplo para os outros, que é o esporte de alto rendimento, profissional.
A queda da máscara de Lance Armstrong, que sempre foi um bastião da moralidade e limpeza no ciclismo, mas que se revelou tão ou mais fraudulento que os outros competidores, é um exemplo claro disso. Fazer o que todos fazem não torna menos criminoso o ato de Armstrong.
Agora, o absurdo que se apresenta é a tentativa desesperada do Palmeiras de anular uma partida por causa da tomada de decisão do árbitro auxiliada pela televisão. Sim, é contra a regra, mas o clube alega que o árbitro não pode invalidar um gol pela TV. O detalhe é que ele não havia percebido que a bola havia entrado com a mão!
Imagine explicar para uma criança de cinco anos de idade, que já entende minimamente a dinâmica do jogo, que é errado o árbitro punir o clube que, deliberadamente, o enganou e que, dessa forma, levaria vantagem de forma ilegal. Fica difícil até de explicar, mas podemos resumir tudo pela questão da ética.
Hoje a sociedade é tomada pelo conceito de que os fins justificam os meios. É o exemplo político de que não interessa com quem eu faço a aliança, desde que eu vença as eleições.
É o tal de ''temos de ganhar, nem que seja de forma honesta'', partindo do princípio de que ser desonesto já é algo corriqueiro.
O esporte tem como grande virtude ser um formador de caráter nas pessoas. O esporte de alto rendimento é o ponto mais alto disso tudo, sendo ele a síntese do que deve ser a vida das pessoas. Um jogo, em que os mais bem preparados vencem, e não os trapaceiros. A veneração à ''malandragem'' do jogador brasileiro é o que há de mais absurdo dentro do que queremos ensinar como conceito para as gerações futuras.
Quando um clube cogita prejudicar o outro porque sentiu-se prejudicado por conta de uma trapaça que fez e não foi bem-sucedido, temos a síntese de que ética é uma palavra que não consta no vocabulário do esporte. Ou, pelo menos, está colocada num segundo plano. Felizmente alguns bons exemplos ainda perduram. Como o de Marcos, ex-goleiro do Palmeiras e que após o jogo desabafou em seu perfil no Facebook:
''Na minha opinião, não precisamos que anule o jogo, afinal o gol foi de mão. Numa época de tanta luta para que a justiça seja feita no Brasil, nós (todos) do futebol brasileiro temos que dar exemplo, se for para acontecer o pior, que seja com dignidade''.
Por isso mesmo é que Marcos consegue ser um ídolo que ultrapassa a marca de um clube. O tal do jogo limpo não pode ser a exceção do esporte, da política, da educação, de tudo. E o esporte tem um enorme potencial para trazer esse exemplo para as pessoas. E isso pode ser benéfico até para as empresas que resolverem encampar essa ideia.