O “grande” negócio dos clubes com o contrato de TV
Erich Beting
Um dos grandes argumentos usados pelos clubes brasileiros quando assinaram o contrato individual de televisão com a Globo foi o valor recorde alcançado na negociação. Mesmo que os números não sejam divulgados, os clubes praticamente triplicaram o que recebiam da TV no contrato anterior.
Já falei longamente aqui no blog sobre a visão apequenada da negociação individual dos clubes com a TV e, também, de como o mercado de televisão está em mutação no Brasil. Os valores maiores a cada um dos clubes significa, também, disparidades maiores no que um recebe e no que outro recebe. Flamengo e Corinthians, por exemplo, hoje recebem 66% a mais do que o Coritiba da TV. Antes, a diferença era de 50%.
Agora, com os clubes renovando esse vínculo com a Globo até 2018, o problema mostra-se ainda maior. Não apenas pela possibilidade que temos de aumentar o abismo entre os clubes, mas pela visão tacanha sobre o mercado de televisão no Brasil que é demonstrada pelos dirigentes do esporte.
No último dia 24 de outubro, a Anatel publicou o levantamento sobre o número de assinantes da TV paga no país. Setembro registrou um aumento de 1,84% nas assinaturas em relação a agosto e, na comparação anual, tivemos 29,5% de aumento no número de assinantes da TV paga.
Num Brasil que vive a era do pleno emprego e da queda nos preços de produtos tecnológicos e mídia digital, o mercado de TV paga e internet são os que sofrem maior alteração. E isso traz impacto direto, também, na TV aberta. Só para se ter uma ideia, em 2007 eram 5,3 milhões de domicílios com TV paga no Brasil. Hoje, são 15 milhões.
O quanto valorizou o contrato de TV fechada para os clubes? De que forma eles enxergam o futuro das transmissões? A internet não seria uma forma de rentabilizar ainda mais o negócio dos direitos de transmissão, com a venda de pay-per-view para o mundo todo? Essas são apenas algumas questões que vêm à tona numa análise superficial dos números do mercado de televisão no Brasil.
Mas em busca do dinheiro de curto prazo, os clubes comprometem sua receita, sem variação, pelos próximos seis anos. Caso o mercado de TV fechada cresça na proporção que foi desde 2007, teremos pelo menos mais 10 milhões de lares (ou 33 milhões de pessoas, nas contas da Anatel) equipados com TV a cabo.
Isso tudo terá um impacto enorme na forma como as pessoas consomem a mídia, seja ela a TV aberta (cada vez com menor audiência), a fechada (crescendo bastante) ou a internet (o meio em maior expansão). Isso sem falar no impacto que a Copa de 2014 trará para o mercado de consumo de evento ao vivo a partir da melhoria dos estádios.
Talvez somente daqui a três anos os clubes comecem a perceber o ''grande'' negócio que fizeram com o contrato de TV. E, aí, talvez seja tarde demais para voltarmos ao óbvio…