Negócios do Esporte

Guia prático para ler uma pesquisa sobre tamanho de torcida

Erich Beting

Bom, se alguém quiser registrar, já fui mais rápido. De qualquer forma, esse seria um bom título para um livro que abordasse a paixão que o ser humano em geral tem sobre pesquisas e seus resultados. Quando o tema é eleições para cargos eletivos ou tamanho de torcidas de times de futebol, então, aí é uma saraivada de bobagens para desmoralizar os números explicitados com exemplos muito bem embasados de vida pessoal.

Já faz quase um mês que saiu a pesquisa do Datafolha apontando empate técnico entre Corinthians e Flamengo no ranking de maiores torcidas do país. Na época não me manifestei porque daria a mesma opinião de quando saem essas pesquisas. Para mim, a validade delas vai até a obrigatória segunda pergunta. Você consumiu qualquer coisa relativa a seu time nos últimos seis meses?

Provavelmente a resposta seria não para a esmagadora maioria das pessoas. E isso não é presunção do blogueiro, mas estatística. Em qualquer segmento, a proporção de fanáticos é ínfima, não chega a 10% de todo o universo de pessoas. Na verdade, raramente passa de 2 a 5% do total. A quantidade de pessoas fanáticas pela Apple não chega a 2% da população mundial. Mas as filas que vemos se formar em frente às lojas para comprar um novo aparelho nos dão a impressão de que só há o Iphone no mundo. E, claro, só porque nós temos um celular desses, achamos absurdo alguém pensar em consumir um smartphone de outra marca ou, o que é mais comum, não ter sequer um telefone celular.

E esse é o ponto inicial do nosso ''Guia Prático''.

Geralmente quem lê e comenta sobre as pesquisas é a pequena parcela de fanático que existe sobre aquele assunto. Sendo assim, ele precisaria entender que o ''torcedor'' em questão não é aquele cara que compra camisa do time, que assina pay-per-view ou que vai ao estádio. Pelo contrário. É o cara que torce só se for um programa legal de se ver, de curtir com os amigos, com o/a namorado/a, etc.

Partindo desse princípio, temos de seguir para o passo seguinte. O resultado da pesquisa, portanto, vai oscilar conforme o desempenho do time. Mas, como no caso do Brasil há um fator primordial, que é a transmissão da TV aberta, o resultado não vai fugir do básico: Flamengo e Corinthians serão as maiores torcidas, enquanto Palmeiras, São Paulo e Vasco vão oscilar na segunda posição, dependendo do desempenho de seus times. Fluminense e Santos, pelas conquistas recentes, poderão aparecer um pouco melhor num ou noutro ano.

Por isso mesmo, as pesquisas que são divulgadas amplamente no país sobre ''tamanho de torcida'' servem apenas para jogar conversa fora em bar, ou nas mesas-redondas que infestam os canais esportivos. Afinal, elas não dizem quase nada sobre o perfil do consumidor de um clube de futebol. O máximo que podemos ter é uma ou outra informação sobre a distribuição geográfica desses torcedores e também distinção por gênero e classe social.

Um dos mais importantes saltos que o esporte precisa dar no Brasil é com relação à busca de dados qualitativos sobre seu consumidor. Quem são, onde estão e o que fazem os consumidores do esporte no país? Há pelo menos seis anos essa pesquisa é feita anualmente pela empresa Sport Track. Os resultados são bem interessantes, e mostram que há muito mais vida inteligente do que apenas responder à pergunta: ''Para qual time você torce''?

Mas, se a proposta for apenas ter mais assunto para a conversa no bar, então use esse guia prático que ele vai te ajudar bastante a repensar os números apresentados por essas pesquisas. Eles não estão distantes da realidade do país.

Na verdade, você – e seus amigos – é que são o ponto fora da curva…