Negócios do Esporte

Só o marketing não resolve

Erich Beting

Palmeiras e Flamengo vivem situações muito parecidas nos bastidores dos clubes. No Fla, com a eleição para a presidência já realizada, Patrícia Amorim perdeu o rumo e o posto. No Palmeiras, até o fim do mês de janeiro Arnaldo Tirone deve tomar a mesma nau sem rumo de sua ex-colega de Rubro Negro.

Curiosamente, porém, os dois clubes sofrem com uma visão tosca da função do departamento de marketing do clube. Tanto no Rio quanto em São Paulo, os dois presidentes foram duramente criticados por não conseguir fazer o que o Corinthians fez nos últimos cinco anos, transformando o departamento numa das grandes molas propulsoras do clube.

Só que apenas o marketing não resolve a situação tanto de Palmeiras quanto de Flamengo.

Hoje o UOL destaca uma entrevista com Rodrigo Geammal, novo executivo de marketing do clube paulista (leia aqui). Nela, Geammal, que vem do mercado corporativo, bate na tecla de que o departamento precisa ser profissionalizado, precisa ser integrado às demais áreas do clube. Ontem, na entrevista pós-eleição, Eduardo Bandeira de Mello, novo presidente do Flamengo, dizia que já em janeiro o Rubro-Negro terá patrocinadores na camisa, algo que penou, e muito, para tentar conseguir nos últimos dois anos.

Nas duas situações, porém, o sucesso da empreitada não depende apenas do departamento de marketing.

Valendo-se do exemplo corintiano, o marketing do clube só conseguiu se sobressair quando o financeiro renegociou todas as dívidas, deu fôlego ao fluxo de caixa ao clube e permitiu que houvesse um cenário positivo para o Corinthians buscar novos parceiros comerciais. Endividados e, pior, sem as dívidas equacionadas, Palmeiras e Fla sofrem ainda com o vazamento de toda e qualquer negociação e uma enorme pressão de conselheiros, que não têm qualquer compromisso com a gestão do clube, por fazer contratos mais valiosos.

O departamento de marketing dentro de qualquer instituição é um importante meio de busca por dinheiro e relacionamento com o torcedor. Nos clubes de futebol, a pressão exercida por pessoas que não estão no dia-a-dia do gerenciamento do clube só atrapalha nessas negociações. Em clubes que não são de futebol, o pouco caso que é feito com a importância do marketing para se relacionar com o torcedor é uma das maiores causas para as equipes serem extintas tão logo o patrocinador principal desista do projeto.

Só o marketing não é suficiente para levantar gigantes adormecidos como Palmeiras e Flamengo.

Antes dele vem a necessidade de repensar a forma como os clubes são gerenciados, especialmente a interferência de pessoas que não têm noção de mercado e, mais ainda, comprometimento com a gestão do dia-a-dia. Resolvido esse primeiro e enorme problema, o maior gargalo hoje é a situação financeira da instituição. Estar endividado não é problema, desde que essa dívida esteja equacionada e com um plano de pagamento que comporte o fluxo de caixa. Só a partir daí que o marketing tem tranquilidade para trabalhar e, mais importante, mostrar resultado.