A simbologia do fim do estádio Olímpico
Erich Beting
O futebol brasileiro começa, gradativamente, a colocar um fim na era paleozoica de relacionamento com o torcedor.
Um dos símbolos disso aconteceu neste domingo, com a partida derradeira do estádio Olímpico do Grêmio. Para preservar a história, coube a um Gre-Nal dar fim a um estádio que marcou a vida centenário do gremista. E, para celebrar o futuro, caberá ao torcedor tricolor dar a mesma vida pulsante a sua nova arena.
Sem qualquer melancolia, o Olímpico virá abaixo para dar lugar a um estádio muito mais eficiente, sob todos os aspectos, ao Grêmio e, principalmente, ao torcedor gremista. É importante celebrarmos a história, mas muito mais necessário para a sobrevivência é planejar o futuro.
O velho Olímpico deixa para trás uma era em que o centro de tudo num clube de futebol era a instituição, e não a massa de torcedores que a movimenta.
Um novo estádio simboliza um novo modo de encarar o torcedor, colocado como a prioridade de um clube tal qual uma empresa faz com o seu consumidor. Para existir a Coca-Cola, é preciso existir um comprador do produto. Para um time de futebol existir, é preciso que haja um torcedor. E é pensando nele que os estádios começam a ser reformados e melhorados em todo o Brasil.
Cadeiras numeradas, facilidades no acesso, restaurantes e lojas. Tudo isso é visto como ''frescura'' pelo torcedor apaixonado. Para ele, a prova do amor incondicional é sentar no cimento, tomar sol e chuva, viver uma aventura para chegar e sair do estádio, sofrer com falta de segurança e de conforto.
O problema é que, num país com a economia em crescimento (mesmo que seja abaixo do esperado), com mais opções de entretenimento e lazer para toda a família e com um aumento na demanda por conforto por partedo consumidor, um estádio de futebol ultrapassado começa a deixar cada vez mais o torcedor longe das praças esportivas. É muito mais interessante passar uma tarde no shopping com a família do que tentar levar todos a um jogo de futebol, por mais apaixonante que seja esse programa.
Sim, os ingressos também ficarão um pouco mais caros, mas convenhamos que é preferível pagar R$ 50 para ter confortos que hoje não são proporcionados num estádio com ingresso mínimo de R$ 30. A mesma gritaria que hoje ocupa o futebol também se fez presente na indústria do cinema quando as salas enormes foram dando lugar a espaços para até mil pessoas, som estéreo, tela de alta definição, filmagem digital, etc. Isso não era uma ''sala de verdade'', não era algo compatível com o cinéfilo tradicional. Hoje, as bilheterias rendem bilhões aos estúdios, e o interesse do público em geral pelo cinema aumentou. O cinéfilo, tal qual o torcedor apaixonado, continuam a frequentar as salas. Dessa vez, maravilhado com os recursos e os confortos oferecidos.
O fim do estádio Olímpico simboliza o início de uma nova era para o torcedor de futebol no Brasil.
Torcer não será mais uma religião, mas sim uma ótima opção.